O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, apresentou ao presidente Biden opções para um possível ataque dos EUA às instalações nucleares do Irã se os iranianos avançarem em direção a uma arma nuclear antes de 20 de janeiro, em uma reunião há várias semanas que permaneceu secreta até agora, disseram três fontes com conhecimento do assunto à Axios.
Barak Ravid | Axios
Um ataque dos EUA ao programa nuclear do Irã durante o período do pato manco seria uma enorme aposta de um presidente que prometeu que não permitiria que o Irã desenvolvesse uma arma nuclear, mas que também arriscaria entregar um novo conflito a seu sucessor. Biden não deu luz verde a um ataque durante a reunião e não o fez desde então, disseram as fontes.
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| O presidente Biden conversa com seu conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, durante uma mesa redonda em outubro de 2023. Foto: Drew Angerer / Getty Images |
Uma autoridade dos EUA com conhecimento do assunto disse que a reunião na Casa Branca não foi motivada por novas informações ou pretendia terminar em uma decisão de sim ou não de Biden. Em vez disso, foi parte de uma discussão sobre "planejamento de cenário prudente" de como os EUA deveriam responder se o Irã tomasse medidas como enriquecer urânio a 90% de pureza antes de 20 de janeiro, disse o funcionário.
Outra fonte disse que atualmente não há discussões ativas dentro da Casa Branca sobre uma possível ação militar contra as instalações nucleares do Irã.
Alguns dos principais assessores de Biden argumentaram internamente que duas tendências - a aceleração do programa nuclear do Irã e o enfraquecimento do Irã e seus representantes em sua guerra com Israel - juntas dão a Biden um imperativo e uma oportunidade de atacar.
As fontes disseram que alguns dos assessores de Biden, incluindo Sullivan, acham que a degradação das defesas aéreas e capacidades de mísseis do Irã, juntamente com o enfraquecimento significativo dos representantes regionais do Irã, aumentaria as chances de um ataque bem-sucedido e diminuiria o risco de retaliação iraniana e escalada regional.
A autoridade dos EUA disse que Sullivan não fez nenhuma recomendação a Biden sobre o assunto, mas apenas discutiu o planejamento de cenários. A Casa Branca se recusou a comentar.
Uma fonte disse que Biden se concentrou na questão da urgência e se o Irã havia tomado medidas que justificassem um ataque militar dramático algumas semanas antes de um novo presidente assumir o cargo.
O Irã há muito nega que esteja buscando uma arma nuclear e enfatizou que seu programa nuclear é apenas para fins civis.
Mas nos últimos meses, várias autoridades iranianas antigas e atuais falaram publicamente sobre a possibilidade de mudar a doutrina nuclear do Irã.
"Você pode olhar para as declarações públicas das autoridades iranianas, que mudaram nos últimos meses à medida que receberam esses golpes estratégicos, para levantar a questão: temos que mudar nossa doutrina em algum momento? O fato de que isso está saindo publicamente é algo que deve ser analisado com muito cuidado", disse Sullivan em uma conferência em Nova York há duas semanas.
No mesmo evento, Sullivan sugeriu que os golpes que o Irã e seus representantes receberam no ano passado poderiam levar Teerã a buscar uma arma nuclear. "Isso gera escolhas para esse adversário que podem ser bastante perigosas, e isso é algo sobre o qual temos que permanecer extremamente vigilantes à medida que avançamos", disse ele.
O programa nuclear do Irã avançou dramaticamente durante o mandato de Biden, levando o Irã ao status de um "estado limiar nuclear" de fato.
O Irã aumentou seu enriquecimento de urânio para 60%, perto o suficiente do nível de 90% necessário para produzir uma arma nuclear para que as centrífugas avançadas do Irã pudessem realizá-lo em questão de dias.
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã tem urânio enriquecido a 60% suficiente para fazer quatro bombas nucleares.
Mesmo que o Irã decidisse construir uma bomba, precisaria desenvolver um dispositivo explosivo nuclear ou ogiva. A inteligência israelense acredita que isso levaria pelo menos um ano.
Um ataque israelense ao complexo militar iraniano de Parchin no final de outubro também destruiu equipamentos sofisticados - que datam de antes de o Irã encerrar seu programa nuclear militar em 2003 - que seriam necessários para projetar e testar um dispositivo explosivo nuclear.
Autoridades israelenses acreditam que isso poderia criar um gargalo crucial se o Irã decidir construir uma bomba.
Mas autoridades americanas e israelenses dizem que, no ano passado, cientistas iranianos realizaram pesquisas suspeitas relacionadas ao armamento nuclear - incluindo modelagem computacional e metalurgia - que parecem ter como objetivo diminuir o tempo necessário para desenvolver um dispositivo nuclear no caso de os líderes do Irã optarem por fazê-lo.
O governo Biden enviou um aviso privado ao Irã na primavera passada expressando sérias preocupações sobre as atividades de pesquisa e desenvolvimento nuclear iraniano, disseram autoridades americanas e israelenses à Axios.
Os EUA e Israel detectaram atividades nucleares suspeitas de cientistas iranianos nos últimos meses, que algumas autoridades temem que possam ser parte de um esforço iraniano secreto para usar o período em torno da transição presidencial dos EUA para progredir em direção ao armamento nuclear.
Sullivan disse no mês passado que o governo Biden havia informado a equipe do presidente eleito Trump sobre o quadro de inteligência sobre o programa nuclear do Irã.
"Eles podem escolher um curso diferente, uma estratégia diferente, mas quero ter certeza de que estamos começando de uma base comum do que estamos enfrentando em relação à ameaça representada pelo programa nuclear do Irã", disse ele.