General apontado por Cid como o “mais radical” tinha HD com atualização constante de documento que pregava um golpe militar no Brasil
Mateus Salomão e Thalys Alcântara | Metrópoles
O general Mário Fernandes tinha um HD externo com a frase “Forças Especiais”, no qual era mantido um arquivo e que passava por constantes atualizações de um texto que defendia um golpe militar para impedir a posse do presidente Lula.
Montagem/ Ilustrativa/ Reprodução |
“O presidente tem que assinar o artigo 142, a fim de iniciar o processo. Se não dizer isto, nada vai acontecer. Tudo depende disso. Temos um dia. Assinado o documento pelo PT, as Forças Armadas tomarão as providências, a fim de restabelecer a lei e a ordem. O fuzil jamais pode se curvar diante da toga”, defendia trecho do documento em uma edição do dia 30 de dezembro de 2022, pouco antes da posse de Lula.
As informações estão em inquérito da Polícia Federal (PF) sobre o plano de assassinar Lula que a reportagem do Metrópoles teve acesso.
Parte do artigo 142 da Constituição Federal é usado pelos militares golpistas como justificativa para uma “intervenção” nos outros poderes. Na época, havia uma expectativa de Lula utilizar o artigo por causa do cenário instável da política no Brasil — com manifestações pró-golpe militar em todo o país.
O general Mário é apontado como o general “mais radical” em delação premiada do ex-chefe da Ajudância de Ordem de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Ele é um dos quatro presos na última terça-feira (19/11) por suspeita de arquitetar o plano “Punhal Verde Amarelo”, que incluía os assassinatos de Lula, do vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Mário Fernandes foi chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Bolsonaro, entre outubro de 2020 e janeiro de 2023. Além disso, está entre os 37 indiciados pela PF por tentativa de golpe e abolição violência do Estado.
Manifesto radical
O manifesto golpista no HD do general Mário era editado constantemente por um autor denominado “Naylor”, segundo análise dos metadados do equipamento eletrônico feita pela PF.O arquivo tinha o título de “O Povo Brasileiro” e era apócrifo. A primeira versão do texto é de 20 de novembro de 2022.
Na última versão, de maio de 2023, o texto orienta os parlamentares a “tomar cuidado” com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e pede ajuda para enterrar a CPMI dos atos de 8 de janeiro.
A versão final possui frases atribuídas ao veterano do exército dos EUA Charles Province, que defende que graças aos soldados existem a religião, liberdade de imprensa, o ensino, voto e o direito a julgamento.
Colaborou Maria Eduarda Portelo e Junio Silva