Presidente diz em entrevista à CNN que 'não é bom' que a Rússia, alvo de sanções por invadir o país vizinho, fique isolada
Marianna Holanda e Renato Machado | Folha de S.Paulo
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em entrevista divulgada nesta sexta-feira (8) que é preciso trabalhar para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu e para que o presidente russo, Vladimir Putin, volte a conquistar, de maneira civilizada, "o direito de andar pelo mundo".
O presidente Lula (PT) em reunião com governadores no Palácio do Planalto. - Adriano Machado-31.10.2024/REUTERS |
Lula também disse que é não é bom para a democracia ter um país como a Rússia isolado do mundo "porque ele [Putin] tomou uma decisão e o tribunal julgou". O presidente russo atualmente é alvo de um mandado de prisão, expedido pelo Tribunal Penal Internacional, por supostos crimes cometidos durante a invasão do país vizinho. Por esse motivo, ele não virá ao Rio, para a cúpula de chefes de Estado do G20, nos próximos dias 18 e 19.
As declarações foram dadas em entrevista à CNN Internacional. A conversa foi gravada na quinta-feira (7), mas a íntegra da transmissão foi ao ar na tarde desta sexta.
Lula então foi questionado sobre a intenção inicial de proteger Putin para que ele pudesse vir ao Brasil para participar da cúpula do bloco.
Como a Folha revelou, o governo Lula chegou a produzir um parecer jurídico para embasar a possível vinda de Putin ao Brasil. No entanto, o presidente russo anunciou que não participaria da cúpula do G20 no Rio.
"O problema não é apenas proteger o Putin para não ser preso no Brasil, que essa é a coisa mais fácil de fazer. O problema é que você tem no G20 vários presidentes da República que não ficariam na sala se o Putin entrasse", afirmou o presidente.
Lula então acrescentou que a situação seria desconfortável. Por isso defendeu que o mundo trabalhe para encontrar uma solução para o conflito e acrescentou que Putin poderia voltar a participar de eventos internacionais.
"O que eu acho é que nós precisamos trabalhar para que essa guerra acabe de uma vez por todas e o Putin volte a conquistar o direito de forma civilizada andar no mundo e participar dos eventos. Não é importante para o mundo que quer construir democracia, ver um presidente de um país importante como a Rússia isolado, porque ele tomou uma decisão e um tribunal internacional o julgou", afirmou.
O presidente brasileiro também disse ter ficado satisfeito com a fala do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de querer acabar com o conflito no leste europeu.
"E eu fico feliz quando você [a jornalista] disse que se depender do discurso do Trump, ele vai acabar com essa guerra. E eu acho importante acabar com a guerra porque nós precisamos de paz. O mundo precisa de paz para sobreviver pacificamente, para crescer economicamente, para que a gente possa melhorar a qualidade de vida dos seres humanos que estão sendo descartados nesse mundo", afirmou.
O governo brasileiro foi criticado em diversos momentos, por adotar uma postura vista por Estados Unidos e União Europeia como favorável a Moscou, no conflito no leste europeu.
Lula acrescentou que o Brasil desde o início criticou a invasão territorial russa. Por outro lado, a posição brasileira vem sendo de facilitar a negociação de paz, colocando numa mesma mesa os lados envolvidos.
O regime de Volodimir Zelenski, por sua vez, vem se negando a qualquer tipo de negociação, que não envolva a retirada das tropas de territórios invadidos. Americanos e europeis apoiam a postura do ucraniano.
A eleição de Donald Trump, no entanto, indica uma alteração no conflito, caso cumpra com a promessa de retirar a ajuda que vem sendo oferecida para o lado ucraniano. Brasil e China articulam uma proposta conjunta de um plano de paz para Ucrânia e Rússia.
O documento foi anunciado em maio, durante uma visita de Celso Amorim a Pequim, e assinado por ele e por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China.
Uma reunião com líderes mundiais foi realizada, convocada pelos dois países, às margens da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro. No total, 15 países participaram nda reunião para discutir um processo de paz na Ucrânia. Ao final do encontro, porém, quatro deles não assinaram o documento negociado no encontro.
A iniciativa é rejeitada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e considerada por Estados Unidos e aliados no Ocidente como favorável à Rússia.
ORIENTE MÉDIO
Lula voltou a criticar a atuação de Israel na Faixa de Gaza, vitimando milhares de mulheres e crianças. O presidente, falando para a audiência internacional e majoritariamente americana da emissora, voltou a afirmar que também condenou prontamente a ação do Hamas, mas que a reação foi desproporcional e "desumana".
"O que não é correto é a gente ver um país, um Estado forte como Israel, acabar com um povo que mora na Faixa de Gaza, onde milhares de mulheres, mais de 40 mil mulheres e crianças foram assassinadas numa guerra totalmente injusta", afirmou o presidente.
"E nós condenamos o Hamas quando ele invadiu o Tel Aviv e ao mesmo tempo nós condenamos o Israel contra essa vingança desumana que ele fez na Faixa de Gaza", afirmou.