As listras rubro-negras do time carioca só apareceram na terceira versão da roupa – para não se associar com a bandeira do Império Alemão.
Por Rafael Battaglia | Super Interessante
Vamos relembrar as aulas de história do colégio. A Primeira Guerra Mundial aconteceu de 1914 a 1918 e provocou a morte de 9,2 milhões de soldados e 6 milhões de civis, além de 20 milhões de feridos. Foi a primeira que mobilizou países de todos os continentes e usou armas pesadas como metralhadoras, canhões semiautomáticos, gases venenosos, submarinos e aviões.
O conflito foi resultado de tensões geopolíticas internacionais que se arrastavam por décadas desde o século 19. As potências imperialistas da época, afinal, disputavam influência, mercado e fronteiras – tanto dentro de casa, na Europa, quanto nas colônias mundo afora.
De um lado da guerra estavam o Império Austro-húngaro, o Império Alemão e a Itália. Do outro, França, Inglaterra e Rússia (e também a Itália, que mudou de lado em 1915, e os EUA, que entraram no front em 1917).
O estopim para o confronto foi o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando. Ele e sua esposa foram mortos em 1914 por integrantes do Mão Negra, uma organização que lutava pela independência da Sérvia e dos povos eslavos das mãos do Império.
Foi a partir desse atentado que as alianças se costuraram. Os alemães se uniram aos austro-húngaros; os russos se juntaram à causa sérvia. Temendo o avanço sobretudo da Alemanha, Inglaterra e França também entraram na guerra. Estava montado o palco para a carnificina.
Por ter importantes parceiros comerciais nos dois lados da guerra, o Brasil se manteve neutro. Isso mudou em 1917, quando um submarino alemão afundou um cargueiro brasileiro de café que ia em direção à França. A partir daí, o país enviou soldados, navios e médicos para a Europa para ajudar franceses e cia.
O Brasil foi o país latino mas ativo na Primeira Guerra. Mas foi uma participação modesta, com algumas centenas de profissionais. Bem menor, por exemplo, que os 25 mil soldados enviados na Segunda Guerra.
Mas o conflito gerou uma consequência curiosa para o dia a dia dos brasileiros: ele foi decisivo para a consolidação do uniforme do Flamengo, o time mais popular do país.
Uma vez Flamengo…
Fundado em 1895, o Flamengo passou anos apenas como um clube de remo. Em 1912, surgiu o time de futebol – mas os remadores, orgulhosos, não permitiram que o novo esporte usasse o mesmo uniforme que eles.
Os diretores do clube, então, criaram outra roupa: ela ainda tinha as cores do clube, mas com um novo design. Era um uniforme xadrez, com dois grandes quadrados pretos e dois vermelhos. Foi apelidado de “Papagaio de Vintém” por sua semelhança com uma pipa (também chamada de “papagaio”), que eram vendidas por um vintém, moeda da época.
O Papagaio porém, teve vida curta. Em 1914, o Flamengo passou a usar uma roupa listrada: as faixas pretas e vermelhas dominavam; mas, entre elas, havia finas faixas brancas. Pelo visual, o uniforme recebeu o nome de Cobra-Coral.
Só tinha um problema. A roupa ficou muito parecida com a bandeira do Império Alemão, usada desde a segunda metade do século 19. A referência acidental pegou mal: mesmo antes da entrada oficial do Brasil na guerra, a elite intelectual do país já demonstrava apoio ao lado dos franceses. Em 1916, o Flamengo precisou trocar de uniforme – de novo.
Foi uma mudança sutil. Os frisos brancos saíram, restando apenas as listras rubro-negras, que se tornaram marca do time nos 110 anos seguintes. Os primeiros uniformes, porém, não foram completamente esquecidos: eles já reapareceram em algumas datas comemorativas do clube.
A conexão entre Flamengo e Alemanha não para por aí. Em 2014, embalados pela Copa do Mundo no Brasil, os alemães desenharam um uniforme inspirado no rubro-negro flamenguista. Foi justamente essa a camisa usada na goleada de 7 a 1 contra o Brasil. Mas essa história a gente não precisa relembrar.
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