A partir de 1º de abril, a agência estatal russa de exportação de armas Rosoboronexport participará da exposição de defesa e aviação LAAD 2025 no Rio de Janeiro, Brasil, apresentando uma variedade de equipamentos militares avançados.
Por Boyko Nikolov | Bulgarian Military
Entre os equipamentos em exibição estarão o caça Su-57 de quinta geração, vários helicópteros, o tanque de batalha principal T-90MS, o veículo de apoio ao tanque BMPT, o sistema de defesa aérea S-400, os sistemas de defesa aérea portáteis Igla e embarcações navais como o navio-patrulha do Projeto 22160.
![]() |
Su-57 Felon | UAC |
O evento, um dos principais encontros de tecnologia de defesa da América Latina, fornece uma plataforma para a Rosoboronexport não apenas exibir suas últimas ofertas, mas também explorar possíveis parcerias industriais na região. A agência sinalizou interesse em expandir sua presença na América Latina, levantando questões sobre a viabilidade e as implicações de tais ambições.
A Rosoboronexport, uma subsidiária da Rostec State Corporation, tem uma história bem estabelecida como o único intermediário da Rússia para a exportação e importação de produtos militares e de uso duplo. Sua presença na LAAD 2025 ressalta uma estratégia mais ampla para aprofundar os laços com as nações latino-americanas, uma região onde o equipamento militar russo encontrou uma posição nas últimas décadas.
O Su-57, um caça furtivo projetado para competir com seus equivalentes americanos como o F-35, provavelmente atrairá atenção significativa, assim como o S-400, um sistema de defesa aérea de longo alcance que tem sido a pedra angular do catálogo de exportação da Rússia.
O T-90MS, uma versão atualizada do tanque T-90 testado em batalha, e o BMPT, conhecido como Terminator por seu papel no apoio a unidades blindadas, refletem a ênfase da Rússia na tecnologia das forças terrestres. Enquanto isso, a inclusão de ativos navais como o navio do Projeto 22160 destaca um esforço para atrair países com necessidades de segurança marítima.
A participação da agência ocorre em um momento em que a América Latina é cada vez mais vista como um mercado viável para exportações de defesa. De acordo com um comunicado da Rosoboronexport divulgado pela agência de notícias russa TASS, a empresa está preparada para discutir "novos projetos de cooperação industrial" adaptados às tendências modernas do mercado.
Isso alimentou especulações sobre a possibilidade de estabelecer instalações de produção na região, uma medida que poderia mudar a dinâmica do comércio global de armas. Embora nenhum acordo concreto tenha sido confirmado publicamente, a ideia se alinha com os esforços anteriores da Rússia para localizar a produção em países parceiros, uma estratégia que reduz custos e fortalece os laços bilaterais.
Historicamente, a Rússia manteve cooperação técnico-militar com várias nações latino-americanas. O Brasil, anfitrião da LAAD 2025, é parceiro desde 1994, quando assinou contrato para o Igla MANPADS, sistemas portáteis de defesa aérea projetados para combater aeronaves voando baixo.
Um marco mais significativo veio em 2008 com um acordo intergovernamental que abriu caminho para a entrega de helicópteros Mi-35M, completos com um centro de serviços no Brasil para manutenção.
"Temos um enorme potencial para aumentar ainda mais a cooperação com o Brasil", Sergey Ladygin, vice-diretor geral da ROE, disse durante um evento anterior da LAAD em 2015, conforme citado no site oficial da empresa. Esse sentimento parece persistir, com a agência agora de olho em uma colaboração industrial mais ampla.
Além do Brasil, países como Venezuela e Peru também foram clientes. A Venezuela, em particular, adquiriu hardware russo substancial, incluindo tanques T-72 e sistemas de defesa aérea S-300, em meio ao seu estreito alinhamento com Moscou. O Peru, por sua vez, opera uma frota de helicópteros Mi-8 e Mi-17, uma prova da durabilidade dos projetos da era soviética que a Rússia continua a modernizar.
Essas relações fornecem uma base para as ambições da Rosoboronexport, mas a perspectiva de produção local introduz uma nova camada de complexidade. O estabelecimento de locais de fabricação exigiria investimentos significativos, alinhamento político e um ambiente econômico estável – fatores que variam amplamente em toda a região.
A noção de produzir armas na América Latina não é sem precedentes. A Rosoboronexport buscou iniciativas semelhantes em outros lugares, principalmente na Índia, onde colaborou em projetos como o sistema de mísseis BrahMos, uma joint venture com a Organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa da Índia.
Em uma declaração de fevereiro de 2025 relatada pela TASS, o CEO da agência, Alexander Mikheev, observou que contratos no valor de US$ 50 bilhões foram assinados com a Índia desde 2005, com a Rússia mantendo uma participação de 30% no mercado de armas indiano.
Esse modelo de coprodução pode servir como um modelo para a América Latina, embora os orçamentos de defesa menores da região e o cenário político diversificado apresentem desafios únicos.
Os analistas veem oportunidades e obstáculos nessa abordagem. "A América Latina tem uma necessidade crescente de sistemas de defesa modernos, mas a questão é se os países podem pagar a infraestrutura para a produção", disse Maria González, especialista em indústria de defesa do Centro de Estudos Estratégicos, com sede em Washington.
