Porta-voz do grupo armado palestiniano afirma que adiamento vai manter-se "até que a entidade ocupante cumpra as suas obrigações anteriores" e avance com indemnizações "retroativamente". Em resposta, Israel coloca tropas no "mais alto nível de prontidão".
De João Azevedo | Euronews
O Hamas acusa Israel de violar o cessar-fogo nas últimas três semanas e diz que vai adiar indefinidamente a libertação dos próximos reféns prevista para sábado.
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Numa declaração no Telegram, o porta-voz das Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, sublinhou que a libertação será adiada “até nova indicação”.
“Durante as últimas três semanas, a liderança da resistência monitorou as violações do inimigo e o seu incumprimento dos termos do acordo”, afirmou Abu Obeida.
Deixando claro que o Hamas "cumpriu todas as suas obrigações" ao abrigo do cessar-fogo alcançado em janeiro, Abu Obeida enumerou o que diz serem as "violações" cometidas pelas forças israelitas.
“Estas violações incluem o atraso no regresso das pessoas deslocadas ao norte de Gaza, atingindo-as através de bombardeamentos e tiros em várias zonas da Faixa de Gaza, e não permitindo a entrada de materiais de socorro sob todas as formas, tal como acordado".
A decisão, vinca, vai manter-se "até que a entidade ocupante cumpra as suas obrigações anteriores" e avance com indemnizações "retroativamente".
"Afirmamos o nosso empenhamento nos termos do acordo, desde que o ocupante os cumpra”, acrescenta.
Israel no "mais alto nível de prontidão"
As autoridades israelitas, por sua vez, sublinham que é o Hamas quem está a quebrar os compromissos assumidos ao adiar a libertação dos próximos reféns. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, fala em "violação total do acordo de cessar-fogo" por parte do grupo palestiniano e ordenou que as forças armadas do país estejam no "mais alto nível de prontidão" em Gaza.“Dei instruções aos militares para se prepararem ao mais alto nível de prontidão em Gaza para defenderem as nossas comunidades”, afirmou Katz, lançando um aviso:
“Não permitiremos que se regresse à realidade de 7 de outubro”.
A organização que representa as famílias dos reféns e desaparecidos diz ter entrado em contacto com todos os países mediadores do acordo pouco depois do anúncio do Hamas e, em comunicado, exige “assistência rápida para encontrar uma solução imediata e eficaz para restaurar a implementação do acordo”.
“Apelamos ao governo israelita para que se abstenha de ações que ponham em perigo a concretização do acordo assinado e para que assegure a sua continuação, garantindo o regresso dos nossos 76 irmãos e irmãs”, pode também ler-se no comunicado, no qual se pede ainda que sejam mantidas as "condições que garantirão a continuação bem- sucedida do acordo".
Face às "condições chocantes dos reféns libertados no sábado passado", as famílias dos cativos alertam que "o tempo é essencial e todos os reféns devem ser resgatados urgentemente desta situação horrível”.
Segundo o Jerusalem Post, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu está a consultar os principais responsáveis militares e tenciona antecipar a reunião do gabinete de segurança desta terça-feira para as primeiras horas da manhã.
O gabinete de Netanyahu, reporta o The Guardian, já tinha dado conta, sem especificar as razões, de que uma delegação israelita tinha regressado das conversações de cessar-fogo em Doha com cada vez mais dúvidas sobre se o acordo mediado pelo Egito e pelo Catar poderá mesmo pôr fim à guerra.
Apesar da crescente desconfiança entre os dois lados do conflito, 16 dos 33 reféns a libertar pelo Hamas na primeira fase do cessar-fogo regressaram a casa, sendo que cinco reféns tailandeses também foram retirados de cativeiro numa libertação que não estava anunciada.
Em contrapartida, Israel já libertou centenas dos cerca de 2 mil palestinianos que se comprometeu a deixar sair das suas cadeias na primeira etapa da trégua, desde os prisioneiros que cumpriam penas de prisão perpétua por homicídios aos detidos durante a guerra e mantidos em reclusão sem acusação.
Até agora, desde a entrada em vigor do cessar-fogo, já foram realizadas cinco trocas de cativos e a seguinte estava prevista para sábado, com a libertação de mais três reféns israelitas e de centenas de prisioneiros palestinianos.