A ofensiva israelense sobre Gaza soma mais de 40 mil mortos. Os dados foram publicados nesta quinta-feira pelas autoridades palestinas, em um informe usado como referência pela ONU. De acordo com o novo informe, 92 mil pessoas foram feridas desde que os confrontos tiveram início, em outubro de 2023.
Jamil Chade | UOL, em Genebra
A publicação dos dados ocorre no mesmo dia em que uma nova rodada de negociações está marcada para ocorrer. O Hamas, porém, insiste que não estará presente, diante do que chama de "novas exigências" por parte de Israel.
A negociação de um cessar-fogo passou a ser a prioridade da diplomacia americana e europeia, na esperança de que isso possa evitar que o Irã retalie Israel, o que ampliaria ainda mais a crise.
"O dia de hoje é um marco sombrio para o mundo", afirmou Volker Turk, chefe de Direitos Humanos da ONU. "O povo de Gaza está agora de luto por 40.000 vidas palestinas perdidas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza", disse. "A maioria dos mortos são mulheres e crianças. Essa situação inimaginável se deve, em grande parte, às falhas recorrentes das Forças de Defesa de Israel em cumprir as regras da guerra", acusou o representante da ONU.
Em média, cerca de 130 pessoas foram mortas todos os dias em Gaza nos últimos 10 meses. "A escala da destruição de casas, hospitais, escolas e locais de culto pelos militares israelenses é profundamente chocante", disse.
Para ele, tanto as forças israelenses quanto o Hamas cometeram crimes internacionais.
"Enquanto o mundo reflete e considera sua incapacidade de evitar essa carnificina, peço a todas as partes que concordem com um cessar-fogo imediato, deponham as armas e parem com a matança de uma vez por todas", apelou Turk. "Os reféns devem ser libertados. Os palestinos detidos arbitrariamente devem ser libertados. A ocupação ilegal de Israel deve acabar e a solução de dois Estados acordada internacionalmente deve se tornar uma realidade", completou.
A estimativa é de que 2% da população da região foi morta — um óbito a cada 50 pessoas. As autoridades locais informaram às agências da ONU que pelo menos 10 mil desses mortos continuam sob os escombros dos prédios atingidos por mísseis.
Tribunais internacionais e resoluções da ONU já ordenaram Israel a suspender as operações militares. Mas, por enquanto, nada deteve a ofensiva do governo de Benjamin Netanyahu, que justifica a ação como sendo um ato de autodefesa.
Em 7 de outubro do ano passado, o Hamas realizou um ataque contra Israel, deixando mais de 1,3 mil mortos e sequestrando civis. A reação do governo israelense foi uma ofensiva contra Gaza, assim como uma operação para tentar resgatar os reféns.
Mas, segundo a ONU, 1,9 milhão de pessoas (ou nove em cada dez pessoas) em toda a Faixa de Gaza são deslocadas internamente, incluindo pessoas que foram repetidamente deslocadas. Algumas delas tiveram de mudar de casa ou cidade até dez vezes, em menos de um ano. De acordo com a entidade, o acesso humanitário continua sendo dificultado.
A ONU ainda publicou um levantamento que estima que 63% das estruturas na Faixa de Gaza foram avaliadas como destruídas ou danificadas. As regiões do Norte de Gaza e Rafah registraram o maior aumento de danos, com cerca de 17.300 novas estruturas danificadas desde maio.
Após a operação militar israelense na cidade de Rafah, iniciada em 6 de maio, o número total de edifícios avaliados como danificados agora é de 13.237 estruturas, 76% das quais (10.100) foram recentemente avaliadas como danificadas.
De acordo com a OMS, após 300 dias de guerra, o sistema de saúde continua praticamente inoperante, com 90 hospitais e centros de atendimento primário de saúde sem funcionar.
Em 7 de agosto, o número total de funcionários da ONU mortos desde 7 de outubro era de 205.