Lavrov: Rússia não quer agravar situação, mas ATACMS e mísseis de longo alcance desafiam o país

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Em entrevista concedida ao jornalista norte-americano Tucker Carlson, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que seu país não quer agravar a situação, mas foi obrigado a enviar um sinal com o míssil Oreshnik para responder às ameaças de ATACMS e outras armas de longo alcance contra o território russo.


Sputnik

"Esperamos […], algumas semanas atrás, [que] o sinal com o novo sistema de armas chamado Oreshnik tenha sido levado a sério", disse o ministro na entrevista veiculada nesta quinta-feira (5).

Sergei Lavrov © Sputnik / Sergei Guneev

O chanceler reiterou que "a Rússia não começou uma guerra" e que o país prefere soluções pacíficas que respeitem o interesse legítimo de segurança da Rússia e os interesses e direitos das pessoas que vivem na Ucrânia, inclusive os russos que habitam o país vizinho.

"[O presidente russo, Vladimir] Putin, disse repetidamente que começamos a operação militar especial para acabar com a guerra que o regime de Kiev estava conduzindo contra seu próprio povo na região de Donbass. E apenas em sua última declaração o presidente Putin indicou claramente que estamos prontos para qualquer eventualidade."

Lavrov também apontou que uma fala de Thomas Buchanan, contra-almirante do Comando Estratégico dos Estados Unidos, "permite uma eventual troca de ataques nucleares limitado". Entretanto, o chanceler afirmou que a Rússia não gosta da ideia de pensar em uma guerra com os EUA, que teria caráter nuclear.

"Nossa doutrina militar diz que o mais importante é evitar uma guerra nuclear. E fomos nós, a propósito, que iniciamos em janeiro de 2022 a mensagem, a declaração conjunta dos líderes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança dizendo que faremos qualquer coisa para evitar o confronto entre nós, reconhecendo e respeitando os interesses e as preocupações de segurança uns dos outros. Essa iniciativa foi nossa".

Ocidente não se preocupa com direitos humanos da população russa?

O chanceler recordou e trouxe para a conversa o momento em que o Ministério das Relações Exteriores e o presidente Putin estiveram prontos para negociar a questão ucraniana com base nos princípios acordados em Istambul, mas "rejeitados por Boris Johnson [então primeiro-ministro do Reino Unido], de acordo com a declaração do chefe da delegação ucraniana", disse.

A Rússia, segundo o ministro, preza por uma negociação que inclua um acordo que respeite "o interesse legítimo de segurança da Rússia e as pessoas que vivem na Ucrânia, que ainda vivem na Ucrânia sendo russos".

Dessa forma, declarou a legislação do regime de Kiev que "proíbe a língua russa, a mídia russa, a cultura russa, a Igreja Ortodoxa Ucraniana" inadmissível, salientando que a Ucrânia viola a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e que o Ocidente não se manifesta a respeito.

"O Ocidente [desde que essa ofensiva legislativa russofóbica começou em 2017] ficou totalmente em silêncio e está em silêncio até agora. É claro que teríamos que prestar atenção a isso de uma forma muito especial", argumentou.

Segundo Lavrov, os países ocidentais em qualquer conflito se manifestam sobre direitos humanos violados. Entretanto, "nunca murmuraram as palavras 'direitos humanos', vendo esses direitos humanos para a população russa e de língua russa", acrescentou.

Biden quer deixar 'o pior legado possível' para Trump

Em relação aos EUA, Lavrov salientou que Moscou gostaria de ter "relações normais" com Washington e lembrou que o presidente Putin expressou repetidas vezes respeito pelo povo e pela história dos norte-americanos.

"Não vemos nenhuma razão pela qual a Rússia e os Estados Unidos não possam cooperar pelo bem do universo", abordou.

Já sobre a troca de comando nos EUA, o ministro russo afirmou ser evidente que "o governo Biden pretende deixar o pior legado possível para o governo [do presidente eleito, Donald] Trump".

Lavrov lamentou que, durante o primeiro governo Trump, seu antecessor na Casa Branca, o ex-presidente Barack Obama, criou uma indisposição diplomática.

"O presidente Obama expulsou diplomatas russos. Bem no final de dezembro, 120 pessoas com familiares. Fez isso de propósito. Exigiu que eles saíssem no dia em que não havia voo direto de Washington para Moscou. Então eles tiveram que ir para Nova York de ônibus com toda a bagagem, com crianças, e assim por diante", mencionou.

Para o chanceler, Biden tenta repetir o episódio de afastar "um início promissor" entre a administração Trump e o governo russo ao insistir em alongar o conflito na Ucrânia.

Perguntado sobre suas impressões a respeito do presidente eleito dos EUA, Lavrov destacou que vê Trump como uma "pessoa forte, que quer resultados e que não gosta de procrastinação".

"Isso não significa que ele seja pró-Rússia, como algumas pessoas tentam apresentá-lo. A quantidade de sanções que recebemos sob o governo Trump foi muito grande", salientou o chanceler.

'Os EUA não estão acostumados a respeitar a igualdade dos Estados'

Ao repórter norte-americano, o chanceler russo apontou diferenças importantes entre Moscou e Washington em suas abordagens internacionais. O ministro disse que os EUA usam a ideia de "ordem mundial baseada em regras" como pretexto para tentar manter sua hegemonia, enquanto a Rússia luta por interesses legítimos de segurança.

"Eles lutam para manter a hegemonia sobre o mundo em qualquer país, qualquer região, qualquer continente. Nós lutamos por nossos interesses legítimos de segurança. Lindsey Graham, que visitou há algum tempo Vladimir Zelensky para outra palestra, sem rodeios, em sua presença disse que a Ucrânia é muito rica em metais de terras-raras, e eles não podem deixar essa riqueza para os russos", destacou Lavrov.

Ainda de acordo com o ministro, Kiev luta "pelo regime que está pronto para vender ou dar ao Ocidente todos os recursos naturais e humanos", enquanto os russos lutam "pelas pessoas que vivem nessas terras, cujos ancestrais estavam realmente desenvolvendo essas terras, construindo cidades, construindo fábricas por séculos e séculos".

"Nós nos importamos com as pessoas, não com os recursos naturais que alguém nos Estados Unidos gostaria de manter e ter ucranianos apenas como servos sentados nesses recursos naturais", acrescentou.

No âmbito das relações internacionais, Lavrov disse preferir como trabalham o BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), "onde o princípio da Carta da ONU de igualdade soberana dos Estados é realmente incorporado".

"Os EUA não estão acostumados a respeitar a igualdade soberana dos Estados quando os EUA dizem que não podem permitir que a Rússia vença a Ucrânia, porque isso prejudicaria a ordem mundial deles baseada em regras, e a ordem mundial baseada em regras é a dominação americana", argumentou.

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