A venda da Avibras para uma empresa saudita seria altamente sensível geopoliticamente?
Ricardo Fan | DefesaNet
Após pesquisas na internet, não encontramos informações específicas sobre uma empresa saudita chamada “Black Storm Military Industries“. É possível que “Black Storm Military Industries” seja um nome de fachada, algo relativamente comum em negociações sensíveis no setor de defesa. Empresas e governos frequentemente utilizam nomes de fachada ou subsidiárias para ocultar o verdadeiro investidor por diversos motivos, como:
Evitar Restrições e Sanções
Se o verdadeiro interessado for um governo ou entidade sob restrições internacionais, ele pode usar uma empresa intermediária para evitar bloqueios. Exemplo: Empresas do Oriente Médio já utilizaram subsidiárias na Europa ou na Ásia para adquirir tecnologia militar sem chamar atenção.
Se o verdadeiro interessado for um governo ou entidade sob restrições internacionais, ele pode usar uma empresa intermediária para evitar bloqueios. Exemplo: Empresas do Oriente Médio já utilizaram subsidiárias na Europa ou na Ásia para adquirir tecnologia militar sem chamar atenção.
Reduzir Resistência Política e Diplomática
A compra de uma empresa estratégica de defesa pode gerar oposição do governo, do Congresso e de parceiros internacionais. Exemplo: Se o real comprador for o governo saudita ou uma grande empresa estatal, mascarar a aquisição pode evitar críticas e pressões externas.
Estratégia de Negociação
Empresas podem criar subsidiárias ou usar terceiros para testar a reação do mercado antes de uma oferta pública. Exemplo: Se houver forte rejeição à venda da Avibras, o verdadeiro comprador pode desistir sem se expor.
A Arábia Saudita busca desenvolver uma indústria de defesa autossuficiente e tecnologicamente avançada.
A Arábia Saudita tem investido significativamente no desenvolvimento de sua indústria de defesa, alinhada à Visão 2030, que busca diversificar a economia e reduzir a dependência do petróleo. Entre as principais empresas de defesa sauditas destacam-se:
Saudi Arabian Military Industries (SAMI): Fundada em 2017, a SAMI é uma empresa estatal que atua em quatro áreas principais: Sistemas Aéreos, Sistemas Terrestres, Armamentos e Mísseis (incluindo munições) e Eletrônica de Defesa. A empresa tem como objetivo tornar-se uma das 25 maiores companhias de defesa do mundo até 2030, contribuindo diretamente para o PIB saudita e investindo em pesquisa e desenvolvimento.
SCOPA Defense: Parte do Grupo Ajlan & Bros Holding, a SCOPA Defense foi fundada em 2020 e é uma proeminente empresa privada de defesa no Reino. A empresa busca contribuir para a Visão 2030, criando indústrias militares locais e fornecendo sistemas de defesa avançados para as Forças Armadas sauditas. A SCOPA tem estabelecido parcerias estratégicas com empresas internacionais, incluindo acordos com a brasileira Avibras para fabricação de equipamentos de defesa.
Além dessas, empresas internacionais como Lockheed Martin, Boeing e Raytheon têm presença significativa no mercado de defesa saudita, muitas vezes através de joint ventures e parcerias com empresas locais, visando fortalecer as capacidades de produção e manutenção dentro do Reino.
Se uma empresa saudita adquirisse a AVIBRAS Indústria Aeroespacial S.A
Teoricamente, a aquisição teria implicações geopolíticas significativas para o Brasil, a Arábia Saudita e outros atores globais. Com base em uma análise preliminar do DefesaNet, destacam-se as seguintes consequências:Impacto na Soberania e Segurança Nacional do Brasil
A Avibras é uma empresa estratégica para a defesa brasileira, sendo responsável pelo sistema de foguetes ASTROS 2020, utilizado pelas Forças Armadas. Uma venda para uma empresa saudita poderia:
- Levantar preocupações sobre a transferência de tecnologia sensível e segredos industriais para um país estrangeiro.
- Reduzir o controle do Brasil sobre seu próprio parque industrial de defesa, comprometendo sua autonomia militar.
- Criar resistência dentro do governo brasileiro, especialmente por parte do Ministério da Defesa e do Congresso Nacional, que poderiam barrar a venda.
Se a venda ocorresse, o Brasil poderia exigir cláusulas de salvaguarda para proteger tecnologias críticas e garantir que a produção continuasse atendendo às Forças Armadas nacionais.
Reação dos Estados Unidos e do Ocidente
Os EUA e aliados da OTAN monitoram de perto aquisições estrangeiras no setor de defesa. A Arábia Saudita é um aliado dos EUA, mas qualquer movimentação que envolva tecnologia sensível pode gerar pressão diplomática e sanções. Possíveis reações:- EUA poderiam tentar barrar a venda, alegando risco à segurança regional e à disseminação de tecnologia avançada para terceiros.
- Empresas europeias e americanas poderiam rever parcerias com a Avibras se os sauditas assumissem o controle.
- Dependendo do acordo, Washington poderia exigir que certos sistemas da Avibras não fossem exportados para países sob sanções dos EUA.
Se a aquisição ocorresse sem garantias, o Brasil poderia enfrentar restrições no acesso a tecnologias militares ocidentais, como já aconteceu com países que permitiram investimentos chineses ou russos em setores estratégicos.
Expansão da Influência Saudita na América Latina
Se uma empresa saudita comprasse a Avibras, isso marcaria a entrada da Arábia Saudita no setor de defesa latino-americano, o que poderia:- Ampliar a presença geopolítica saudita no Brasil e na região, criando uma nova aliança estratégica.
- Facilitar a exportação de produtos militares brasileiros para países do Oriente Médio e Norte da África (MENA), onde a Arábia Saudita tem forte influência.
- Levar outras potências do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos e o Catar, a investirem em empresas brasileiras do setor de defesa.
Isso poderia gerar um contraponto à influência ocidental e até chinesa na América Latina, mas também tornaria o Brasil mais dependente das decisões políticas sauditas.
Possíveis Benefícios Econômicos para o Brasil
Apesar dos riscos, a compra poderia trazer algumas vantagens para a Avibras e para o Brasil:- Aporte financeiro para modernizar a empresa, que enfrenta dificuldades financeiras há anos.
- Acesso a novos mercados, já que os sauditas poderiam usar sua rede de influência para expandir as exportações de produtos da Avibras.
- Parcerias estratégicas para o desenvolvimento de novos mísseis, drones e sistemas de defesa com tecnologia saudita e brasileira combinadas.
O Brasil poderia negociar que a fabricação e pesquisa permanecessem no país, garantindo empregos e desenvolvimento tecnológico local.
A venda da Avibras para uma empresa saudita seria altamente sensível geopoliticamente. O Brasil teria que equilibrar os possíveis benefícios econômicos com os riscos de perder controle sobre uma indústria estratégica. Além disso:
- Os EUA e aliados poderiam pressionar o Brasil contra a venda.
- O Brasil precisaria estabelecer mecanismos de proteção para garantir que a tecnologia não seja desviada.
- A Arábia Saudita fortaleceria sua posição na América Latina, mas poderia trazer novas tensões diplomáticas.
Se a compra ocorresse, o ideal seria um modelo de joint venture, em que o Brasil mantém participação acionária e poder de decisão sobre exportações e transferência de tecnologia.
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