Síria: Conselho de Segurança da ONU parece unido, dizem diplomatas

Conselho de Segurança da ONU reuniu de emergência para debater situação na Síria, após queda do regime Assad. Rússia diz que países-membro estão "mais ou menos unidos" na preservação da integridade territorial síria.


Deutsch Welle

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se, esta segunda-feira (09.12), para discutir a situação na Síria, depois da queda do regime de Bashar al-Assad, no último domingo. No encontro à porta fechada, disseram diplomatas dos EUA e da Rússia que participaram, os países-membro terão concordado em aguardar por novos desenvolvimentos no país. Segundo as mesmas fontes, os o Conselho está a trabalhar numa declaração conjunta sobre a situação.

Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu para discutir a situação na Síria, após queda do regime de Bashar al-Assad © Lev Radin/Sipa USA/picture alliance

"O Conselho esteve mais ou menos unido sobre a necessidade de preservar a integridade territorial e a unidade da Síria, para garantir a proteção de civis e que a ajuda humanitária chegue", afirmou à imprensa, após a reunião de emergência solicitada por Moscovo, o embaixador russo na ONU Vassili Nebenzia.

Já o vice-embaixador dos EUA, Robert Wood, disse que esta é "uma situação muito fluida".

"Ninguém esperava que as forças sírias caíssem como um castelo de cartas", afirmou.

"Como muitas pessoas disseram nas consultas... a situação é extremamente fluida e provavelmente todos os dias", acrescentou.

O vice-embaixador dos EUA observou ainda que "quase todos os países falaram sobre a necessidade da soberania, integridade territorial e independência da Síria serem respeitadas. E da preocupação com a situação humanitária".

"A intenção é que o Conselho a uma só voz sobre a situação na Síria", disse ele.

Nas vésperas da sessão, Jammes Kariuk, embaixador adjunto do Reino Unido, disse que o Conselho se iria informar sobre a situação no terreno, garantindo que existe apoio à construção de um "processo político inclusivo para o futuro”.

Para Kariu, "este é um momento de esperança”, mas também "de incerteza para os sírios”.

"Aguardamos com expetativa as declarações do enviado especial da ONU sobre a forma como os vai ajudar a construir esse futuro político”.

Conversações sobre governança já começaram

Na segunda-feira, Ibrahim al-Hadid, o secretário-geral do partido sírio Baath, que era liderado por Al-Assad, garantiu que vai "apoiar uma fase de transição na Síria, visando defender a unidade do país".

Ahmad al-Chareh encontrou-se, também na segunda-feira, com o ex-primeiro-ministro Mohammed al-Jalali para coordenar uma transição de poder garantindo a prestação de serviços" à população síria, anunciou o HTS. Também esteve presente no encontro o primeiro-ministro que lidera o "Governo de Salvação" do bastião dos rebeldes no noroeste da Síria.

Antes, o movimento encarregou Mohamed al-Bashir, o líder do "Governo de Salvação" - a administração de facto na província síria do norte de Idlib controlada pelo HTS - de formar um Governo de transição, noticiou a televisão síria, dirigida agora pela oposição.

Segundo a televisão síria, a reunião entre os líderes rebeldes e o ex-primeiro-ministro destinou-se a evitar que o país entre num estado de caos depois da queda do regime.

HTS é considerada organização terrorista

No entanto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, deixou aberta a possibilidade de reconhecer a legitimidade de um eventual Governo da Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS), que liderou o derrube do ex-Presidente sírio Bashar al-Assad.

"Penso que estamos todos ansiosos por saber o que o futuro nos reserva, mas penso que temos de levar as coisas aos poucos, vendo como vão progredindo dia após dia e mantendo determinados objetivos", disse o porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric, acrescentando que o importante é que o povo sírio tenha o "melhor futuro possível", "um futuro da sua escolha, que seja inclusivo, e respeite os direitos das minorias".

Alemanha e França garantiram que estão "preparados para cooperar com os novos líderes sírios" mediante certas condições, nomeadamente, o respeito do direitos humanos e a proteção das minorias étnicas e religiosas.

Embora o HTS insista que não tem ambições 'jihadistas' nem faz parte de entidades externas, a ONU, a União Europeia e potências como os Estados Unidos, entre muitas outras, ainda o consideram uma organização terrorista.

O porta-voz do secretário-geral da ONU esclareceu, entretanto, que a decisão de retirar o HTS da lista de organizações terroristas, da qual faz parte desde 2018, caberá ao Conselho de Segurança.

"Agora temos que lidar com o imediato, com a realidade do momento", disse.

Segundo o embaixador russo na ONU e o vice-embaixador dos EUA, o tema não foi ainda debatido no Conselho.

Violações dos direitos humanos

Entretanto, e neste dia 10 de Dezembro, data em que se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos, o comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Volker Turk, apelou a que se investiguem as violações registados nos últimos 50 anos pelo regime Assad.

"Qualquer transição política deve assegurar a responsabilização dos autores de violações graves. Também é imperativo que todas as provas sejam recolhidas e preservadas minuciosamente para utilização futura”, disse.

Volker Turk defende, porém, que os casos sejam julgados pelo sistema judiciário sírio.

"(…) que permita julgamentos justos, em relação a todos suspeitos de terem cometido crimes de atrocidade. E isto aplica-se também ao antigo Presidente da Síria e a todos os que ocupavam cargos de chefia”.

As Nações Unidas estimam que mais de 100.000 pessoas desapareceram durante a guerra civil e a utilização de tortura e de armas químicas.


Postagem Anterior Próxima Postagem

نموذج الاتصال