A invasão russa em grande escala à Ucrânia marcou 1.000 dias nesta terça-feira, com tropas cansadas lutando em várias frentes, Kiev sitiada por ataques de drones e mísseis e as autoridades se preparando para que Donald Trump assuma a Presidência dos Estados Unidos em janeiro.
Por Tom Balmforth | Reuters
KIEV - Em um impulso para o país sitiado, o presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou o uso de mísseis norte-americanos contra alvos mais profundos dentro da Rússia, potencialmente limitando as opções russas para lançar novos ataques e abastecer as linhas de frente.
Homem observa casa destruída por ataque aéreo russo, em Zaporizhzhia, na Ucrânia 10/10/2024 REUTERS/Stringer |
Mas especialistas militares dizem que a mudança não será suficiente por si só para alterar o curso da guerra de 33 meses, e alterações potencialmente mais consequentes na postura dos EUA são esperadas quando Trump retornar ao poder, tendo ele se comprometido a encerrar a guerra rapidamente sem dizer como.
Zelenskiy publicou um vídeo de momentos dramáticos da guerra, incluindo seu discurso anunciando o início da invasão, no qual ele disse: "Não entrem em pânico, somos fortes, estamos prontos para tudo, vamos derrotar (todos) eles."
Milhares de cidadãos ucranianos já morreram, mais de 6 milhões vivem como refugiados no exterior e a população caiu em 25% desde que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a invasão por terra, mar e ar que deu início ao maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
As perdas militares têm sido catastróficas, embora os números de vítimas continuem sendo segredos bem guardados. Estimativas ocidentais baseadas em relatórios de inteligência dizem que centenas de milhares de pessoas foram feridas ou mortas em cada lado.
A tragédia tem afetado famílias em todos os cantos da Ucrânia, onde funerais militares são comuns nas principais cidades e nos vilarejos mais distantes, e as pessoas estão exaustas com as noites de insônia e angústia causadas pelas sirenes de ataque aéreo.
No primeiro ano após a invasão, as tropas ucranianas afastaram as Forças russas dos arredores de Kiev e recapturaram grandes extensões de território com sucessos militares surpreendentes contra um inimigo maior e mais bem armado.
Mas, desde então, os inimigos têm se estabelecido em uma guerra de trincheiras implacável que transformou as cidades do leste ucraniano em pó. As Forças russas ainda ocupam 20% da Ucrânia e, no último ano, ganharam terreno de forma lenta, mas constante.
"Nas trincheiras congeladas da região de Donetsk e nas estepes em chamas da região de Kherson, sob projéteis, granizo e armas antiaéreas, estamos lutando pelo direito de viver", escreveu o comandante supremo da Ucrânia, Oleksandr Syrkyi, no Telegram.
O retorno de Trump, que tem criticado a escala da ajuda dos EUA, coloca em questão a frente ocidental unida contra Putin, mas também aumenta a perspectiva de negociações para acabar com a luta. Não se sabe se tais discussões foram realizadas desde os primeiros meses da guerra.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse na semana passada que a Ucrânia deve fazer o possível para acabar com a guerra no próximo ano por meios diplomáticos. Mas, publicamente, não houve redução do abismo entre as posições de negociação dos inimigos.
Kiev há muito tempo exige a retirada total da Rússia de todo o território ocupado e garantias de segurança do Ocidente comparáveis à adesão ao tratado de defesa mútua da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para evitar futuros ataques russos.
O Kremlin diz que a Ucrânia deve abandonar todas as ambições de entrar para a Otan e retirar suas tropas totalmente das províncias que a Rússia alega ter anexado desde sua invasão.