A Bulgária e a Noruega se tornaram nesta quinta-feira os novos pontos focais de uma caçada global para entender quem forneceu ao Hezbollah milhares de pagers que explodiram no Líbano nesta semana, em ato que abalou o grupo militante.
Por Nerijus Adomaitis, Krisztina Than e James Pearson | Reuters
OSLO/BUDAPESTE/LONDRES - Fontes de segurança disseram que Israel foi responsável pelas explosões de terça-feira, que mataram 12 pessoas, feriram mais de 2.300 e elevaram a tensão do crescente conflito entre os dois lados. Israel não comentou diretamente sobre os ataques.
Pessoas se reúnem do lado de fora de um hospital em Beirute, após explosões de pagers 17/09/2024 REUTERS/Mohamed Azakir |
Ainda não se sabe como e com qual ajuda o ataque com pagers foi realizado, embora algumas pistas levem a Taiwan, Hungria e Bulgária.
Não está claro como e quando os pagers foram transformados em armas que pudessem ser detonadas à distância. A mesma dúvida recai sobre as centenas de rádios portáteis usados pelos Hezbollah e que explodiram na quarta-feira, em uma segunda onda de ataques.
Uma teoria advoga que os pagers foram interceptados e armados com explosivos após deixarem as fábricas. Outra diz que Israel estava por trás de toda a cadeia de suprimentos.
Autoridades búlgaras afirmaram nesta quinta-feira que o Ministério do Interior e os serviços de segurança do país abriram uma investigação sobre a possível ligação de uma empresa com os fatos. O nome da companhia não foi divulgado.
A imprensa local afirmou que a Norta Global Ltd, com sede em Sófia, serviu como facilitadora da venda de pagers ao Hezbollah. Citando fontes de segurança, a emissora de televisão bTV informou que 1,6 milhão de euros relativos à aquisição passaram pela Bulgária, sendo depois enviados à Hungria. A Reuters não conseguiu verificar imediatamente essa informação.
Emails enviados para um email da Norta listado nos registros corporativos búlgaros foram retornados. O fundador da empresa se negou a comentar sobre o assunto.
Imagens dos pagers destruídos foram analisadas pela Reuters e possuíam um design consistente com aparelhos da fabricante Gold Apollo, de Taiwan. A empresa afirmou na quarta-feira que os dispositivos foram feitos pela BAC Consulting, uma empresa com sede na capital da Hungria, Budapeste.
A proprietária e CEO da BAC Consulting, Cristiana Barsony-Arcidiacono, não respondeu aos pedidos para que comentasse sobre o tema.
Na quarta-feira, ela disse à emissora NBC News que a empresa trabalha com a Gold Apollo, mas que não tem relação com a fabricação dos pagers. “Sou apenas uma intermediária. Acho que você entendeu errado”, disse.
Usando fontes, o website húngaro Telex informou que a venda foi facilitada pela Norta Global Ltd.
O conteúdo do website da Norta Global, globalnorta.com, foi deletado nesta quinta-feira. A página anterior tinha versões em inglês, búlgaro e norueguês, e citava serviços como consultoria, integração tecnológica, recrutamento e outsourcing.
O fundador da empresa, Rinson Jose, vive na Noruega. Ele se negou a responder sobre os pagers, e desligou o telefone quando foi perguntado sobre o negócio na Bulgária.
Barsony-Arcidiacono, da BAC Consulting, entregou o seu apartamento em Budapeste na quarta-feira, disse um vizinho à Reuters. A porta estava entreaberta na quarta, mas fechada na manhã desta quinta-feira, afirmou um repórter da Reuters que esteve no local. Ninguém atendeu a campainha.
Uma fonte de segurança libanesa disse à Reuters que o Hezbollah acreditava que tinha comprado os pagers da Gold Apollo e que eles seriam produzidos na Ásia, não na Europa.
A fonte disse que o Hezbollah considera muito mais fácil para a agência israelense de espionagem, Mossad, atuar na Hungria. “É possível que o Mossad tenha criado uma empresa europeia”, afirmou.