O grupo libanês Hezbollah prometeu retaliar depois de culpar Israel pela detonação de pagers nesta terça-feira, que matou pelo menos oito pessoas e feriu outras 2.750, incluindo muitos dos combatentes do grupo militante e o embaixador do Irã em Beirute.
Por Laila Bassam e Maya Gebeily, Emilie Madi e Tom Perry | Reuters
BEIRUTE - O ministro da Informação libanês, Ziad Makary, disse que o governo condenou a detonação dos pagers -- utilizados pelo Hezbollah e outros no Líbano para comunicação -- como uma “agressão israelense”. O Hezbollah afirmou que Israel receberá “a sua justa punição” pelas explosões.
Ambulância em hospital, em Beirute, Líbano 17/09/2024 REUTERS/Mohamed Azakir |
Os militares israelenses, que têm estado envolvido num conflito transfronteiriço com o Hezbollah, apoiado pelo Irã, desde o início da guerra de Gaza em outubro passado, recusaram-se a responder às perguntas da Reuters sobre as detonações.
Uma autoridade do Hezbollah, falando sob condição de anonimato, disse que a detonação dos pagers foi a “maior falha de segurança” que o grupo sofreu em quase um ano de conflito com Israel.
Os acontecimentos no Líbano são extremamente preocupantes, especialmente tendo em conta o contexto “extremamente volátil”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, acrescentando que a ONU lamenta quaisquer vítimas civis.
Sem comentar diretamente as explosões no Líbano, um porta-voz militar israelense disse que o chefe do Estado-Maior, major-general Herzi Halevi, tinha se reunido com oficiais superiores nesta terça-feira para avaliar a situação. Não foi anunciada qualquer alteração de política, mas “a vigilância deve continuar a ser mantida”, afirmou.
O Hezbollah confirmou em um comunicado a morte de pelo menos três pessoas, incluindo dois de seus militantes. A terceira pessoa morta foi uma menina, disse o comunicado, acrescentando que uma investigação estava sendo conduzida para definir a causa das explosões.
O chefe do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, não ficou ferido nas explosões, disse o grupo.
Os combatentes do Hezbollah têm usado pagers como um meio de baixa tecnologia para tentar evitar que os israelenses rastreiem a sua localização, disseram à Reuters duas fontes familiarizadas com as operações do grupo. Um pager é um dispositivo de telecomunicações sem fio que recebe e exibe mensagens.
A onda de explosões durou cerca de uma hora após as detonações iniciais, que ocorreram por volta das 15h45 no horário local. Não estava imediatamente claro como os dispositivos foram detonados.
O Ministério das Relações Exteriores do Líbano descreveu as explosões como uma “perigosa e deliberada escalada israelense” que, segundo o órgão, foi “acompanhada por ameaças israelenses de expandir a guerra para o todo o Líbano”.
As forças de segurança libanesas disseram que vários dispositivos de comunicação sem fio foram detonados em todo o Líbano, especialmente nos subúrbios ao sul de Beirute, um reduto do Hezbollah.
Os pagers detonados eram o modelo mais recente trazido pelo Hezbollah nos últimos meses, disseram três fontes de segurança.
O ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, disse que 2.750 pessoas ficaram feridas nas explosões, sendo que 200 delas estavam em estado crítico.
Muitos dos feridos eram combatentes do Hezbollah, filhos de importantes autoridades do grupo armado, disseram duas fontes de segurança à Reuters.
Um dos combatentes mortos era filho de um membro do Hezbollah no Parlamento libanês, Ali Ammar, disseram as fontes.
“Não se trata de uma ação de segurança contra uma, duas ou três pessoas. Trata-se de um ataque a uma nação inteira”, afirmou Hussein Khalil, importante autoridade do Hezbollah, ao apresentar as suas condolências pelo filho de Ammar.
O embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, sofreu um “ferimento superficial” na explosão de um pager e está atualmente em observação num hospital, informou a agência de notícias semioficial iraniana Fars.
O governo israelense não se pronunciou sobre as explosões.
Após as explosões desta terça-feira, um jornalista da Reuters viu ambulâncias em alta velocidade pelos subúrbios do sul da capital Beirute, um reduto do Hezbollah, em meio a um pânico generalizado. Uma fonte de segurança disse que também estavam explodindo artefatos no sul do Líbano.
No hospital Monte Líbano, um repórter da Reuters viu motocicletas chegando na emergência, onde pessoas com as mãos ensanguentadas gritavam de dor.
O diretor do hospital público de Nabatieh, no sul do país, Hassan Wazni, disse à Reuters que cerca de 40 pessoas feridas estavam sendo tratadas nas suas instalações. Os ferimentos incluíam lesões no rosto, olhos e membros.
Grupos de pessoas se formavam à entrada dos edifícios para ver como estavam pessoas que conheciam e que poderiam ter sido feridas, disse um jornalista da Reuters.