Governo Lula coloca em banho-maria licitação bilionária de blindados de Israel

O governo Lula deixou em banho-maria a compra bilionária de 36 veículos blindados de uma empresa israelense. A licitação é alvo de um impasse entre o Ministério da Defesa e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim.


Por Rafael Moraes Moura | O Globo — Brasília

Após a empresa israelense Elbit Systems vencer a disputa pelo contrato de R$ 1 bilhão, em abril do ano passado, Amorim entrou em campo para convencer o presidente da República a não fechar o negócio, que prevê a compra de veículos equipados com obuses capazes de disparos de grande alcance e precisão. A assinatura do contrato estava prevista para 7 de maio, mas não ocorreu até agora.

José Múcio ao lado do presidente Lula — Foto: Agência O Globo

Amorim é contra o governo brasileiro adquirir equipamentos militares de Israel, já que o presidente Lula é um crítico da ação militar na Faixa de Gaza. Para ele, o negócio poderia financiar os ataques de Israel aos palestinos.

Múcio, de seu lado, já declarou mais de uma vez que a restrição à compra é “ideológica”. Depois que Lula rejeitou sua proposta alternativa de adquirir apenas uma parte do equipamento por ora, o ministro da Defesa recuou.

Em dezembro, o Exército prorrogou por mais seis meses o prazo para a compra, conforme informou VEJA. Em conversa com a equipe da coluna, integrantes da cúpula das Forças Armadas disseram que ainda têm esperanças de que nesse período seja fechado algum acordo de paz – na semana passada, foi aprovado um cessar-fogo e o Hamas começou a devolver reféns a Israel.

“Se o cenário geopolítico melhorar, quem sabe o negócio ainda possa ser fechado”, diz uma fonte a par das discussões com a Defesa.

Um dos complicadores nesse caso é que não é possível, por exemplo, descartar a primeira colocada no certame, especialmente quando há obrigações legais envolvidas.

Em setembro, o Tribunal de Contas da União (TCU), respondendo a uma consulta da Defesa, decidiu por unanimidade que não existe restrição para celebração de contrato com fornecedores que tenham sua sede em país em situação de conflito armado, seja quanto à sua participação em licitação, seja quanto à assinatura ou a manutenção do contrato.

Ainda assim, no primeiro escalão do governo a visão é de que a decisão sobre a compra dos blindados deixou de ser técnica e passou a ser política. Por isso, Múcio jogou a toalha. Como definiu um auxiliar de Lula, “quem vai dar a última palavra é a diplomacia”.

Persona non grata

A oposição de Amorim também se deve à manifestação do então ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, que em fevereiro do ano passado declarou Lula “persona non grata” naquele país após o presidente brasileiro comparar a ofensiva israelense contra os terroristas do Hamas em Gaza ao regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Ao comentar a morte de civis palestinos, Lula disse que o que “está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”. A resposta israelense foi imediata.

“Não perdoaremos e não esqueceremos: em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao Presidente Lula que ele é "persona non grata" em Israel até que ele peça desculpas e se retrate de suas palavras”, afirmou em publicação no X. Em novembro do ano passado, ele assumiu o Ministério da Defesa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Katz ainda submeteu o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, a um episódio que Amorim considerou de humilhação pública, obrigando-o a ouvir um sermão no Museu do Holocausto, em Jerusalém.

Principal conselheiro de Lula para política externa, Amorim não aceita o Brasil fechar contrato com uma empresa estrangeira de um país que ofendeu Lula. Procurado pela coluna, o ex-chanceler não se manifestou.

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