Países árabes e ocidentais promovem rodada de negociações sobre o futuro da Síria

A Arábia Saudita recebe neste domingo (12) ministros das Relações Exteriores do do Oriente Médio e da Europa para discutir a situação na Síria, após a queda repentina do regime de Bashar al-Assad, em dezembro. As autoridades de transição sírias, lideradas por Ahmad al-Sharaa, pedem o fim das sanções internacionais ao país.


RFI

Haverá duas reuniões: uma apenas entre os países árabes e a segunda incluindo países convidados, como França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Turquia e Espanha. A ONU também participa dos diálogos.

Países árabes e ocidentais promovem rodada de negociações sobre o futuro da Síria © AFP - FAYEZ NURELDINE

Muitos ocidentais, a começar pelos americanos, disseram que analisam como as novas autoridades vão exercer o poder antes de derrubar as restrições impostas a Damasco. As sanções dos Estados Unidos e da União Europeia foram instauradas no início da guerra civil síria, em represália à violenta repressão do governo de Bashar al-Assad aos protestos populares em 2011.

O conflito matou mais de meio milhão de pessoas, devastou a economia e forçou milhões a fugir, incluindo para a Europa. Após quase 14 anos, os rebeldes liderados pelo grupo islâmico radical Hayat Tahrir al-Sham (HTS), antigo braço sírio da Al-Qaeda, derrubou Bashar al-Assad do poder em 8 de dezembro de 2024. O governo de transição instalado ainda trabalha para conquistar a confiança dos ocidentais.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, declarou na sexta-feira que o bloco poderia aliviar "progressivamente" suas sanções "desde que haja progresso tangível" no país, principalmente na proteção das minorias.

Papel da Arábia Saudita

As discussões deste domingo concentram-se no apoio a ser dado ao novo governo e em uma possível suspensão dos bloqueios internacionais, confirmou uma autoridade saudita à AFP, sob condição de anonimato. A Arábia Saudita cortou relações com o governo de Assad em 2012 e apoiou grupos rebeldes que tentavam tirá-lo do poder.

Mas, em 2023, Riad restaurou as relações com a Síria e trabalhou para trazer Damasco de volta à Liga Árabe, pondo fim ao seu isolamento diplomático. O rico reino do Golfo enviou alimentos, abrigo e ajuda médica para a Síria no último mês.

Além dessa ajuda, Riad agora estuda maneiras de apoiar a transição. "Esta cúpula envia a mensagem de que a Arábia Saudita quer se impor à frente dos esforços regionais destinados a apoiar a reconstrução da Síria", destaca a pesquisadora Anna Jacobs, do Arab Gulf States Institute, em Washington. "Mas a grande questão é quanto tempo e quantos recursos a Arábia Saudita dedicará a esses esforços e o que é possível fazer enquanto muitas sanções permanecerem em vigor", acrescentou.

O vice-secretário de Estado americano, John Bass, participará do que o Departamento de Estado descreveu, em um comunicado, como "uma reunião multilateral organizada pela Arábia Saudita que reunirá autoridades governamentais da região e parceiros internacionais para coordenar o apoio internacional ao povo sírio". Bass iniciou a viagem pela Turquia, onde discutiu sobre a Síria com altos representantes turcos, segundo o comunicado.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, e seu colega turco, Hakan Fidan, confirmaram a participação nas reuniões em Riad. O encontro dá sequência ao processo iniciado em dezembro em Aqaba, na Jordânia.

Premiê do Líbano visita a Síria

Neste sábado (11), o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, realizou a primeira visita de um chefe de governo libanês a Damasco desde o início da guerra civil no país vizinho, em 2011. Mikati e o novo líder da Síria, Ahmed al-Sharaa, prometeram “construir relações duradouras”. 

Os dois países buscam melhorar as relações após anos de tensões. Al-Sharaa disse que espera iniciar um novo capítulo com o Líbano, um dia depois de Beirute eleger um novo presidente, pondo fim a dois anos de impasse político.

"Haverá relações estratégicas duradouras, com grandes interesses comuns", disse Al Sharaa em uma coletiva de imprensa conjunta. Ele considerou que a eleição de Joseph Aoun para a presidência levaria a uma "situação estável" no Líbano.

Ahmed Al Sharaa pediu que as "relações passadas" entre os dois países sejam esquecidas e "que se dê uma chance" aos dois povos para estabelecer "relações positivas [...] baseadas no respeito e na soberania dos dois Estados". "Tentaremos resolver os problemas por meio de negociações e diálogo", acrescentou.

Durante três décadas, sob o comando do clã Al Assad, a Síria foi uma força política e militar dominante no Líbano, onde interveio durante a guerra civil de 1975-1990, e é responsável por vários assassinatos de figuras políticas. A república árabe compartilha uma fronteira de 330 quilômetros com o Líbano e retirou suas tropas do país vizinho em 2005, sob pressão local e internacional, após o assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri.

As tensões entre os dois países aumentaram ainda mais devido ao apoio militar do grupo islamista libanês Hezbollah ao ex-presidente Assad, um aliado do Irã, durante a guerra civil síria.

Com informações da AFP

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