O presidente americano, Joe Biden, alertou, nesta terça-feira (24), sobre o perigo de uma "guerra em grande escala" no Líbano, um país que "está à beira do abismo", segundo alertou o chefe da ONU, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.
France Presse
"Uma guerra em grande escala não beneficia ninguém. Embora a situação tenha se agravado, ainda é possível uma solução diplomática", afirmou Biden na sede da ONU em Nova York.
Joe Biden fez seu último discurso como presidente dos EUA na Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2024 © TIMOTHY A. CLARY |
Em seu último discurso como presidente dos Estados Unidos nesse fórum, o democrata também instou que um cessar-fogo seja alcançado em Gaza.
O alerta de Biden chegou momentos depois de o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, advertir que "o povo libanês, o povo israelense e os povos do mundo não podem permitir que o Líbano se torne outra Gaza".
"Gaza é um pesadelo permanente que ameaça arrastar toda a região para o caos, começando pelo Líbano", afirmou diante dos governantes e representantes dos 193 países-membros da ONU, antes de pedir à comunidade internacional que se mobilize "para um cessar-fogo imediato e a libertação incondicional de todos os reféns" israelenses em poder do Hamas.
O ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, se disse decepcionado com as declarações de Biden, ao afirmar que "não foram contundentes, não são encorajadoras e não resolverão o problema libanês".
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá emergencialmente na quarta-feira para debater a escalada da violência no Líbano às 19h00, horário de Brasília.
O embaixador israelense nas Nações Unidas, Danny Danon, ressaltou que seu país "não deseja" invadir o Líbano. "Temos experiência prévia no Líbano. Não desejamos começar qualquer invasão neste território", afirmou o diplomata à margem da Assembleia Geral.
Quase um ano após o início da guerra em Gaza, o conflito ameaça se espalhar pela região. Os bombardeios israelenses contra o Hezbollah libanês, apoiado pelo Irã, deixaram cerca de 500 mortos na segunda-feira.
Na rede social X, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, acusou Guterres de ter sido incapaz de "impedir os ataques do Hezbollah". "O pesadelo que o senhor cita é uma realidade", afirmou.
Em um discurso depois de Guterres e Biden, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou Israel de "arrastar toda a região para a guerra". Na segunda, o novo presidente iraniano, Masud Pezeshkian, acusou os israelenses de quererem "ampliar" o conflito no Oriente Médio.
A palavra "genocídio" ecoou na Assembleia.
"A agressão flagrante contra o povo palestino na Faixa de Gaza hoje é a mais bárbara, abominável, extensa, violadora dos valores humanos e das convenções e direitos internacionais. Não é uma guerra que respeita o conceito de guerra, mas um crime de genocídio", declarou o emir do Catar, Tamim Bin Hamad al Thani, cujo país atua como mediador de uma trégua entre Israel e o Hamas.
Já o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, chamou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de "criminoso" pelo que descreveu como "genocídio em Gaza".
- Lula e América Latina -
Os diversos conflitos que assolam o mundo, não apenas a Faixa de Gaza e Líbano, mas também Ucrânia e Sudão, ameaçam ofuscar outras preocupações como a mudança climática, os perigos da Inteligência Artificial ou o desenvolvimento econômico, assim como a própria capacidade da ONU para enfrentar os desafios atuais e futuros.Abrindo os trabalhos da Assembleia Geral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é "inaceitável" que a América Latina e a África não tenham um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
"A exclusão da América Latina e da África de postos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável das práticas de dominação do passado colonial", afirmou Lula, lembrando que "estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziadas e paralisadas".
Em seu discurso, Lula ainda deu as boas-vindas à delegação palestina, sob aplausos.
- "Cortejo de misérias humanas" -
Por sua vez, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, subirá ao púlpito na quarta-feira, mas, nesta terça, participou de uma reunião do Conselho de Segurança, na qual disse que é preciso "forçar a Rússia à paz".Segundo o mandatário ucraniano, Moscou tornou o Irã e a Coreia do Norte "cúmplices" da "guerra criminosa" na Ucrânia.
Na mesma linha, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, denunciou que "o apoio de Teerã e Pyongyang está ajudando [o presidente russo Vladimir] Putin a infligir massacres, sofrimento e ruína a homens, mulheres e crianças ucranianos inocentes".
Por sua vez, Pequim se desvincilhou da guerra na Ucrânia. "A China não é a criadora da crise na Ucrânia, nem somos parte dela", declarou o chanceler chinês, Wang Yi.
"A paz está sendo atacada por todas as partes", alertou o secretário-geral, António Guterres, que pede que se ponha fim "ao cortejo de misérias humanas".
A crise vivida pela Venezuela após as eleições presidenciais de 28 de julho, cuja vitória foi atribuída a Nicolás Maduro em meio às denúncias de fraude da oposição, os riscos da desinformação para as democracias - discussão promovida pelo presidente de Governo espanhol, Pedro Sánchez, e Lula - tiraram momentaneamente o foco dos conflitos bélicos.