Apesar de ser a espinha dorsal militar e financeira do Hezbollah, o Irão tem-se mantido silencioso face à escalada do conflito isarelita no Líbano. O que estará por detrás da aparente contenção de Teerã?
Jennifer Holleis | Deutsch Welle
No meio dos esforços internacionais para alcançar um cessar-fogo antes de uma potencial invasão terrestre das forças israelitas no Líbano, um dos principais intervenientes no conflito tem estado visivelmente calado.
O Irão tem estado, por enquanto, a evitar um confronto direto com Israel © Sobhan Farajvan/Pacific Press/picture alliance |
Oficialmente, Israel não está em guerra com o Líbano, mas o Hezbollah - que é considerado uma organização terrorista por vários países, incluindo os EUA e a Alemanha - é financiada, equipada e treinada pelo Irã.
Burcu Ozcelik, investigador sénior para a Segurança do Médio Oriente no Royal United Services Institute, com sede em Londres, disse à DW que o Irão pode ter duvidas quanto a entrar num conflito.
"Parece haver uma relutância por parte do Irão em defender diretamente o Hezbollah, o que implicaria um confronto militar direto com Israel", explica.
Esta opinião é partilhada por Fabian Hinz, especialista em defesa e análise militar no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
Em abril, o Irão lançou um ataque em grande escala contra Israel, mas não conseguiu infligir danos importantes.
Além disso, o recente assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão, e os ataques com pagers a membros do Hezbollah puseram ainda mais em evidência a amplitude do alcance dos serviços secretos de Israel no Irão e em toda a região.
Tudo isto tem vindo a enfraquecer o poder de dissuasão do Irão, bem como a sua credibilidade, e qualquer nova intervenção militar neste conflito implicaria um grande risco.
A estratégia ideológica do Irão
Entretanto, o vice-presidente do Irão, Javad Zarif, afirmou no início desta semana que "acredita que o Hezbollah é capaz de se defender".Para Fabian Hinz, este posicionamento está também muito em linha com a estratégia interna do Irão. "O Irão também tem deixado claro repetidamente que a sobrevivência do regime iraniano é a sua prioridade absoluta. Não se trata apenas de uma política cínica de poder nos bastidores, afirmou que o Islão xiita só pode sobreviver se o sistema iraniano sobreviver e, consequentemente, não quer colocar-se em perigo substancial apoiando o Hezbollah", afirma.
No entanto, se o Hezbollah perdesse os seus principais meios militares estratégicos e a sua capacidade de ataque avançado, Ozcelik considera que o Irão ficaria vulnerável.
"Uma das consequências mais estratégicasda escalada de ataques de Israel no sul do Líbano é que o Irão está a perder a sua capacidade de dissuasão contra um ataque israelita a instalações nucleares. Ora, se o Hezbollah perder os seus principais meios militares estratégicos e a sua capacidade de ataque avançado, isso deixará o Irão vulnerável. Significaria que o Irão teria de assumir diretamente a responsabilidade de retaliar se as suas instalações nucleares fossem atacadas por Israel", argumenta o especialista.
Burcu Ozcelik afirma também que o Irão vai optar por ganhar tempo para poder definir uma abordagem proativa para recuperar a capacidade estratégica do Hezbollah. O que poderá implicar uma vigilância mais apertada da organização e uma maior microgestão para ajudar a reconstituir as infra-estruturas de informação do Hezbollah.
Fabian Hinz fala na possibilidade do Irão aumentar o fornecimento de armas ao Hezbollah ou enviar alguns conselheiros.
"Não quero excluir completamente a possibilidade de uma interferência iraniana mais limitada no conflito, por exemplo, através de alguns conselheiros no terreno. Vimos na Síria que existem modelos em que as milícias xiitas de diferentes países são lideradas por oficiais da Guarda Revolucionária, tudo isto não é impensável, mas penso que uma intervenção importante", diz.
Semeando o caos e a instabilidade através de grupos de representantes iranianos, o Irão tem evitado, até agora, as consequências diretas do conflito.