Gaza: três reféns israelenses e 183 presos palestinos são libertados na quarta rodada de cessar-fogo

Neste sábado (1º), após quase 16 meses de cativeiro, três reféns israelenses e 183 presos palestinos foram libertados como parte do quarta rodada do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. 


RFI

O franco-israelense Ofer Kalderon e o israelense Yarden Bibas foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. Já o israelense-americano Keith Siegel foi entregue ao CICV na cidade de Gaza, no norte. Em contrapartida, Israel libertou 183 detidos palestinos.

Gaza: três reféns israelenses e 183 presos palestinos são libertados na quarta rodada de cessar-fogo © OMAR AL-QATTAA / AFP

Entre eles, 18 haviam sido condenados à prisão perpétua e 54 a longas penas. Os outros 111 são moradores de Gaza detidos após 7 de outubro, sem ligação direta com o ataque do Hamas, segundo as autoridades palestinas. Eles são considerados pela parte palestina como "reféns detidos apenas para servir de moeda de troca" pelos reféns israelenses mantidos em Gaza.

Este quarto intercâmbio faz parte da trégua iniciada em 19 de janeiro entre Israel e o Hamas, após mais de 15 meses de uma guerra devastadora em Gaza.

"Um inferno inimaginável"

Em Khan Yunis, a libertação de Yarden Bibas e Ofer Kalderon ocorreu sob o olhar de dezenas de combatentes do Hamas, mascarados e vestidos com uniformes militares. Ao contrário de outras libertações marcadas por cenas de caos, não houve multidões de palestinos. Os dois reféns foram soltos em uma cerimônia rápida, no meio de edifícios destruídos. Como em cada operação, receberam "certificados" de libertação antes de serem transferidos ao CICV.

Em Tel Aviv, centenas de pessoas se reuniram na "Praça dos Reféns" para acompanhar ao vivo as libertações em Gaza. O embaixador da França em Israel, Frédéric Journès, disse à RFI que estava "emocionado" com a libertação dos reféns. No X, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou compartilhar "o imenso alívio e alegria" dos familiares de Ofer Kalderon, libertado "após um inferno inimaginável".

Kalderon havia sido sequestrado junto com seu filho Erez, de 12 anos, e sua filha Sahar, de 16 anos, que foram libertados durante uma primeira trégua em 2023.

Para Yarden Bibas, a história é mais trágica: sua esposa e seus dois filhos pequenos não foram libertados. O Hamas anunciou que eles morreram em um bombardeio israelense, embora Israel nunca tenha confirmado. No Instagram, a família Bibas expressou sua emoção declarando: "Nosso Yarden deve voltar, mas Shiri e as crianças ainda não voltaram", se referindo à esposa do ex-refém.

Outro franco-israelense, Ohad Yahalomi, continua em cativeiro.

Condições de detenção "horríveis"

Os palestinos liberados apresentavam um aspecto abatido e estavam muito magros, conforme o correspondente da RFI em Jerusalém, Sami Boukhelifa.

Thaer Shriteh, porta-voz da Comissão de Assuntos dos Detidos Palestinos, denunciou condições de detenção "horríveis" nas prisões israelenses. "Eles estão em péssimo estado de saúde. Foram espancados, humilhados. Sofreram atos de tortura, especialmente nos últimos dias."

Segundo ele, essa libertação constitui "uma confissão de fracasso" por parte de Israel, pois alguns dos prisioneiros foram condenados a longas penas, ou até mesmo à prisão perpétua.

Israel, por sua vez, afirma que vários dos detidos libertados "têm sangue nas mãos". Alguns foram condenados por tribunais militares vinculados às forças de ocupação israelenses. "Isso é uma farsa de justiça", denuncia Thaer Shriteh, cuja organização está ligada à OLP (Organização para a Libertação da Palestina).

"Aqueles que realmente têm sangue nas mãos são os soldados das forças de ocupação israelenses, que bombardeiam para destruir, para matar ou amputar crianças em Gaza. A luta do povo palestino é legítima. Estamos apenas nos defendendo. Queremos pôr fim à ocupação e ter um país livre e independente", afirma.

Os prisioneiros libertados neste sábado foram transportados em ônibus para Ramallah, na Cisjordânia ocupada, onde foram recebidos por uma multidão.

Continuação das negociações

Desde o início do acordo de cessar-fogo, 15 reféns – incluindo 10 israelenses e cinco tailandeses – e 400 prisioneiros palestinos recuperaram a liberdade. Durante as seis primeiras semanas da trégua, 33 reféns israelenses no total, incluindo oito mortos, deverão ser libertados em troca de aproximadamente 1.900 prisioneiros palestinos.

A troca anterior, organizada na quinta-feira em Gaza, gerou indignação em Israel. Alguns reféns tiveram que enfrentar uma multidão hostil e exaltada, sob a proteção de combatentes encapuzados e armados. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, denunciou "cenas chocantes" e exigiu que as futuras libertações ocorressem "com total segurança". O CICV também solicitou uma "melhoria" na segurança e dignidade dos reféns durante as próximas trocas.

Evacuação de feridos

No âmbito do acordo de trégua, o posto de passagem de Rafah entre Gaza e o Egito foi reaberto pela primeira vez desde que o exército israelense assumiu seu controle em maio de 2024, relata o correspondente da RFI no Cairo, Alexandre Buccianti.

O Egito havia se recusado a reabrir o terminal enquanto sua gestão não fosse devolvida aos palestinos, conforme previsto nos acordos de 2005 sobre a retirada israelense de Gaza. Até seu fechamento em maio passado, Rafah era o único ponto de saída para os moradores de Gaza, mas seu acesso já era estritamente controlado: apenas aqueles com visto para um terceiro país podiam deixar o enclave. As mercadorias entravam exclusivamente pelo terminal vizinho de Kerem Shalom.

Neste sábado, cerca de 50 feridos e doentes finalmente puderam sair de Gaza através de Rafah para receber tratamento no Egito. O canal egípcio Al-Qahera News transmitiu imagens dos primeiros evacuados – 50 pacientes e 53 acompanhantes –, incluindo uma criança com uma doença autoimune, cruzando a fronteira após meses de bloqueio.

Segundo a OMS, até 14.000 pessoas precisam de evacuação imediata. Vários países já ofereceram ajuda, mas as saídas continuam acontecendo a conta-gotas.

Essa reabertura coincide com a segunda fase das negociações. Na segunda-feira, as discussões devem ser retomadas para tentar obter a libertação dos últimos reféns e alcançar um cessar-fogo – um objetivo que alguns membros do governo israelense rejeitam.


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