A falta de responsabilização pelos assassinatos de funcionários da Organização das Nações Unidas e trabalhadores de ajuda humanitária na Faixa de Gaza é “completamente inaceitável”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em entrevista à Reuters nesta quarta-feira.
Por Michelle Nichols | Reuters
NAÇÕES UNIDAS - Guterres também disse que estabelecer uma força de manutenção da paz da ONU não seria a “melhor solução” para o Haiti, país em que gangues armadas assumiram o controle de boa parte da capital e se expandiram para áreas próximas, criando uma crise humanitária com deslocamentos em massa, violência sexual e fome generalizada.
Secretário-geral da ONU, António Guterres, dá entrevista à Reuters 11/09/2024 REUTERS/David 'Dee' Delgado |
Antes do encontro anual dos líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU ainda neste mês, Guterres resumiu o último ano como “muito complicado, muito difícil”.
O período tem sido dominado pela guerra em Gaza, que começou apenas duas semanas depois que os líderes deixaram Nova York depois da assembleia do ano passado quando os militantes palestinos do Hamas mataram 1.200 pessoas e levaram 250 reféns em um ataque que cruzou a fronteira de Israel, segundo as estimativas israelenses.
Ao descrever a retaliação de Israel contra o Hamas em Gaza -- que autoridades locais de saúde estimam que 41 mil palestinos foram mortos desde o início da guerra --, Guterres disse que houve “violações muito dramáticas da lei internacional humanitária e a ausência total de proteção efetiva para os civis".
"O que acontece em Gaza é completamente inaceitável”, ele disse.
Os militares israelenses dizem que estão estabelecendo medidas para reduzir os riscos de danos aos civis e que pelo menos um terço das mortes palestinas em Gaza são de militantes. A acusação é que o Hamas usa civis palestinos como escudos humanos, o que o Hamas nega.
Cerca de 300 trabalhadores de auxílio humanitário, mais de dois terços deles funcionários da ONU, também foram mortos durante o conflito, segundo números da própria ONU. Guterres disse que é preciso ter uma investigação efetiva e responsabilização pelas mortes.
"Temos tribunais, mas vemos que as decisões das cortes não são respeitadas e é este tipo de limbo de responsabilização que é totalmente inaceitável e que demanda uma reflexão séria", disse Guterres.
O principal tribunal da ONU – a Corte Internacional de Justiça – disse em julho que a ocupação dos territórios palestinos e os assentamentos israelenses são ilegais e devem ser retirados. A Assembleia Geral, de 193 Estados-membros, deve votar na próxima semana uma resolução que daria seis meses para Israel fazer isso.
Guterres disse que não falou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que há tempos acusa a ONU de ser anti-Israel, desde o ataque contra Israel em 7 de outubro no ano passado. Os dois se encontraram pessoalmente na ONU um ano atrás e Guterres disse que o encontraria novamente – a pedido de Netanyahu.
"Não falei com ele porque ele não atende minhas ligações, mas não tenho motivo para não falar com ele”, disse Guterres. "Então, se ele vier para Nova York e pedir para falar comigo, ficarei muito feliz em vê-lo."
Quando questionado se Netanyahu planejava se encontrar com Guterres às margens da Assembleia Geral da ONU, o embaixador israelense nos Estados Unidos, Danny Danon, disse que a agenda de Netanyahu ainda não foi finalizada.