Contra a China, EUA recuperam maior base aérea da Segunda Guerra

País gasta US$ 409 mi para reformar Tinian, de onde saíram os aviões que lançaram as bombas atômicas


Igor Gielow | Folha de S.Paulo

São Paulo - De olho em uma eventual guerra no futuro contra a China, sua maior rival estratégica, os Estados Unidos estão reformando a maior base usada pelo país nas suas operações aéreas na Segunda Guerra Mundial, entre 1944 e 1945.

Imagens da base americana de Tinian em dezembro de 2023 (esq.) e em janeiro de 2025 (dir.) - Planet Labs/Divulgação

Imagens de satélite feitas pela empresa Planet Labs e divulgadas pelo site The War Zone, ambos americanos, mostram a evolução das obras na Base Aérea de Tinian, a cerca de 2.500 km da costa chinesa.

No fim de 2003, praticamente só havia restos daquilo que foi o estacionamento de 500 bombardeiros pesados B-29 Superfortaleza, dois dos quais voaram as missões que detonaram as únicas bombas atômicas usadas em combate na história, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.

Em janeiro deste ano, o complexo de quatro pistas de pouso cruzadas por cinco acessos de taxiamento já estava totalmente visível, sem a floresta que tomava o local. O plano de revitalização começou a ser discutido em 2022, e em abril de 2024 a obra foi concedida em uma licitação de US$ 409 milhões (R$ 2,3 bilhões hoje).

Ao todo, o gasto deve chegar a quase o dobro disso para ter a base operacional. Hoje, apenas um aeroporto na parte sul da ilha funciona, e ocasionalmente ele recebe exercícios militares. Mas o jogo é outro com a reforma do chamado Campo Norte.

Ele foi construído depois que os EUA tomaram Tinian dos japoneses, em 1944, e no auge de suas operações abrigava 40 mil militares. Já havia lá três pequenas pistas, que foram expandidas para o complexo final, com cada uma das quatro pistas com 2,6 km de extensão —mesmo tamanho do aeroporto ao sul.

Não é o mais folgado tamanho de pista para operações militares do mundo, mas suficiente para a operação de toda a frota tática da Marinha americana, composta pelos F/A-18 e pelos F-35, pelos bombardeiros estratégicos da Força Aérea, B-1B, B-52 e B-2, e por aviões de transporte e reabastecimento, aí dependendo da carga.

Para ficar nos mais movimentados aeródromos brasileiros, são pistas maiores que as do aeroporto de Congonhas, com seu 1,9 km, e de Guarulhos, cuja maior tem 3,7 km.

O local foi abandonado em 1947 e passou cinco décadas sem uso, sendo devorado pela floresta. A partir dos anos 2000, houve algum trabalho de manutenção e exploração turística para além das praias que atraem visitantes o ano todo.

Sempre há nerds históricos interessados em ver os poços em que ficaram as duas primeiras bombas atômicas do mundo, Little Boy ("garotinho", usada em Hiroshima) e Fat Man ("homem gordo", sobre Nagasaki), que estão protegidos por redomas.

O desenvolvimento da rivalidade estratégica com a China e a prioridade dada no governo Joe Biden para o Indo-Pacífico fizeram o Pentágono retomar Tinian de vez. Como ainda não está clara a posição de Donald Trump sobre a rivalidade, o projeto ainda pode ser alterado, mas a fase atual será completada neste ano.

Além da proximidade da China, há um motivo adicional pela decisão. A cerca de 200 km a sudoeste da ilha fica Guam, outra possessão americana no Pacífico e hoje a principal base de operações militares dos EUA naquele ponto do oceano.

A alta concentração de recursos em Guam a torna um alvo suculento para mísseis de longo alcance chineses ou norte-coreanos, então a ideia de dividir ativos na mesma região faz sentido do ponto de vista defensivo.

Ambas as posições dão cobertura para boa parte da região em que especialistas sugerem que pode haver um embate direto entre chineses, obcecados em proteger suas rotas marítimas, e americanos.

Tinian é uma das 14 ilhas da Comunidade das Ilhas Marianas do Norte, da qual Guam não faz parte. No Indo-Pacífico, as outras bases principais americanas ficam no Havaí, no Japão, na Coreia do Sul e em Diego Garcia, território britânico no Índico. O acordo militar com a Austrália também abre espaço para operações a partir do país.

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