A crise entre Líbano e Israel se intensificou neste domingo (22), com centenas de foguetes e mísseis disparados pelo Hezbollah contra o norte de Israel e dezenas de ataques aéreos israelenses contra 290 posições da milícia xiita no Líbano. A organização Resistência Islâmica no Iraque, que reúne movimentos iraquianos apoiados pelo Irã, declarou que também atacou um posto militar de Israel usando drones. Três pessoas morreram no sul do Líbano e várias outras ficaram feridas.
RFI
A coordenadora das Nações Unidas no Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, alertou que “ a região está à beira de uma catástrofe iminente”. Paralelamente aos ataques no Líbano, Israel invadiu a sede da rede de TV Al Jazeera em Ramala e ordenou seu fechamento por 45 dias.
Hezbollah e Israel intensificam bombardeios e contra-ataques; ONU fala em 'catástrofe iminente' © AFP - JACK GUEZ |
Em uma série de comunicados, o partido islâmico extremista de Hassan Nasrallah reivindicou a responsabilidade pelo bombardeio da base aérea militar de Ramat David, 20 km a sudeste de Haifa, no norte de Israel. Ele também anunciou o bombardeio da sede da empresa Rafael, parte do complexo militar-industrial de Israel, ao norte da mesma cidade, segundo informações do correspondente da RFI em Beirute, Paul Khalifeh.
Pela primeira vez, o Hezbollah disparou cerca de cem mísseis Fadi 1 e Fadi 2, com alcance de 80 e 105 km, respectivamente, além de dezenas de foguetes Katyusha, desenvolvidos na ex-União Soviética. A milícia libanesa pró-Hamas, aliada do Irã, estendeu seus ataques a uma profundidade de 55 km dentro do território israelense, em resposta à explosão de milhares de pagers e walkie talkies de comunicação usados por seus membros na terça e quarta-feira, reforça o comunicado oficial do Hezbollah.
A força aérea israelense intensificou seus ataques antes e depois dos disparos do Hezbollah. Somente no distrito de Nabatiye, no sul do Líbano, aviões e drones realizaram cerca de 60 ataques, e dezenas de outros na planície de Bekaa, no leste.
Israel fecha escritório da Al Jazeera em Ramala
Em uma operação paralela na Cisjordânia ocupada, o exército israelense invadiu as instalações do canal de TV Al Jazeera, neste domingo, e ordenou o fechamento do local. De acordo com Israel, a emissora teve suas transmissões suspensas por 45 dias, devido a “uma decisão judicial”. A rede é conhecida por denunciar as ações de Israel na Faixa de Gaza.Transmitida ao vivo pela Al Jazeera, a operação envolveu dezenas de soldados israelenses. A maioria deles tinha o rosto coberto por máscaras e estavam fortemente armados. Zein Basravi, chefe da rede de TV de propriedade do Catar, gravou com antecedência uma mensagem para o caso de Israel fechar o escritório de Ramala, de onde os jornalistas relatam a realidade dos palestinos "que vivem sob ocupação israelense há décadas".
“Peço que peguem todas as suas câmeras e deixem o escritório imediatamente”, disseram os soldados israelenses. Em comunicado, o exército israelense afirma que "a ordem de fechamento foi assinada após um parecer jurídico e uma avaliação dos serviços de inteligência de que os escritórios da emissora estavam sendo usados para incitar o terror e para apoiar atividades terroristas". "As transmissões do canal colocam em perigo a segurança e a ordem pública na região e em todo o Estado de Israel", acrescenta o comunicado.
A Al Jazeera “condena e denuncia veementemente este ato criminoso”, afirmou o canal num comunicado, acrescentando que esta “invasão” ao seu escritório e a “apreensão” de equipamentos “não foi apenas um ataque” contra a emissora, mas uma afronta a à liberdade de imprensa e aos próprios princípios do jornalismo”.
Veja como foi a invasão:
Pressão crescente
“Centenas de milhares de pessoas tiveram que se refugiar em abrigos antiaéreos no norte de Israel”, disse à AFP o porta-voz do exército israelense, tenente-coronel Nadav Shoshani. A defesa israelense ordenou o fechamento de todas as escolas do norte do território até a noite de segunda-feira (23). Algumas escolas estão localizadas a até 80 km da fronteira libanesa.“Estamos sob crescente pressão do Hezbollah e vice-versa. Em Haifa, muitas escolas estão fechadas e os escritórios estão vazios. Isso me lembra o dia 7 de outubro, quando todos ficaram em casa”, disse Patrice Wolff, morador dessa cidade no norte de Israel.
A troca de disparos aumentou desde a onda de explosões espetaculares de equipamentos de comunicação do Hezbollah, atribuída a Israel, que deixou 39 mortos e 2.931 feridos no sul do Líbano, reduto da milícia. Israel não comenta esses ataques.
Na sexta-feira, um ataque israelense a um prédio ao sul de Beirute desferiu outro golpe no Hezbollah, dizimando sua força de elite, a unidade Radwan, cujos 16 membros foram mortos.
Entre eles estavam Ibrahim Aqil, o chefe da unidade, e Ahmed Mahmoud Wahbi, que estava encarregado das operações militares até o início deste ano. O ataque matou um total de 45 pessoas, incluindo civis, de acordo com as autoridades libanesas.
Sem fazer qualquer referência aos dispositivos de comunicação, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse neste domingo em pronunciamento na TV que atingiu o Hezbollah "de uma forma que eles nunca imaginariam" e prometeu que a ofensiva contra o grupo extremista continuará.
"NÃO há solução militar", alerta ONU
“Em um momento em que a região está à beira de uma catástrofe iminente, nunca é demais repetir: NÃO há solução militar que torne qualquer um dos lados mais seguro”, alertou a coordenadora especial das Nações Unidas para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, neste domingo.No Iraque, grupos armados pró-iranianos reivindicaram a responsabilidade de disparar drones contra Israel, que, por sua vez, anunciou que havia interceptado “vários objetos voadores suspeitos” vindos do Iraque.
A escalada na fronteira entre Israel e Líbano fez com que o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, cancelasse sua viagem à sede da ONU em Nova York, pedindo “o fim dos terríveis massacres israelenses”.
Fracasso de mediação
Após o fracasso de todas as tentativas de mediação para conseguir um cessar-fogo na Faixa de Gaza, Israel anunciou na terça-feira que estava estendendo seus objetivos de guerra para a frente norte, ou seja, na fronteira com o Líbano, para permitir que dezenas de milhares de habitantes deslocados pela violência voltassem para casa.Até agora, os principais objetivos declarados por Israel para justificar o conflito têm sido a destruição do Hamas, que está no poder em Gaza, e o retorno dos reféns israelenses mantidos no território palestino.
“Nossos objetivos são claros e nossas ações falam por si”, declarou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu após o ataque de sexta-feira. No dia anterior, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, havia alertado que os ataques contra Israel iriam durar até o fim da invasão em Gaza.
(RFI e AFP)