Alemanha prepara rearmamento histórico após distanciamento dos EUA

A Alemanha está se preparando para um rearmamento sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial com o provável futuro governo de Friedrich Merz, que planeja um forte aumento nos gastos com defesa para compensar o incipiente afastamento dos Estados Unidos da Europa.


France Presse

Em meio às negociações para formar um governo após sua vitória nas eleições parlamentares há dez dias, o líder conservador da maior economia da Europa apresentou, na noite de terça-feira, o seu plano para aumentar os gastos militares em face do previsível enfraquecimento da segurança por parte de Washington.

Friedrich Merz, líder do partido União Democrata Cristã (CDU), participa de uma reunião na Chancelaria em Berlim, em 5 de março de 2025 © Ralf Hirschberger

Negociada com seus supostos parceiros social-democratas, a proposta contornaria o "freio da dívida" consagrado na Constituição e permitiria que a Alemanha gastasse pelo menos 100 bilhões de euros (quase US$ 107 bilhões ou R$ 608 bilhões na cotação atual) por ano.

"Há momentos em que a história de um país dá uma virada inesperada", disse o jornal Zeit nesta quarta-feira (5). Os planos de Merz "podem ser um desses momentos", acrescentou.

As negociações entre a aliança conservadora CDU/CSU e os social-democratas do SPD do chefe de governo em fim de mandato, Olaf Scholz, foram aceleradas diante dos rápidos acontecimentos sobre a questão ucraniana.

Os parceiros europeus da Alemanha, que se reunirão em uma cúpula sobre a Ucrânia e a defesa do bloco na quinta-feira, esperam há muito por um gesto firme de Berlim, peça fundamental da UE que, no entanto, estava ausente desde o colapso da coalizão de Scholz em novembro.

Um atlantista convicto e anteriormente contrário ao financiamento de gastos públicos com dívidas, Merz mudou seu tom desde a noite da eleição, na qual pediu "capacidades de defesa europeias independentes" como uma possível alternativa à "Otan em seu estado atual".

"Merz está expandindo a economia da Alemanha e assumindo a responsabilidade pela segurança da região", disse Kathleen Brooks, diretora de pesquisa da XTB.

Se seu plano funcionar, poderá ser um "verdadeiro divisor de águas" e também "abandonar rapidamente o impasse político da Alemanha”, segundo Sebastian Dullien, diretor do instituto de pesquisa econômica IMK.

Além do forte aumento nos gastos militares, Merz anunciou a sua proposta de um fundo especial de 500 bilhões de euros (R$ 3 trilhões) para modernizar a infraestrutura alemã e ajudar a encerrar os dois anos de recessão.

- O "dever" da Alemanha -

O atual ministro da Defesa, Boris Pistorius, classificou os planos como "um dia histórico para o exército e para a Alemanha", um país que tem tido o cuidado de projetar uma imagem de poderio militar desde a capitulação do regime nazista.

O jornal Spiegel observou que o anúncio também se afasta da ortodoxia fiscal associada à CDU. "É bom que Merz esteja quebrando suas promessas de campanha", disse a publicação.

Diante da possibilidade de os EUA se tornarem "abertamente hostis" em relação à Europa, a Alemanha "tem o dever, como país com a maior população e a economia mais forte do continente (...) de unir os europeus, liderá-los e incentivá-los a garantir sua própria segurança", acrescentou o veículo.

Jacob Ross, do Conselho Alemão de Relações Exteriores, afirmou que a importância do anúncio de terça-feira "tem muito a ver com a psicologia e os sinais que tais anúncios enviam".

Quanto aos valores que poderão ser gastos na prática, Ross disse à AFP que há muitas perguntas a serem respondidas.

"Quem vai fabricar as armas necessárias? A Europa terá acesso às matérias-primas necessárias? O que acontecerá com a inflação quando quantias tão grandes forem injetadas na economia?", questiona.


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