Desde a semana passada, o governo de Portugal enfrenta um problema delicado - e para o qual ainda não achou uma saída.
Jorge de Souza | UOL
O navio cargueiro MV Kathrin, que pertence a um armador alemão mas navega com bandeira portuguesa, vem sendo sistematicamente impedido de atracar em portos do Adriático e Mediterrâneo, por suspeita de estar transportando explosivos altamente perigosos destinados à Israel, que seriam usados em territórios palestinos, na guerra contra o Hamas.
O movimento, que gerou um impedimento em cadeia da atracação do navio nos mais diferentes portos, vem sendo liderado por organizações dos direitos humanos, que alegam que o navio transporta oito contêineres de um explosivo chamado RDX, também conhecido como Hexogeno, de altíssimo poder destrutivo, encomendado pelo governo israelense.
Segundo a Anistia Internacional, isto fere a legislação do direito internacional que proíbe a transferência de armas para partes envolvidas em conflitos armados quando houver risco de matanças em massa e crimes de guerra, como as entidades estimam que possa acontecer nos territórios palestinos que vem sendo atacados por Israel.
Com isso, passaram a pressionar o governo português para que cace o registro do navio, a fim de que ele não possa atracar em porto algum, impedindo assim que os explosivos cheguem até Israel.
Até agora, o MV Kathrin já foi proibido de atracar na Namíbia, em Montenegro (que seria o seu destino original), Eslovênia, Croácia, e agora também na ilha de Malta, apesar de seu armador alegar que o navio precisa parar em algum porto, a fim de repor suprimentos e trocar a tripulação.
Na última tentativa, os ativistas do grupo humanitário Moviment Graffitti pressionaram o governo maltês, afirmando que caso permitisse a parada do navio, o país seria responsabilizado por envolvimento em um eventual genocídio contra a população civil da Palestina. E a autorização foi negada.
O MV Kathrin vem sendo monitorado pela Anistia Internacional desde que partiu do porto de Hai Phong, no Vietnã, no final de julho, com os contêineres de explosivos que haviam sido encomendados pelo governo israelense.
Apelidado pela imprensa portuguesa de "Navio da Vergonha", por usar a bandeira de Portugal e colocar o país na incômoda posição de conivência com as intenções do governo de Benjamin Netanyahu -, o MV Kathrin está, neste momento, navegando sem rumo definido, à espera de uma solução para o imbróglio que ainda não se sabe como será resolvido.
Segundo a empresa dona do navio, já foi pedida a mudança de registro do navio de Portugal para outro país não informado (prática conhecida no meio marítimo como "Bandeira de Conveniência, que permite aos navios serem registrados em outras nações que não as de seus proprietários), mas isto ainda está sendo processado.
Enquanto isso, como estaria em meio a um processo de mudança de registro, o navio não legalmente pode atracar em porto algum, o que de certa forma favorece as intenções dos grupos humanitários, que acusam o governo de Israel de estar promovendo uma campanha genocida contra o povo palestino, com mais de 42 000 civis mortos, entre eles perto de 17 000 crianças.
O objetivo é impedir que o "Navio da Vergonha" possa descarregar sua carga explosiva em algum porto da região, e que ela, de alguma forma, chegue até Israel.
Até agora, vem dando certo.