Monteiro tem funcionado, desde o início do atual governo, como um algodão entre cristais, uma vez que parcela considerável da caserna apoiou — e apoia — a ditadura militar.
Correio do Brasil
Brasília - Negociador habilidoso, o pernambucano José Múcio Monteiro confirmou que permanecerá no Ministério da Defesa até o fim deste ano. A declaração, na manhã desta terça-feira, veio após uma entrevista ao programa ‘Roda Viva’, exibido pela TV Cultura, onde o ministro revelou que a decisão foi tomada após o pedido direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de várias solicitações na cúpula das Forças Armadas.
Ministro da Defesa, o pernambucano José Múcio não vê a hora de voltar para casa |
— Olha, Múcio, nós estamos numa fase difícil. Somos amigos, eu sei das suas pretensões, que é estar mais à disposição da família e dos amigos, mas eu preciso que você fique, porque estamos com alguns desafios e não queria abrir mais um problema — disse Lula, no relato de Múcio aos jornalistas.
Monteiro tem funcionado, desde o início do atual governo, como um algodão entre cristais, uma vez que parcela considerável da caserna apoiou — e apoia — a ditadura militar. Entre militares de alta patente, muitos foram favoráveis ao golpe de Estado frustrado em 8 de Janeiro e não estão sequer detidos.
Denúncias
Diante das pressões de parte desses militares que integram a ultradireita, Múcio chegou a sugerir, na entrevista, que manifestantes envolvidos no 8/1 deveriam ser liberados pela Justiça, ao menos aqueles que ele diz ser “inocentes” ou com menor envolvimento nos atos terroristas. Na opinião do ministros, isso ajudaria a “pacificar o país”.Múcio, por mais de uma vez, já usou palavra “golpe” para classificar a intentona contra os Poderes constituídos, mas acrescentou que isso somente ficará claro “se nos inquéritos aparecerem as denúncias”.
Quanto à posição das Forças Armadas, o ministro disse que estas esperam que os responsáveis sejam devidamente identificados e punidos.
Tensões
O ministro também criticou o vídeo institucional produzido pela Marinha em dezembro, no qual a corporação ironizava o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao questionar os “privilégios” dos militares. O ministro classificou a gravação como “imprudente” e “inoportuna”, especialmente diante da política de contenção de gastos adotada pelo governo, que inclui cortes no Orçamento das Forças Armadas.O vídeo produzido pela Marinha evidencia as tensões entre o governo e setores das Forças Armadas, que permanecem tão conflagrados a ponto de, antes de assumir o posto, Múcio Monteiro ter dito que precisou recorrer ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
— A primeira dificuldade foi ser recebido pelos comandantes (das Forças Armadas). Foi quando eu recorri ao (então) presidente Bolsonaro, meu colega de muitos anos, sempre tivemos uma relação muito boa. E falei a ele: ‘Sou o novo ministro da Defesa e queria que você me ajudasse a fazer uma transição tranquila. Vai ser bom para o novo governo, vai ser bom para o seu governo, que está terminando’ — relatou.
O ministro, de 76 anos, já ocupou diversos cargos de confiança ao longo de sua trajetória. Foi presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) em 2018 e também atuou como líder do governo Lula na Câmara e ministro das Relações Institucionais nos anos 2000.