Pioneiro exemplo de parceria público-privada para uma unidade do Exército brasileiro começou a ser desenhado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
Por Selma Schmidt e Lucas Guimarães | O Globo
Rio de Janeiro — Bilheteria moderna, novos espaços gastronômicos e culturais, mais lojas e militares mantidos na segurança são algumas ideias de autoridades, especialistas e moradores do bairro para a concessão à iniciativa privada do Forte de Copacabana. Desativada desde 1987, a instalação histórica completa 110 anos em 28 de setembro. O pioneiro modelo de parceria público-privada para uma unidade do Exército brasileiro — o zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus (AM), também será contemplado — começou a ser desenhado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Há quem aposte, no entanto, que a solução adotada poderá ser reproduzida em outras cidadelas do estado, como os fortes do Leme, de São João (Urca) e de Santa Cruz (Niterói).
A transferência da gestão militar para mãos privadas visa a remodelação do Forte, tornando ainda mais atrativo o espaço com vista deslumbrante para as praias de Copacabana, Leme e do Diabo, com o Pão de Açúcar ao fundo. No endereço procurado por locais e turistas hoje estão instalados o Museu Histórico do Exército, cafeterias, hotel de trânsito e residências de militares.
Comandante do Forte de Copacabana e diretor do Museu Histórico do Exército, o coronel Alexandre Roberto da Silva explica que, com a concessão, a gestão da bilheteria será modernizada:
— Hoje, os ingressos (R$ 10, inteira, e R$ 5, meia, exceto às terças, quando a entrada é gratuita) só podem ser pagos com dinheiro, o que acaba provocando filas. A ideia é que o pagamento seja também com cartão e PIX. Com isso, agilizamos e damos conforto ao visitante.
Essa era uma preocupação do presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães:
— Iniciativas, como a concessão, com melhorias, instalações novas e mais eventos, são interessantes. Mas desde que não maculem o tombamento do Forte. Queremos que seja preservada a sua memória artística, arquitetônica e cultural.
Outro líder comunitário do bairro, Tony Teixeira, presidente da Associação de Moradores de Copacabana, celebra a concessão, mas alerta:
— Uma maior ocupação é benéfica. Contudo, ela tem que ser civilizada. O que não pode é virar um lugar de festas que entrem noite adentro.
Ponto turístico, o Forte bateu 623 mil visitantes no ano passado — a visitação foi impulsionada por exposição temporária sobre a obra da pintora mexicana Frida Kahlo. Seu próprio museu conta com acervo de 15 mil peças na reserva técnica, entre indumentárias, armamentos e objetos de uso pessoal raros de vultos históricos militares — como uma mecha do cabelo de Napoleão Bonaparte. As paredes externas do Forte, de 12 metros de espessura, acolhem canhões alemães Krupp, que pesam dezenas de toneladas, assentados em cúpulas encouraçadas e giratórias.
— O projeto (de concessão) do Museu Histórico do Exército/Forte de Copacabana tem como objetivos tornar o ativo um polo de turismo e um centro de referência em pesquisa da história militar; mostrar a arquitetura contemporânea de fortes; e conservar as tradições históricas do Exército brasileiro. Isso além de oferecer uma experiência turística diferenciada aos visitantes do único equipamento histórico e cultural da região, localizado em um dos cartões postais do Rio de Janeiro — resume o comandante da unidade.
Hoje, as filas para entrar no Forte — que funciona de 10h a 19h, de terça a domingo e em feriados — chegam a alcançar a vizinha colônia de pescadores Z13.
— Já havia pescadores em Copacabana há mais de cem anos. Nossos registros mostram que alguns deles trabalharam na construção do Forte, que levou seis anos para ficar pronto. Também houve caso de operários que, após a obra, viraram pescadores — conta Manoel Rebouças, presidente da Z13.
Comandante do Forte de Copacabana e diretor do Museu Histórico do Exército, o coronel Alexandre Roberto da Silva explica que, com a concessão, a gestão da bilheteria será modernizada:
— Hoje, os ingressos (R$ 10, inteira, e R$ 5, meia, exceto às terças, quando a entrada é gratuita) só podem ser pagos com dinheiro, o que acaba provocando filas. A ideia é que o pagamento seja também com cartão e PIX. Com isso, agilizamos e damos conforto ao visitante.
Cabelo de Napoleão
Modernizar as salas de exposição é outra meta do comandante. Ele informa que a Confeitaria Colombo e o Café 18 do Forte são parceiros importantes, têm contratos vigentes — com cláusulas de prorrogação — e, com a concessão, continuarão abertos. Outros estabelecimentos poderão ser instalados, mas o coronel ressalta que os tombamentos federal e estadual e a Área de Proteção Ambiental (APA) serão respeitados.Essa era uma preocupação do presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães:
— Iniciativas, como a concessão, com melhorias, instalações novas e mais eventos, são interessantes. Mas desde que não maculem o tombamento do Forte. Queremos que seja preservada a sua memória artística, arquitetônica e cultural.
