A Rússia está feliz em ver quaisquer iniciativas relativas ao acordo ucraniano, incluindo a proposta pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia
TASS
NAÇÕES UNIDAS - A Ucrânia encolhe toda vez que as negociações propostas com a Rússia são perturbadas, disse o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, em entrevista coletiva após sua participação na semana de alto nível da 79ª sessão da Assembleia Geral da ONU.
Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov © Sergei Guneyev/POOL/TASS |
"Cada vez que um acordo que a Rússia sempre busca é descarrilado, a Ucrânia encolhe", disse ele, citando a recusa da Ucrânia em implementar os acordos de Minsk e a interrupção das negociações por Kiev em 2022 como exemplo.
Lavrov lembrou como o principal delegado da Ucrânia nas negociações com a Rússia em 2022, David Arahamiya, disse que o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson veio a Kiev e aconselhou a Ucrânia a continuar lutando.
"Se a Ucrânia continuar no mesmo caminho, se continuar a usar alguns truques novamente para ganhar tempo, não terá sucesso", enfatizou Lavrov.
A Ucrânia "minou para sempre" sua legitimidade, pelo menos enquanto o atual regime estiver no poder.
"Espero sinceramente que nossos amigos chineses e brasileiros e todos aqueles que se juntaram a este grupo de 'amigos da paz' levem em consideração as maneiras e os modos da atual liderança ucraniana e suas tentativas intermináveis de atrair a todos por engano em sua areia muito rápida e movediça", apontou Lavrov.
Lavrov também observou que a Rússia está feliz em ver quaisquer iniciativas relativas ao acordo ucraniano, incluindo a proposta pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, desde que ajudem a eliminar as causas profundas da crise.
"Trump disse há algum tempo que precisaria de 24 horas. Agora a redação é diferente", lembrou Lavrov. "Acolheremos com satisfação quaisquer iniciativas que tragam o resultado desejado."
"E só pode haver um resultado - uma solução para este problema com base na eliminação das causas profundas da crise ucraniana", afirmou Lavrov.
Entre essas causas, o ministro das Relações Exteriores russo destacou a ameaça à segurança da Rússia do Ocidente, que vem arrastando a Ucrânia para seu bloco militar, enquanto "a segurança é essencial não como um termo abstrato, mas como uma necessidade humana básica". Outra causa raiz do conflito, afirmou ele, foi a discriminação contra a população de língua russa, inclusive por meio de leis que proíbem o uso da língua russa e até mesmo da Igreja Ortodoxa canônica.
"Se o Sr. Trump conseguir derrubar essas leis de que estamos falando, será um passo à frente", disse Lavrov. "É a coisa mais fácil de fazer - basta fazer uma votação.".
"Nossa posição é clara: precisamos eliminar as causas profundas [do conflito]. Todo mundo sabe o que são", disse Lavrov.
O ministro lembrou o decreto presidencial ucraniano que proíbe negociações com a Rússia.
"O decreto do [presidente Vladimir] Zelensky que proíbe negociações com a Rússia ainda está em vigor lá, então nem vou especular sobre como eles vão resolver as coisas", disse Lavrov.
China, o plano de paz do Brasil
Lavrov disse que perguntou à China e ao Brasil sobre o conteúdo de suas iniciativas de paz na Ucrânia."Meus colegas e eu <... > discutiram seus planos. Perguntei a eles sobre aspectos práticos de sua iniciativa, porque o plano sino-brasileiro de cinco ou seis pontos tem ideias corretas, como apelos à paz, à justiça, ao cumprimento do direito internacional. Ninguém se opõe a isso, mas ninguém falou sobre como exatamente eles planejam alcançar a paz. Tudo o que sei é que este assunto está apenas em fase de consideração", disse Lavrov em uma coletiva de imprensa para resumir os resultados de sua participação na Semana de Alto Nível da 79ª Assembleia Geral da ONU.
A China e o Brasil ainda não elaboraram seu plano para resolver a crise na Ucrânia, apenas fizeram declarações de intenção, acrescentou Lavrov.
"Não vi nenhum plano de ação no documento. Eu só vi uma declaração de intenção", disse ele.
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, anunciou em uma reunião com Celso Amorim, assessor-chefe do presidente brasileiro, que China, Brasil e outros países do Sul Global estavam criando uma plataforma para facilitar uma solução pacífica para a crise na Ucrânia.
O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, criticou o plano, chamando-o de "destrutivo". A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, respondeu que Zelensky não estava em posição de criticá-lo, porque é o Ocidente quem está tomando todas as decisões por Kiev.