Benjamin Netanyahu foi primeiro líder estrangeiro a ser convidado pelo presidente americano a comparecer à Casa Branca
O Globo
Primeiro líder estrangeiro a ser convidado pelo presidente americano, Donald Trump, a comparecer à Casa Branca, o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou antes da reunião marcada para esta terça-feira que está disposto a trabalhar com o republicano para "redesenhar o Oriente Médio", em uma proporção ainda maior do que as mudanças provocadas pelos últimos 15 meses de guerra. A fala de Netanyahu ocorre em um momento em que as forças israelenses mudaram seu foco da Faixa de Gaza, onde é respeitado um cessar-fogo para troca de reféns por prisioneiros palestinos, para a Cisjordânia, onde dois soldados israelenses morreram durante um ataque nesta terça-feira.
Premier de Israel, Benjamin Netanyahu, durante discurso na Assembleia Geral da ONU — Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP |
— Acredito que trabalhando em estreita colaboração com o presidente Trump, podemos redesenhar [o Oriente Médio] ainda mais, e para melhor — afirmou Netanyahu, enquanto comentava sobre o impacto que a ação militar israelense teve sobre Hamas, Hezbollah e Irã, aliados no "eixo da resistência", cujas capacidades foram duramente afetadas ao longo do conflito.
Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU no ano passado, o premier israelense se referiu ao eixo liderado por Teerã como uma "maldição" para o Oriente Médio e para o mundo. A articulação, que inclui grupos extremistas e governos da região, foi duramente castigada desde outubro de 2023, sofrendo as consequências de ações militares israelenses e da própria estabilidade regional.
Diretamente, Israel enfraqueceu as capacidades do Hamas, em Gaza, e do Hezbollah, no Líbano, eliminando boa parte das principais tropas dos dois grupos, em uma guerra de duas frentes. Israel também bombardeou, em menor escala, o Iêmen, de onde rebeldes Houthi também lançaram foguetes contra posições israelenses; o próprio Irã, em ataques trocados; e a Síria, que viu o governo de Bashar al-Assad cair, dando lugar a um novo poder que dá sinais de maior abertura para se integrar com a comunidade internacional.
Levar o redesenho do Oriente Médio à conversa com Trump possivelmente deve incluir um outro tema que Netanyahu tratou em seu discurso — a integração de Israel com países árabes. No primeiro mandato de Trump, foram alcançados os históricos Acordos de Abraão, de normalização com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, mas faltou um país visto como chave por Washington e pelos países locais: a Arábia Saudita.
Especialistas apontam que tanto israelenses quanto sauditas têm interesse no acordo, mas afirmam que os conflitos em Gaza e na Cisjordânia são possíveis barreiras, uma vez que Riad é uma defensora histórica da causa palestina. Falas recentes de Trump sobre "limpar" Gaza e transferir palestinos para outros países podem ser um empecilho a qualquer negociação — além de que, no solo, as hostilidades não cessaram.
A Autoridade Nacional Palestina acusou Israel de promover uma "limpeza étnica" na Cisjordânia desde que foi iniciada a operação "Muralha de Ferro", que as Forças Armadas de Israel (FDI) dizem mirar grupos armados em Jenin. O Ministério da Saúde palestino afirma que os militares israelenses mataram pelo menos 70 pessoas, incluindo 10 crianças na Cisjordânia, desde o início de 2025. Dezenas de casas foram demolidas.
A escalada violenta mais ao norte do território palestino também provocou baixas do lado israelense. Dois soldados morreram e oito ficaram feridos nesta terça-feira, depois que um atirador abriu fogo contra as tropas em um posto de controle perto de Tayasir, no Vale do Jordão.
O agressor, que atirou com um fuzil M-16 contra soldados que deixavam um bunker, foi morto no local. Além dos dois soldados mortos, outros dois ficaram em estado grave.
O encontro entre Netanyahu e Trump deve incluir vários temas relacionados à região, mas principalmente a abordagem conjunta. A grande expectativa é que se possa avançar sobre a segunda etapa do cessar-fogo e troca de reféns, cuja primeira fase começou no mês passado, e vem mantendo a situação controlada. Na segunda-feira, contudo, o presidente americano disse não ter "garantias" da manutenção da trégua.
Apesar da narrativa, os sinais até o momento são positivos. Antes da reunião, o gabinete de Netanyahu anunciou que enviará "no final da semana" uma delegação ao Catar para discutir as próximas fases do cessar-fogo. Nesta terça-feira, o Hamas anunciou o início das negociações sobre a segunda etapa da trégua.
"Os contatos e as negociações para a segunda fase começaram", afirmou, em um comunicado, o porta-voz do grupo, Abdel Latif al-Qanu.
(Com AFP)
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