A Sierra Nevada Corp. (SNC), liderada por Eren Ozmen, lutou durante anos para conquistar o contrato de US$ 13 bilhões (R$ 70,2 bilhões) para a construção dos próximos aviões de defesa nuclear dos Estados Unidos, conhecidos como “Doomsday planes”, ou, em tradução literal, os aviões do dia do juízo final.
Julia Maciel | Forbes Brasil
Agora, a reputação da bilionária — e as finanças de sua empresa — dependem de sua capacidade de executar a manobra mais difícil do setor aeroespacial: completar um projeto complexo e ultrassecreto do governo dentro do prazo e do orçamento estipulado.
Forbes | Cody Pickens |
Avaliado em US$ 13,1 bilhões (R$ 71 bilhões) ao longo de 12 anos, o contrato é um divisor de águas para a SNC, que registrou apenas US$ 2 bilhões (R$ 10,8 bilhões) em receita no ano passado. Durante muito tempo, a empresa se posicionou firmemente no segmento intermediário da indústria aeroespacial e de defesa, distante dos gigantes do setor, como Lockheed Martin (receita: US$ 67,6 bilhões ou R$ 365 bilhões) e Northrop Grumman (receita: US$ 39,3 bilhões ou R$ 212,2).
A Boeing, com quase 40 vezes o tamanho da SNC e US$ 77,8 bilhões (R$ 424 bilhões) em vendas, era considerada a favorita para vencer o contrato, já que projetou os quatro aviões atuais E-4B — também conhecidos como “Doomsday” — nos anos 1970. Desde então, a Boeing manteve contratos de aproximadamente US$ 150 milhões (R$ 818 milhões) por ano para operar a manutenção dessas aeronaves, que, com quatro motores, eram vistas como os melhores modelos para a próxima geração desses aviões. A vitória da SNC foi uma surpresa, com Todd Harrison, analista de defesa do American Enterprise Institute, comentando: “Você olharia para essa disputa e diria: ‘Bom, isso vai para a Boeing’.”
Essas aeronaves ultrarresistentes servem como postos de comando aéreos reservados para os principais líderes militares e políticos em caso de guerra nuclear ou outras catástrofes, como a queda de um asteroide.
“Assumir riscos inteligentes é muito importante”, afirma Ozmen, que transformou a SNC na maior empreiteira de defesa de propriedade feminina do país, fazendo isso. “Isso é uma parte fundamental de ser um empreendedor. Sem isso, na verdade, você está apenas seguindo o que está acontecendo — não liderando.”
Contrato com governo americano
O contrato do Centro de Operações Aéreas Sobrevivíveis, nome oficial do projeto dos Doomsday planes, representa uma montanha de desafios técnicos e de gestão. Para conquistar o projeto da Boeing, os Ozmen tiveram que concordar em realizar uma parte minoritária do projeto a um preço fixo, arcando eles mesmos com os custos excedentes. Essa abordagem pode se mostrar difícil para a ambiciosa empresa, já que um contrato semelhante criou um buraco de US$ 2 bilhões (e crescendo) no balanço da Boeing para a tão atrasada próxima geração dos aviões presidenciais Air Force One.Um ponto positivo, no entanto, é que, ao contrário desse contrato, a estrutura de preços fixos da SNC será limitada à fase de produção, o que significa que a empresa provavelmente não terá que arcar com custos inesperados durante a fase de design, que é mais incerta.
“É assim que a indústria evolui”, diz Loren Thompson, um analista aeroespacial. “Há um novo jogador que opera de maneiras não tradicionais e está disposto a arriscar. E há um jogador mais antigo que hesita em igualar os termos que o novato está oferecendo.
Maior contrato da história da SNC
Dado que este é o maior contrato da história da SNC, Ozmen afirma que a Força Aérea fornecerá uma orientação extensiva: “Eles entendem que esta é a primeira vez que a SNC fará algo assim. Eles querem que tenhamos sucesso.” A SNC também contará com a ajuda de subcontratados experientes, como Lockheed e General Electric. Além disso, a empresa possui décadas de experiência em modificações de aeronaves classificadas e sob medida. Segundo Owens, da Morningstar, “pode realmente ser uma combinação perfeita para eles.”A SNC já alcançou alguns marcos iniciais do programa, incluindo a construção do segundo de quatro hangares de pouso para as novas instalações.
Se tudo correr bem, a SNC espera que esse contrato de grande destaque ajude a acumular uma legião de outros, incluindo a versão da Marinha do avião do Dia do Juízo Final, que será anunciada em janeiro, pela qual está competindo contra a Northrop Grumman. A empresa já está conquistando contratos notáveis, incluindo um pacto de US$ 1 bilhão para desenvolver aviões espiões de longo alcance para o Exército. O objetivo é alcançar US$ 4 bilhões em receita até 2025 e triplicar seu tamanho até 2030.
“Uma vez que você prove que pode executar um programa desse tamanho, você vai conseguir mais 10”, afirma Ozmen. “Não será um negócio como sempre para nós.” Cai Von Rumohr, analista aeroespacial da TD Cowen, complementa: “Eles claramente subiram na hierarquia do setor.”