A Rússia estabeleceu um programa de armas na China para desenvolver e produzir drones de ataque de longo alcance para uso na guerra contra a Ucrânia, de acordo com duas fontes de uma agência de inteligência europeia e documentos analisados pela Reuters.
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A IEMZ Kupol, uma subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, desenvolveu e testou em voo um novo modelo de drone chamado Garpiya-3 (G3) na China com a ajuda de especialistas locais, segundo um dos documentos, um relatório que a Kupol enviou ao Ministério da Defesa russo neste ano descrevendo seu trabalho.
Putin visita instalação de produção de drone em São Petersburgo 19/9/2024 Sputnik/Grigory Sysoyev/Kremlin via REUTERS |
A Kupol disse ao Ministério da Defesa, em uma atualização posterior, que conseguiu produzir drones, incluindo o G3, em escala em uma fábrica na China, para que as armas pudessem ser implantadas na "operação militar especial" na Ucrânia, o termo que Moscou usa para a guerra.
Kupol, Almaz-Antey e o Ministério da Defesa da Rússia não responderam a pedidos de comentários para esta reportagem. O Ministério das Relações Exteriores da China disse à Reuters que não estava ciente de tal projeto, acrescentando que o país tinha medidas de controle rigorosas sobre a exportação de drones, ou veículos aéreos não tripulados (VANTs).
Fabian Hinz, pesquisador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think-tank de defesa com sede em Londres, afirmou que a entrega de VANTs da China para a Rússia, se confirmada, seria um desenvolvimento significativo.
"Se você observar o que se sabe que a China entregou até agora, a maior parte era de bens de uso duplo - eram componentes, subcomponentes que poderiam ser usados em sistemas de armas", disse ele à Reuters. "Isso é o que foi relatado até agora. Mas o que realmente não vimos, pelo menos na fonte aberta, são transferências documentadas de sistemas de armas inteiros."
Ainda assim, Samuel Bendett, membro sênior adjunto do Center for a New American Security (CNAS), entidade com sede em Washington, afirmou que Pequim hesitaria em se expor a sanções internacionais por ajudar a máquina de guerra de Moscou, e que mais informações eram necessárias para estabelecer que a China estava hospedando a produção de drones militares russos.
O Departamento de Estado dos EUA e o governo ucraniano não responderam aos pedidos de comentários. Na semana passada, autoridades norte-americanas levantaram preocupações sobre o que, segundo elas, era o apoio chinês à máquina de guerra russa, mas se recusaram a fornecer detalhes específicos.
O G3 pode percorrer cerca de 2.000 km com uma carga útil de 50 kg, de acordo com os relatórios da Kupol para o ministério. Amostras do G3 e de alguns outros modelos de drones fabricados na China foram entregues à Kupol na Rússia para testes adicionais, mais uma vez com o envolvimento de especialistas chineses, disseram eles.
Os documentos não identificam os especialistas chineses em drones envolvidos no projeto descrito e a Reuters não conseguiu determinar sua identidade.
A Kupol recebeu sete drones militares fabricados na China, incluindo dois G3s, em sua sede na cidade russa de Izhevsk, de acordo com os dois documentos separados analisados pela Reuters, que são faturas enviadas à Kupol por uma empresa russa que, segundo as duas fontes de inteligência europeias, serve como intermediária com fornecedores chineses. As faturas, uma das quais solicita pagamento em iuanes chineses, não especificam datas de entrega nem identificam os fornecedores na China.
As duas fontes de inteligência disseram que a entrega das amostras de drones à Kupol foi a primeira evidência concreta que sua agência encontrou de VANTs inteiros fabricados na China sendo entregues à Rússia desde o início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022.
Eles pediram que nem eles nem sua organização fossem identificados devido à sensibilidade das informações. Eles também solicitaram que certos detalhes relacionados aos documentos fossem retidos, incluindo suas datas precisas.
(Reportagem adicional de Ryan Woo em Pequim, Tom Balmforth em Londres, Max Hunder em Kiev e Jonathan Landay e Daphne Psaledakis em Washington)