Outro líder comunitário do bairro, Tony Teixeira, presidente da Associação de Moradores de Copacabana, celebra a concessão, mas alerta:
— Uma maior ocupação é benéfica. Contudo, ela tem que ser civilizada. O que não pode é virar um lugar de festas que entrem noite adentro.
Ponto turístico, o Forte bateu 623 mil visitantes no ano passado — a visitação foi impulsionada por exposição temporária sobre a obra da pintora mexicana Frida Kahlo. Seu próprio museu conta com acervo de 15 mil peças na reserva técnica, entre indumentárias, armamentos e objetos de uso pessoal raros de vultos históricos militares — como uma mecha do cabelo de Napoleão Bonaparte. As paredes externas do Forte, de 12 metros de espessura, acolhem canhões alemães Krupp, que pesam dezenas de toneladas, assentados em cúpulas encouraçadas e giratórias.
— O projeto (de concessão) do Museu Histórico do Exército/Forte de Copacabana tem como objetivos tornar o ativo um polo de turismo e um centro de referência em pesquisa da história militar; mostrar a arquitetura contemporânea de fortes; e conservar as tradições históricas do Exército brasileiro. Isso além de oferecer uma experiência turística diferenciada aos visitantes do único equipamento histórico e cultural da região, localizado em um dos cartões postais do Rio de Janeiro — resume o comandante da unidade.
Hoje, as filas para entrar no Forte — que funciona de 10h a 19h, de terça a domingo e em feriados — chegam a alcançar a vizinha colônia de pescadores Z13.
— Já havia pescadores em Copacabana há mais de cem anos. Nossos registros mostram que alguns deles trabalharam na construção do Forte, que levou seis anos para ficar pronto. Também houve caso de operários que, após a obra, viraram pescadores — conta Manoel Rebouças, presidente da Z13.
Forte de Copacabana será concedido à iniciativa privada
Entre os turistas sobram elogios para a vista de toda a orla do bairro, considerada impecável até nos dias nublados como na última quarta-feira (10). Mesmo antes da concessão, visitantes têm várias opções para passar o tempo no local. Podem optar por tomar café da manhã, almoçar ou fazer um lanche à tarde. Há também a possibilidade de mergulhar na história das Forças Armadas.
Sem funcionar como fortaleza há anos, o Forte mantém em seu interior vários objetos usados, no passado, para defender a cidade de invasores, como franceses e holandeses. É o caso dos canhões, que servem de cenário para fotos. Por questões de segurança, militares circulam entre os visitantes, porque há áreas interditadas ao público.
O visual é um dos pontos que mais atraem os turistas, como a dupla Railda e Júlia, de Aracaju, no Sergipe, que visitavam o ponto turístico pela primeira vez.
— Estamos de passagem pelo Rio com um grupo de 48 amigas. Viemos conhecer o Sudeste e desembarcamos na cidade na terça-feira. Quando acordei, o tempo estava meio nublado ainda, e eu não fazia ideia de que aqui teria essa vista. Não conhecia o local, nem tinha ouvido falar. É muito bonito — comenta Railda, que preferiu não informar o sobrenome.
O casal Ricardo e Camila está de férias na Cidade Maravilhosa. Os dois aproveitaram a hospedagem em Copacabana para passear a pé pelo bairro e conhecer o Forte, que estava no roteiro.
— Realmente é bem bonito mesmo. Sei que tem café da manhã e almoço. Mas preferimos beber um drinque no Café 18 do Forte — afirma Camila.
Sem funcionar como fortaleza há anos, o Forte mantém em seu interior vários objetos usados, no passado, para defender a cidade de invasores, como franceses e holandeses. É o caso dos canhões, que servem de cenário para fotos. Por questões de segurança, militares circulam entre os visitantes, porque há áreas interditadas ao público.
O visual é um dos pontos que mais atraem os turistas, como a dupla Railda e Júlia, de Aracaju, no Sergipe, que visitavam o ponto turístico pela primeira vez.
— Estamos de passagem pelo Rio com um grupo de 48 amigas. Viemos conhecer o Sudeste e desembarcamos na cidade na terça-feira. Quando acordei, o tempo estava meio nublado ainda, e eu não fazia ideia de que aqui teria essa vista. Não conhecia o local, nem tinha ouvido falar. É muito bonito — comenta Railda, que preferiu não informar o sobrenome.
O casal Ricardo e Camila está de férias na Cidade Maravilhosa. Os dois aproveitaram a hospedagem em Copacabana para passear a pé pelo bairro e conhecer o Forte, que estava no roteiro.
— Realmente é bem bonito mesmo. Sei que tem café da manhã e almoço. Mas preferimos beber um drinque no Café 18 do Forte — afirma Camila.
Apesar de o ambiente ser militar, o traje é informal. O visitante pode entrar de calça ou bermuda, de chinelo ou tênis. O que mais se via na quarta-feira eram pessoas com bonés e óculos escuros para se proteger do calor, embora em alguns momentos ventasse forte.