Ela apontou o setor aeroespacial do Brasil, liderado por empresas como a Embraer, como um potencial parceiro para as transferências de tecnologia russas, mas alertou que as restrições econômicas e a influência dos EUA na região podem complicar esses negócios.
Os Estados Unidos, um player dominante no mercado de armas do Hemisfério Ocidental, fornecem equipamentos como helicópteros Black Hawk e jatos F-16 para países como Colômbia e Chile, muitas vezes vinculando as vendas a parcerias de segurança mais amplas.
Na LAAD 2025, o hardware em exibição oferecerá um vislumbre das capacidades tecnológicas da Rússia. O Su-57, com seus aviônicos avançados e recursos furtivos, está posicionado como rival do F-35, embora sua produção tenha sido limitada em comparação com sua contraparte americana.
A Lockheed Martin, fabricante do F-35, relatou a entrega de mais de 900 unidades até o início de 2025, de acordo com dados da empresa, enquanto estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo sugerem que menos de 30 Su-57 estão operacionais.
O S-400, por sua vez, possui um alcance de até 400 quilômetros e foi implantado em conflitos como o da Síria, ganhando elogios por sua eficácia, mas também atraindo escrutínio por seu alto custo e demandas de manutenção.
O T-90MS, uma evolução da série T-90, incorpora sistemas aprimorados de blindagem e controle de fogo, tornando-o um concorrente contra tanques ocidentais como o M1 Abrams, que os EUA exportaram para aliados no Oriente Médio e na Europa Oriental.
O BMPT, projetado para proteger tanques em combate urbano, preenche um papel de nicho que poucos concorrentes abordam diretamente, embora sua utilidade dependa das necessidades específicas da doutrina militar de um comprador. O Igla MANPADS, um sistema leve e acionado no ombro, oferece uma alternativa econômica a sistemas como o Stinger fabricado nos EUA, que ganhou destaque durante o conflito na Ucrânia.
Finalmente, o navio-patrulha do Projeto 22160, com seu design modular e capacidade para drones, tem como alvo as marinhas que buscam embarcações versáteis e de médio porte - uma categoria em que compete com ofertas de construtores navais europeus como o Naval Group da França.
O impulso da Rosoboronexport na América Latina também carrega conotações geopolíticas. As exportações militares da Rússia muitas vezes servem como uma ferramenta de diplomacia, combatendo a influência ocidental em regiões onde os EUA dominam. "Trata-se tanto de política quanto de economia", disse James Carter, ex-funcionário do Pentágono agora no Atlantic Council.
Ele observou que, embora as vendas de armas da Rússia para a América Latina tenham totalizado US$ 2,5 bilhões em 2020, de acordo com os próprios números da Rosoboronexport, o mercado continua sendo uma fração do total global, onde os EUA lideraram com US$ 138 bilhões em exportações naquele ano, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA. Ainda assim, mesmo ganhos modestos podem reforçar a presença regional da Rússia.
Para os países latino-americanos, o apelo do equipamento russo está em sua acessibilidade e confiabilidade. O helicóptero Mi-171Sh, por exemplo, é um cavalo de batalha adequado para o terreno acidentado dos Andes ou da Amazônia, onde as alternativas americanas podem vir com preços mais altos ou restrições mais rígidas de uso final.
No entanto, qualquer movimento em direção à produção exigiria mais do que apenas o interesse do comprador. "Você precisa de mão de obra qualificada, cadeias de suprimentos e vontade política" Gonzalez explicou. "O Brasil pode ter a capacidade, mas nações menores como Bolívia ou Equador teriam dificuldades."
A exposição no Rio de Janeiro também servirá como um campo de testes para as mensagens da Rosoboronexport. A agência enfatizou que seus sistemas exibidos, incluindo o Su-57 e o S-400, foram "atualizados de acordo com o feedback dos militares" envolvidos nas operações em andamento da Rússia, uma referência ao conflito na Ucrânia, conforme relatado pela TASS.
Essa marca testada em combate pode ressoar com potenciais compradores, embora corra o risco de alienar outros cautelosos em se associar a Moscou em meio a sanções internacionais.
À medida que a LAAD 2025 se desenrola, o foco se estenderá além do hardware para as discussões realizadas à margem. A delegação da Rosoboronexport deve se reunir com representantes do Brasil e de outros atores regionais, explorando caminhos para a cooperação.
Ainda não se sabe se essas negociações produzem resultados tangíveis, mas o portfólio de pedidos da agência – avaliado em US$ 57 bilhões em 44 países no final de 2024, de acordo com as declarações de Mikheev – sugere que ela tem recursos para perseguir metas ambiciosas.
Por enquanto, o evento marca um passo calculado na tentativa da Rússia de expandir sua influência na América Latina, um sistema de armas de cada vez. Os próximos meses revelarão se essa vitrine se traduz em contratos, fábricas ou simplesmente em uma voz mais alta em um mercado lotado.
Tags
9K38 Igla SA-16 Gimlet
América Latina e Caribe
BMPT Terminator
Brasil
EUA
Mil Mi-35
Peru
Project 22160
Rússia
S-400 Triumph SA-21 Growler
Su-57 Felon
T-90 Proryv
Venezuela