O soldado do Exército Thiago de Brito de Almeida, de 19 anos, foi assassinado no ápice da guerra entre facções no oeste de MT
Galtiery Rodrigues | Metrópoles
O jovem Thiago de Brito de Almeida, de 19 anos, vivia o grande sonho de se tornar militar do Exército. Ele havia se alistado no quartel de Cáceres, cidade do oeste de Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia, e completava o primeiro ano na função, quando teve o destino destruído pela guerra entre facções criminosas na região.
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O rapaz foi morto a tiros na noite de 22 de janeiro de 2022, a mando do mesmo líder do Comando Vermelho (CV) suspeito, agora, de decretar a morte da candidata a vereadora Rayane Alves Porto, de 25 anos, e da irmã dela, Rithiele Alves Porto, 28. As duas foram torturadas e assassinadas no sábado (14/9), em Porto Esperidião (MT), cidade que fica a 1h30 de Cáceres.
O mandante nos dois casos teria sido Norivaldo Cebalho Teixeira, conhecido como “Véio”, “Tuta” ou “Mercúrio”. Ele é apontado como o líder do CV na região oeste de Mato Grosso e está preso, desde 2022, na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, em decorrência da morte de Thiago. De dentro do presídio, no entanto, ele segue dando ordens e em comunicação com os faccionados.
Abordagem e morte do soldado
Na noite do assassinato, o soldado Thiago jogava basquete com amigos na praça do bairro Cohab Nova, em Cáceres, quando um Chevrolet Classic preto se aproximou bruscamente e parou próximo ao grupo de jovens. “Vocês são de que lado? De que lado são vocês?”, gritou um dos integrantes do CV de dentro do veículo.A intenção era descobrir se eles eram do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou se estavam “fechados com o CV”, já que o bairro, à época, era uma das áreas de disputa entre as duas facções. Assustado com a abordagem, Thiago disse que não era de lado nenhum e que era militar.
Conforme o processo referente ao caso, um dos faccionados disse que não havia gostado da camisa do Flamengo que Thiago usava. Com medo, o rapaz virou as costas para os criminosos e saiu correndo. A perícia revelou que o soldado conseguiu fugir por cerca de 80 metros, apenas. Ele foi perseguido e alvejado nas costas, na rua de trás, e caiu morto.
Thiago não tinha relação com nenhum dos grupos criminosos. Os interrogatórios revelam que ele era uma pessoa tranquila, apaixonado pelo que fazia e sem inimizades. Em depoimento, o avô do soldado, José dos Anjos Siqueira, de 72 anos, disse que o neto havia se mudado de Tangará da Serra (MT) para Cáceres para servir o Exército e que, por isso, estava morando com os avós.
Comemoração pela morte de um inocente
A investigação do caso revelou não só a motivação fútil do crime, mas também a maneira como faccionados teriam comemorado a morte de um inocente dentro do bairro, visto à época como reduto do PCC. O interrogatório de Adilson da Silva Oliveira, conhecido como “Gordinho de Santa Isabel”, ajudou a polícia a desvendar o caso e foi peça importante na denúncia do Ministério Público.Ele contou que, após o crime, Norivaldo, o líder do CV, enviou áudio para os rivais dizendo que a facção havia matado um soldado dentro da área do PCC e que queria ver como o grupo iria reagir. Segundo o relato, integrantes do PCC responderam, dizendo que os faccionados do CV estavam matando inocentes, com o intuito de jogar a população contra eles.
Nesse momento, Norivaldo teria retrucado, alegando que a culpa era toda do PCC, que “insistia em ficar na cidade e tomar o comando” do local. Em 2022, a guerra entre as duas facções, em Cáceres, estava no auge. A ordem dentro do Comando Vermelho, conforme os depoimentos, era perseguir e matar todo e qualquer integrante do grupo rival, inclusive familiares.
Domínio do CV
Hoje a cidade é considerada sob domínio do CV, mas as disputas na região seguem ativas. As mortes recentes das irmãs Rayane e Rithiele revelam que, mesmo de dentro do presídio, “Véio”, como Norivaldo é citado no inquérito que investiga os assassinatos das duas, continua monitorando a região e atento a tudo o que acontece.Thiago foi morto por motivo torpe, com o intuito de gerar problema para a facção rival. O caso foi tipificado como homicídio qualificado. Rayane e Rithiele foram torturadas e mortas por causa de uma foto publicada nas redes sociais, na qual, conforme o entendimento do CV, elas teriam feito um sinal de “três dedos”, visto como símbolo do PCC.
De acordo com a investigação, Norivaldo conduziu a tortura por chamada de vídeo e decretou as mortes, de dentro do presídio. Em depoimento, o namorado de Rithiele disse que elas fizeram o símbolo do “rock”, apenas, e que elas não tinham nenhuma relação com facção criminosa.
No caso de Thiago, o líder do CV foi condenado a mais de 28 anos de prisão em regime fechado. Além dele, Kássio Gomes de Oliveira e Adrian da Silva Cuiabano também foram sentenciados. Todos eles entraram com recurso contra a decisão. O quarto acusado, Jailson Buck Rodrigues, foi assassinado dentro do presídio, antes do julgamento.