A decisão foi anunciada nesta segunda-feira (9). Com isso, a crise da indústria bélica sediada em Jacareí (SP) continua.
Por g1 Vale do Paraíba e Região
O investidor brasileiro que negociava a compra da Avibras, indústria bélica sediada em Jacareí (SP), informou nesta segunda-feira (9) que desistiu do negócio.
Avibras — Foto: Reprodução/TV Vanguarda |
A decisão foi comunicada por meio de uma carta. No documento, o grupo de investidores informou que “não foram cumpridas as condições precedentes consideradas como essenciais ao fechamento do negócio dentro do prazo estabelecido em contrato”.
As negociações haviam começado em 25 de outubro (há 45 dias). Na ocasião, o investidor assinou um acordo com a Avibras para discutir a aquisição do controle da empresa.
Ainda na ocasião, a Avibras informou que a conclusão do negócio dependia de vários fatores e do cumprimento de uma série de condicionantes estabelecidas no contrato - como nem todas as condicionantes foram cumpridas neste período, o investidor decidiu desistir da compra.
Com isso, os investidores “tomaram a decisão de não solicitar a prorrogação das obrigações previstas em contrato, que incluem o compromisso de um regime de exclusividade nas negociações”.
Na carta, o grupo afirmou que permanecem abertos a novas negociações no futuro “caso haja avanços concretos no cumprimento das condições que consideram necessárias para viabilizar a aquisição da companhia”.
Por fim, o grupo comunicou que com, o encerramento do acordo de exclusividade, a Avibras pode explorar negociações com outras empresas que tenham interesse na indústria.
Como não houve acordo, a crise financeira da Avibras continua. Os funcionários, que estão em greve, não recebem salários há 20 meses - leia mais detalhes abaixo.
A Avibras emitiu uma nota informando que foi surpreendida pela desistência e que já está em contato com outro investidor para prosseguir com as tratativas necessárias à realização do investimento.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, que conduzia a negociação do investidor com os funcionários, por conta da dívida trabalhista da Avibras, também se pronunciou e disse que considera 'lamentável' a desistência do negócio.
"O Sindicato considera lamentável a desistência da transação comercial, uma vez que a Avibras e o investidor, que se mantém no anonimato, geraram grandes expectativas nos trabalhadores, que estão há 20 meses sem salário, FGTS e INSS", informou o sindicato.
Início das negociações
A indústria bélica Avibras afirmou no fim de outubro que a venda da empresa estava sendo negociada com um investidor brasileiro. O nome do investidor e o valor do negócio não foram revelados.Segundo a Avibras, no dia 25 de outubro, o investidor brasileiro assinou um acordo com a empresa para negociar possível aquisição do controle da companhia, o que a indústria bélica, que vive uma crise, classificou como um avanço significativo no “processo de recuperação financeira”.
Apesar da assinatura, a Avibras informou que a conclusão do negócio ainda dependia de outros fatores, como o cumprimento de condicionantes estabelecidas em contrato.
“O fechamento efetivo da aquisição somente poderá ocorrer se cumpridas todas as condições estabelecidas no acordo”, diz trecho da nota da Avibras. A empresa não detalhou o acordo firmado na época.
Negociação com os funcionários
Antes da desistência do negócio, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos havia definido que os trabalhadores da Avibras só iriam votar a proposta apresentada pelos investidores após a conclusão da compra da companhia pelo investidor.No dia 28 de novembro, os investidores apresentaram uma proposta final para categoria. Dois dias depois, em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, o sindicato condicionou a votação da proposta ao fechamento do negócio para não gerar expectativas nos trabalhadores.
A proposta feita pelos representantes do investidor contemplava estabilidade no emprego até abril de 2025, extensão de cláusulas sociais, entre outros.
Veja abaixo a proposta que foi apresentada pela empresa:
- Data para reestabelecimento do plano de saúde;
- Pagamento do 13º deste ano no dia 20 de dezembro;
- Pagamento do salário de dezembro no dia 30/12/2024;
- Extensão das cláusulas sociais do Acordo Coletivo até a data-base 2026;
- Estabilidade do emprego até 30 de abril de 2025 aos empregados que assinarem termo de anuência e voltarem a prestar serviços para a Avibras;
- Abono de R$ 4 mil, pagos em duas parcelas, ao colaborador que retornar ao trabalho.
A proposta também estabelecia os pagamentos individuais dos respectivos saldos de salários, 13º salários e férias, variando de 1 a 13 parcelas, com início em janeiro de 2025.
- Salário de até R$ 5 mil: até 5 parcelas;
- Salário de até R$ 6 mil: até 6 parcelas;
- Salário de até R$ 8 mil: até 8 parcelas;
- Salário de até R$ 11 mil: até 10 parcelas;
- Salário de até R$ 15 mil: até 12 parcelas;
- Salário acima de R$ 15 mil: até 13 parcelas.
O documento citava ainda que seriam feitos os pagamentos individuais a título de multas normativas e inibitória, cujo valor somado equivaleria à correção dos respectivos saldos salariais, 13º salários e férias atrasadas pela variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) mais 2% ao ano, entre a data do vencimento da obrigação e a data do acordo, de forma indenizada, em duas parcelas iguais e sucessivas, sendo a primeira em fevereiro e a segunda em março de 2026.
Segundo a proposta, os valores individuais das multas seriam disponibilizados pela Avibras a cada trabalhador.
Crise da Avibras
Confira a linha do tempo da crise e da situação da Avibras:- março de 2022: a Avibras pediu recuperação judicial alegando uma dívida de R$ 600 milhões
- setembro de 2022: os trabalhadores entraram em greve por causa dos atrasos nos salários
- julho de 2023: o plano de recuperação judicial foi aprovado
- abril de 2024: a Avibras anunciou que negociava a venda para a empresa australiana Defendtex
- junho de 2024: a Defendtex desistiu da compra
- junho de 2024: o Ministério da Defesa informou que a Avibras havia recebido nova proposta, desta vez de um possível investidor chinês
- outubro de 2024: a Avibras afirmou que negociava com um investidor brasileiro
- dezembro de 2024: o investidor brasileiro desistiu do negócio
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a dívida adquirida pela Avibras durante o período de recuperação judicial - de 2022 para cá - é de mais de R$ 320 milhões.
Quando o processo de recuperação começou, a empresa de Jacareí tinha cerca de 1,4 mil funcionários. Atualmente, são 919 funcionários, que estão em greve desde setembro de 2022.
A Avibras
A Avibras Aeroespacial é a maior indústria bélica do país e foi fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos. Ela é uma das primeiras empresas nacionais a atender o setor aeroespacial.A empresa desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil. A organização foi uma das primeiras no Brasil a construir aeronaves, desenvolver e fabricar veículos espaciais para fins civis e militares.
Presente no mercado nacional e internacional, a empresa tem sede em Jacareí, no interior de São Paulo, e desenvolve motores de foguetes para as forças armadas, entre outras coisas.
Tags
Brasil