Medida pode ser vitória política do primeiro-ministro iraquiano
Timour Azhari e Ahmed Rasheed | Reuters
Estados Unidos e Iraque chegaram a um entendimento sobre os planos para a retirada das forças da coalizão liderada pelos norte-americanos do país do Oriente Médio, de acordo com diversas fontes familiarizadas com o assunto.
Soldado dos EUA em base no Iraque • 18/10/2016 REUTERS/Alaa Al-Marjani |
O plano, que foi amplamente aceito, ainda requer aprovação final de ambas as partes e uma data de anúncio. Ele prevê a saída de centenas de tropas até setembro de 2025, com o restante partindo até o fim de 2026, disseram as fontes.
“Temos um acordo, agora é só uma questão de quando anunciá-lo”, destacou uma alta autoridade dos EUA.
EUA e Iraque também estão buscando estabelecer uma nova relação de consultoria que poderia fazer com que algumas tropas norte-americanas permanecessem no país após a retirada.
Um anúncio oficial estava inicialmente agendado para semanas atrás, mas foi adiado devido à escalada na tensão na região relacionada à guerra de Israel em Gaza e para resolução de alguns detalhes restantes, explicaram as fontes.
As fontes incluem cinco autoridades norte-americanas, duas autoridades de outros países da coalizão e três autoridades iraquianas, todas falando sob condição de anonimato, pois não estavam autorizadas a discutir o assunto publicamente.
Várias fontes pontuaram que o acordo pode ser anunciado neste mês.
Farhad Alaaldin, assessor de relações exteriores do primeiro-ministro iraquiano, afirmou que as negociações técnicas com Washington sobre a retirada da coalizão foram concluídas.
“Estamos agora prestes a levar o relacionamento entre o Iraque e os membros da coalizão internacional a um novo patamar, com foco nas relações bilaterais nas áreas militar, de segurança, econômica e cultural”, destacou.
Ele não comentou detalhes do plano. A coalizão liderada pelos EUA não respondeu às perguntas enviadas por e-mail.
Seis meses de negociações após ataques
O acordo ocorre após mais de seis meses de negociações entre Iraque e Estados Unidos, iniciadas pelo primeiro-ministro Mohammed Shia al-Sudani em janeiro, em meio a ataques de grupos armados iraquianos apoiados pelo Irã contra forças dos EUA em bases na região.Os ataques com foguetes e drones mataram três soldados norte-americanos e feriram dezenas de outros, resultando em várias rodadas de retaliações mortais dos EUA, que ameaçaram os esforços do governo para estabilizar o Iraque após décadas de conflito.
Os EUA têm aproximadamente 2.500 soldados no Iraque e 900 Síria, país vizinho, como parte da coalizão formada em 2014 para combater o Estado Islâmico, enquanto o grupo devastava os dois países.
O Estado Islâmico já controlou cerca de um terço do Iraque e da Síria. O grupo foi derrotado territorialmente no Iraque no final de 2017 e na Síria em 2019.
O Iraque demonstrou sua capacidade de lidar com qualquer ameaça remanescente, ressaltou o assessor de relações exteriores Alaaldin.
Saída das tropas do Iraque
Os EUA invadiram o Iraque inicialmente em 2003, derrubando o ditador Saddam Hussein, antes de se retirarem em 2011, mas retornaram em 2014 à frente da coalizão para combater o Estado Islâmico.Outras nações, incluindo Alemanha, França, Espanha e Itália, também contribuem com centenas de tropas para a coalizão.
Segundo o plano, todas as forças da coalizão deixariam a base aérea de Ain al-Asad, na província ocidental de Anbar, e reduziriam significativamente sua presença em Bagdá até setembro de 2025.
Espera-se que tropas dos EUA e de outras coalizões permaneçam em Erbil, na região semiautônoma do norte do Curdistão, por aproximadamente mais um ano, até o fim de 2026, para facilitar as operações em andamento contra o Estado Islâmico na Síria.
Detalhes exatos dos movimentos das tropas estão sendo mantidos em segredo devido à sensibilidade militar.
Essa redução marcaria uma mudança notável na postura militar dos EUA na região.
Embora focados principalmente em combater o Estado Islâmico, autoridades norte-americanas reconhecem que sua presença também serve como uma posição estratégica contra a influência iraniana.
Essa posição se tornou mais importante à medida que Israel e Irã intensificam seu confronto regional, com forças dos EUA no Iraque abatendo foguetes e drones disparados contra Israel nos últimos meses, de acordo com autoridades norte-americanas.
O primeiro-ministro al-Sudani declarou que, embora aprecie a ajuda, as tropas norte-americanas se tornaram um ímã para a instabilidade, sendo alvos frequentes e respondendo com ataques muitas vezes não coordenados com o governo iraquiano.
O acordo, quando anunciado, provavelmente representará uma vitória política para al-Sudani, que equilibra a posição do Iraque como aliado de Washington e Teerã. A primeira fase da retirada terminaria um mês antes das eleições parlamentares iraquianas, marcadas para outubro de 2025.
Para os EUA, o prazo de dois anos oferece “uma margem de manobra”, permitindo possíveis ajustes caso a situação regional mude, disse uma autoridade norte-americana.
O Departamento de Estado e a embaixada dos EUA em Bagdá não responderam aos pedidos de comentários.
Tags
Alemanha
Curdistão PKK YPG curdos
Daesh Estado Islâmico ISIS
Espanha
EUA
Europa
Faixa de Gaza
França
Irã
Iraque
Israel
Itália
Oriente Médio
Palestina
Síria