A atuação da cúpula militar para evitar a saída de Múcio da Defesa

Os apelos do presidente Lula não foram os únicos que levaram José Múcio Monteiro a ceder e aceitar permanecer no Ministério da Defesa. Múcio também foi alvo de intensas investidas dos comandantes das Forças Armadas e de ex-chefes da pasta.


Por Bela Megale | O Globo

Um dos argumentos centrais levados pela cúpula militar a Múcio foi o de que a pacificação entre a caserna e o governo Lula ficaria comprometida com sua saída e que seu sucessor enfrentaria uma crise de credibilidade, tendo que recomeçar toda relação construída nos últimos dois anos.

Ministro da Defesa, José Monteiro Múcio, em cerimônia com comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica — Foto: Gabriel de Paiva

Desde dezembro, quando o ministro fez um pedido a Lula para deixar a Defesa, os comandantes das Forças acompanhavam com apreensão o desenrolar dos fatos. Em paralelo ao presidente, a cúpula militar aumentou os apelos para que Múcio permanecesse na pasta, deixando evidente que não enxergavam um nome capaz de sucedê-lo sem deixar “cicatrizes”.

Militares de alta patente apontavam que o sucessor de Múcio deveria ter interlocução com as Forças, trânsito com o Congresso e a confiança de Lula. Já o ministro dizia que seu substituto precisava ter paciência, disposição para o diálogo e que não poderia ter um projeto político, pois isso prejudicaria a delicada missão de intermediar o contato entre os militares e o governo.

Nomes aventados para o posto, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), não eram vistos na caserna como opções que conseguiriam pacificar as relações.

No fim de 2024, Múcio confidenciou a aliados ter passado por um dos momentos mais difíceis à frente do Ministério da Defesa. Ele apontou como motivos centrais da crise a inclusão das Forças Armadas no pacote de corte de gastos, o indiciamento de militares no inquérito do golpe e a prisão de Walter Braga Neto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na sua chapa.

Em meio a esse cenário, ainda houve a publicação de um vídeo da Marinha questionando “privilégios”, com mensagem indireta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, devido ao pacote fiscal. A gravação foi apagada, mas a crise seguiu até o mês passado e só terminou após Lula se reunir com o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen.

Postagem Anterior Próxima Postagem

نموذج الاتصال