O presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, anunciou a adoção de seu plano de reconstrução de Gaza pelos chefes de Estado reunidos no Cairo na cúpula extraordinária da Liga Árabe nesta terça-feira (4). O objetivo do encontro foi responder ao plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de transformar o enclave palestino na “Riviera do Oriente Médio”, depois de enviar seus habitantes para o Egito e a Jordânia.
RFI
O rascunho do plano, compartilhado com a AFP por uma fonte diplomática, prevê duas etapas: uma fase de resposta rápida seguida de uma fase de reconstrução. A primeira fase, prevista para durar seis meses com custo estimado de US$ 3 bilhões, se concentrará na "limpeza de escombros, remoção de minas e materiais não detonados e fornecimento de moradias temporárias".
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Cúpula da Liga Árabe adota proposta do Egito para reconstrução de Gaza © Khaled Desouki / AFP |
Durante esta etapa, espera-se que sete locais sejam desenvolvidos para abrigar mais de 1,5 milhão de pessoas em unidades habitacionais pré-fabricadas, cada uma acomodando uma média de seis moradores. O projeto também prevê a reparação de 60.000 casas parcialmente danificadas, que podem acomodar 360.000 pessoas.
O plano de Abdel Fattah al-Sissi para a reconstrução de Gaza não prevê a retirada da população, segundo informações do correspondente da RFI no Egito, Alexandre Buccianti.
O presidente egípcio insistiu na composição de uma comissão neutra, sob a égide da Autoridade Palestina, responsável pela administração de Gaza "durante a primeira fase da reconstrução”.
"O Egito, em cooperação com seus irmãos na Palestina, tem trabalhado para formar um comitê administrativo de profissionais e tecnocratas palestinos independentes para administrar a Faixa de Gaza”, enfatizou. Ele indicou que as forças policiais palestinas seriam mistas, da Cisjordânia e de Gaza, e treinadas no Egito.
Os palestrantes aprovaram o plano egípcio e evitaram criticar os Estados Unidos, pelo contrário. “Considerando o tratado de paz entre Egito e Israel [...] como um modelo a ser seguido para transformar o estado de inimizade, de guerra [...] em uma paz duradoura [...], chegou a hora de adotar e lançar um processo político sério e eficaz que leve a uma solução justa e duradoura para a causa palestina [...] Estou convencido de que o presidente Trump é capaz de conseguir isso”, disse o presidente egípcio.
O plano, que no total deve durar cinco anos já havia recebido aprovação quase unânime dos ministros das Relações Exteriores da Liga. Mas o Hamas ainda não concordou oficialmente em ser retirado do poder.
Além disso, o projeto propõe a criação de um fundo supervisionado internacionalmente para garantir "a eficácia, a sustentabilidade do financiamento" e "a necessária transparência e monitoramento" do plano.
O Cairo planeja sediar uma conferência ministerial de alto nível reunindo países doadores, instituições financeiras internacionais e regionais, o setor privado e a sociedade civil para mobilizar o financiamento necessário. De acordo com a mídia egípcia Al-Qahera News, próxima às autoridades, a cúpula árabe apoia a realização de tal conferência, que ocorreria em março.
Autoridade Palestina pronta para “assumir responsabilidades" em Gaza
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, anunciou a criação de um cargo de vice-presidente e uma anistia para os membros dissidentes de seu partido Fatah, com o objetivo de reintegrá-los. Esses dissidentes incluem, embora Mahmoud Abbas não mencione seu nome, Mohammad Dahlane, ex-homem forte da Faixa de Gaza antes de o Hamas assumir o poder em 2007. Atualmente exilado nos Emirados Árabes Unidos, Dahlane poderia se qualificar para o cargo de vice-presidente, cuja criação vem sendo solicitada há muito tempo pelos apoiadores internacionais da Autoridade Palestina.Mahmoud Abbas também garantiu que a Autoridade Palestina, sob sua liderança, estava pronta para desempenhar seu papel em Gaza, de acordo com o plano egípcio para a reconstrução do enclave palestino. “O Estado da Palestina assumirá suas responsabilidades na Faixa de Gaza por meio de suas instituições governamentais, e um comitê de trabalho foi formado para esse fim”, disse Abbas a seus pares.
“O aparato de segurança da Autoridade Palestina assumirá seu papel após reestruturar e unificar os quadros presentes na Faixa de Gaza e treiná-los no Egito e na Jordânia”, acrescentou. “A Autoridade Palestina está totalmente preparada para organizar eleições presidenciais e legislativas no próximo ano, desde que as condições apropriadas sejam atendidas em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental”, acrescentou.
O Hamas, por sua vez, convocou a Liga Árabe sobre o futuro de Gaza para “frustrar” quaisquer planos de deslocamento da população do território, cuja desmilitarização Israel está exigindo para salvar o acordo de trégua com o Hamas. “Esperamos um papel árabe efetivo que ponha fim à tragédia humanitária criada pela ocupação na Faixa de Gaza [...] e frustre os planos da ocupação [israelense] de deslocar os palestinos", disse o Hamas.
Presidente interino da Síria participa de cúpula da Liga Árabe pela primeira vez
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Charaa, participou da cúpula da Liga Árabe pela primeira vez desde o fim do governo de Bashar al-Assad em Damasco. “O presidente da República Árabe da Síria está no Cairo [...] para participar da cúpula árabe extraordinária dedicada ao desenvolvimento da questão palestina”, informou a agência de notícias oficial síria Sana.A presidência síria publicou imagens de Ahmed al-Charaa reunido com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e com o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, à margem da cúpula. Ele discutiu com Guterres “a oportunidade histórica de traçar um novo rumo para a Síria e os desafios que o país enfrenta”, disse um comunicado do porta-voz de do secretário-geral da ONU. De acordo com a declaração, Guterres “tomou nota dos importantes passos dados em direção a uma transição política na Síria” e “enfatizou a necessidade de uma transição inclusiva”.
Esse é o primeiro convite desse nível feito a Ahmed al-Charaa pela Liga Árabe desde que ele liderou a coalizão de facções rebeldes islâmicas que depôs o presidente sírio Bashar al-Assad em 8 de dezembro.
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