Confronto diplomático com governo Netanyahu suspendeu compra
Caio Junqueira | CNN
O assessor internacional do presidente Lula, Celso Amorim, travou a compra pelo Exército Brasileiro de 36 veículos blindados de combate da empresa israelense Elbit Systems destinados a renovar a frota da força. O movimento levou o Ministério da Defesa a negociar a substituição da importação pela fabricação deles no Brasil. O assunto deverá ser tratado com o presidente Lula na próxima semana.
O assunto já se arrasta no governo desde o final de abril, quando a empresa israelense venceu a licitação de R$ 1 bilhão. As derrotadas no certame foram: uma empresa da China, uma da França e outra da República Tcheca.
A Elbit venceu pelos critérios de melhor preço e melhor técnica. No meio militar, seu equipamento é considerado o melhor. O presidente já havia autorizado a Defesa a concluí-lo e o Exército avançou nos trâmites internos. Na semana passada, a força concluiu todo o procedimento jurídico para assinatura do contrato, faltando apenas sua assinatura.
Mas Amorim intercedeu junto a Lula para suspender o fechamento do negócio. À CNN, ele justificou sua posição: “Depois da ação altamente condenável do Hamas houve genocídio por parte de Israel em relação aos palestinos e acho complicada essa compra. Primeiro que a decisão da corte internacional recomenda não colaborar com Israel nesse aspecto militar. Além disso, é preciso esperar passar essa instabilidade no conflito com Gaza.”
Amorim reforçou ainda que não se trata de algo especificamente contra Israel. “Não tenho nada contra Israel. O povo judeu deu inúmeras contribuições à humanidade ao longo da história. O Brasil reconhece e respeita o estado de Israel. Mas esse governo atual do país (de Benjamin Netanyahu) tem tido comportamento altamente condenável do ponto de vista militar. Então é delicado ficar dependendo militarmente de Israel”, prosseguiu.
“Esse aspecto político-diplomático é muito importante. É um componente a ser avaliado. Não é só a técnica e preço”, concluiu Amorim.
Construção no RS
Diante da resistência de Amorim, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, negociou com os israelenses que os tanques sejam construídos em uma fábrica da empresa no Rio Grande do Sul. Antes, eles seriam importados de Israel. As condições de pagamento também melhoraram: só começaria a ser feito em 2027.A possibilidade de a produção ser nacional é o principal componente das Forças Armadas para driblar a resistência de Amorim e obter novamente o aval de Lula. A expectativa é de que o assunto seja tratado com o presidente na próxima semana.
“A Defesa tem interesse em construir uma solução conjunta e que a produção seja praticamente toda no Brasil”, disse Múcio à CNN.