Governo discute compra de novo avião após falha deixar Lula voando em círculos

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Auxiliares citam segurança e ampliação da agenda internacional como justificativas; orçamento é empecilho


Renato Machado e Marianna Holanda | Folha de S.Paulo

Brasília - Integrantes do governo Lula (PT) afirmam que o problema técnico desta terça-feira (1º) no avião que trazia o presidente e sua comitiva de volta do México dá impulso para retomar as discussões sobre a compra de uma nova aeronave.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca no México acompanhado da primeira-dama, Janja - Alfredo Estrella - 29.set.24/AFP

O tema esbarra, no entanto, em dificuldades orçamentárias. Os recursos viriam do ministério da Defesa, que foi um dos maiores afetados com os cortes neste ano. A pasta alega que sofreu queda de 47% nas despesas discricionárias nos últimos dez anos.

Auxiliares de Lula que defendem a compra de novo avião alegam que será preciso alguma forma de suplementação orçamentária, e que beneficiaria não apenas Executivo, mas os outros Poderes, que também têm integrantes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal que viajam na aeronave com o presidente.

Lula já havia reclamado seguidas vezes de seu avião no ano passado. Um dos principais pontos de crítica era a falta de autonomia da aeronave, que obriga a comitiva presidencial a sempre fazer escalas para reabastecimento em voos mais longos.

As seguidas reclamações levaram a FAB (Força Aérea Brasileira) e a equipe responsável por sua segurança a começar a prospectar possibilidades de compra de aviões no mercado. No entanto, o assunto acabou esfriando, em um momento de maior austeridade e cortes nos gastos.

Lula havia determinado no ano passado que a Aeronáutica apresentasse opções para a substituição e pediu um avião maior e com mais autonomia. Os militares têm como plano preferencial comprar um avião com configuração VIP usado.

Os olhos recaem para a versão executiva do Airbus A330. Embora um avião zero quilômetro possa sair por mais de US$ 250 milhões (R$ 1,23 bilhão), por baixo, um aparelho usado pode sair significativamente mais barato — talvez menos que US$ 40 milhões (quase R$ 200 milhões), a depender da barganha.

No entanto, um integrante da equipe de segurança de Lula avalia que é difícil encontrar um avião usado que necessite de poucas adaptações para atender as necessidades do governo brasileiro.

Um dia após o episódio no México, integrantes do governo passaram a criticar publicamente as condições proporcionadas pelo chamado VC-1, o avião presidencial, também conhecido com Aerolula.

"A FAB tem um grupo especial que acompanha e é responsável pela manutenção desses aviões que servem a presidência. Vamos esperar qual é a análise que vão fazer, mas de fato não podemos colocar o presidente da República em uma situação como essa", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, durante entrevista.

Padilha acrescentou ainda que a FAB precisa fazer um diagnóstico "o mais rápido possível para tomar decisões sobre isso, para que de fato tenha condições técnicas melhores para servir o presidente da República, os ministros que vão junto, o próprio parlamento".

Interlocutores na Casa Civil e no Ministério da Defesa também apontam que a discussão deverá ganhar força nos próximos dias.

Um assessor palaciano afirma que o atual avião é considerado obsoleto, ainda mais no contexto atual de diplomacia presidencial. Cita que muitos fóruns e grupos foram criados nos últimos 20 anos, multiplicando a quantidade de reuniões e cúpulas em diferentes partes do mundo. Houve uma "descentralização das agendas", com cúpulas e eventos importantes em continentes que anteriormente não costumavam sediar eventos, como a Ásia.

Agora, a questão da segurança se torna um novo argumento na discussão, além das necessidades logísticas, acrescenta o assessor.

Nesta quinta-feira (3), Lula também deve ter uma reunião com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que encurtou as suas férias para retornar a Brasília. Aliados apontam que a antecipação não tem relação direta com o incidente no voo do presidente, tanto que as passagens de volta dos Estados Unidos já estavam compradas.

O objetivo central seria discutir a operação de repatriação de brasileiros do Líbano, cujo primeiro avião decolou também nesta quarta-feira (2). No entanto, interlocutores no Planalto apontam que certamente Lula vai cobrar o seu ministro sobre o incidente.

O chamado Aerolula teve um problema técnico pouco após decolar, no aeroporto da Cidade do México, na tarde desta terça-feira (1º). Como não conseguiu se desfazer de parte do combustível, precisou ficar andando praticamente em círculos para esvaziar o tanque para conseguir pousar com segurança. Foram 50 voltas sobre o território mexicano ao longo de quase cinco horas.

Lula depois pousou no Aeroporto Internacional Felipe Ángeles, próximo à Cidade do México, após horas sobrevoando o país para queimar combustível e poder chegar ao solo em segurança. O piloto do avião chegou a declarar urgência nas comunicações com a torre de controle do aeroporto logo após a decolagem.

Após o pouso, a comitiva presidencial embarcou no avião reserva da Presidência e seguiu viagem para Brasília, chegando apenas na manhã desta quarta-feira. Lula reclamou das condições durante o voo, sem telefone e internet em alguns momentos para se comunicar com o Planalto.

A FAB não informou qual seria o problema, mas numa nota relatou que todos os procedimentos de segurança para solucioná-lo foram realizados com sucesso.

Uma das hipóteses apontadas por integrantes do governo é que tenha havido um problema em um dos motores, após ter atingido um pássaro. Militares da Aeronáutica, no entanto, afirmam nos bastidores que apenas com investigação da aeronave em solo será possível apontar a causa.

A queima de combustível é necessária pois os aviões costumam decolar mais pesados, com os tanques praticamente cheios. Um pouso com esse peso apresenta riscos, inclusive de explosão.

Lula estava no México para a posse da nova presidente do país, Claudia Sheinbaum.

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