O Café 18 do Forte é um dos restaurantes que funcionam na área. Com ombrelones vermelhos e mesas de madeiras espalhadas próximas ao parapeito da fortaleza, o local tem como carro-chefe o café da manhã, além de servir almoço e a mesma opção matinal na parte da tarde. Além deste, também há uma unidade da clássica Confeitaria Colombo, que serve os visitantes de forma semelhante. O que diferencia os atendentes de cada restaurante são os uniformes, que condizem com as cores dos logotipos, marrom e azul, respectivamente.
Na quarta-feira de manhã, as mesas dos dois cafés estavam tomadas por casais, famílias e grupos de amigos. Elas são disputadas, e os frequentadores que não fazem reserva com antecedência chegam a formar fila para conseguir um lugar.
— O dia que mais lota é terça-feira, porque a entrada é gratuita. Até em dia de chuva enche, e a maioria que dos clientes é estrangeiro, que não teria outro dia para a visita. A única coisa ruim é quando venta, como hoje (quarta-feira), porque precisamos fechar os ombrelones. Aparece turista de todo mundo, mas o que vejo mais são ingleses e chilenos — conta Silas da Costa, funcionário do Café 18 do Forte há cerca de um ano.
De férias no Rio, a chilena Soledad Ruiz, de 63 anos, visita à cidade pela segunda vez. Gostou tanto do Forte que não só retornou como levou uma amiga para conhecê-lo:
— Estive aqui em março, e amei. Gostei da história e da edificação: é imponente. Além disso, tem uma vista muito bonita e charmosa, boa para fotos e ver o pôr do sol.
Nos salões do Forte, neste momento é possível visitar duas exposições que contam a história do Exército brasileiro, uma de longa duração e outra temporária.
Prazo para leilão
O prazo para definir o modelo de concessão e lançar a licitação é de 36 meses. O diretor de Planejamento e Relacionamento Institucional do BNDES, Nelson Barbosa, acredita, no entanto, que o modelo esteja escolhido entre um ano e um ano e meio. Na terça-feira, foi assinado o contrato entre o BNDES e o Exército. Na próxima segunda-feira, será lançado procedimento para a seleção dos consultores que farão as análises jurídica, comercial e financeira.— Quando forem formuladas, as propostas serão submetidas ao Exército, que tomará a decisão. Esta ainda passará por consulta pública, antes do leilão. Por enquanto, não dá para dizer o que poderia ter no local, nem qual seria a taxa de retorno. Tampouco quais seriam as fontes de receita. Bilheteria, aluguel de espaços, publicidade? Não sabemos — diz ele.
Outros fortes
Assim como o comandante do Forte de Copacabana, o economista Cláudio Frischtak, presidente da Inter.b Consultoria e especialista em infraestrutura, entende que, bem sucedida, a concessão da unidade em Copacabana possa ser estendida para outras cidadelas já abertas ao público no Rio. Contudo, Frischtak faz ponderações:— Com a concessão, sem dúvida os fortes poderão ser melhor aproveitados. A minha preocupação é com a fiscalização das obrigações do concessionário e com a segurança. Talvez, através de convênio, a prefeitura possa fazer a fiscalização, e o Exército continue fazendo a segurança desses locais, considerados hoje muito seguros.
A Fortaleza de São João, na Urca, só recebeu este nome em 1618, mas foi construída em torno do local onde o Rio foi fundado, em 1565. Levantado no século XVIII, o Forte Duque de Caxias, no Leme, outro cotado, é alcançado por bela trilha cercada de verde. O local onde fica o terceiro da lista, a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói, chegou a ser ocupado pelas forças invasoras do francês Villegagnon, em 1565. Hoje, o visitante encontra por lá 42 peças de artilharia de diversos períodos.
— Mesmo antes da concessão, fortes como o de Copacabana e o de São João podem e merecem ser visitados. A história preservada se transforma em atrativo turístico sempre — diz a secretária municipal de Turismo, Daniela Maia.
Museu e história
Com 15 galerias que comportam todos os traços de uma operação de segurança no Forte, o Museu Histórico do Exército resguarda a história do local, antes era chamado de promontório da Igrejinha (a Nossa Senhora de Copacabana, já demolida). O ponto onde a estrutura foi construída é uma região de rochedos que avançam contra o mar na entrada da Baía de Guanabara. A posição foi vista como ideal para posicionar os canhões para evitar a entrada de invasores, conforme é descrito nos painéis expostos em uma das salas subterrâneas.As galerias comportam as munições de canhão de 305 mm, 75 mm e 190 mm. Nelas estão espalhadas explicações, imagens e estruturas conservadas da época, como os pisos, telégrafos, garrafões de glicerina, itens da oficina e da farmácia. Além disso, em algumas delas não é permitida a entrada do público, já que as estruturas são originais.