O governo de Israel manteve um silêncio deliberado sobre o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irã nesta quarta-feira, mas, para muitos israelenses, a morte de um dos seus inimigos mais famosos foi um momento bem recebido após meses de guerra.
Por Ari Rabinovitch | Reuters
JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cujas credenciais de segurança foram despedaçadas por um dos piores ataques em solo israelense, realizado por homens armados do Hamas em 7 de outubro, estava se reunindo com autoridades de Defesa para antecipar o próximo passo.
Líder do Hamas, Ismail Haniyeh, durante entrevista coletiva em Teerã 26/03/2024 Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via REUTERS |
Mas ele já parece se beneficiar da cobertura quase ininterrupta dos quatro principais canais de televisão do país nesta quarta-feira, todos com a manchete: "Ismail Haniyeh eliminado em Teerã".
Em grande parte de Israel, havia um clima de satisfação, um dia depois do Exército de Israel dizer que matou um dos principais líderes do Hezbollah, apoiado pelos iranianos, em Beirute, uma retaliação a um ataque fatal nas Colinas de Golã, ocupadas pelos israelenses.
Netanyahu já havia ganhando um impulso nas pesquisas de opinião após o seu discurso ao Congresso dos Estados Unidos na semana passada, e os golpes consecutivos contra Hezbollah e Hamas contribuíram para restaurar a imagem de um Israel que age contra seus inimigos, segundo Aviv Bushinsky, um ex-assessor de comunicação do primeiro-ministro.
"As pessoas em Israel estão felizes que, pela primeira vez, algo realmente aconteceu", disse. "Então, eu acho que Netanyahu ganhou muito e você verá isso nas pesquisas. Mostra que ele ainda pode comandar o espetáculo, mostra que ele sabe o que está fazendo e tem algum tipo de plano."
Comentaristas e especialistas refletiram sobre as capacidades necessárias para realizar um assassinato como esse -- em território iraniano -- e também especularam sobre qual pode ser seu impacto na guerra em Gaza e as chances de chegar a um acordo pela libertação dos reféns.
"Este é um feito incrível de inteligência ligada às operações, que levou a este resultado", disse Amos Gilad, uma ex-autoridade de Defesa, ao Channel 12. "Sobre o desempenho, podemos dizer que foi impressionante, quem quer que o tenha realizado."
O gabinete de imprensa do governo publicou uma imagem de Haniyeh no Facebook com a palavra "eliminado" em sua testa, mas a publicação parece ter sido posteriormente removida no mesmo dia. Alguns ministros menos graduados, que não fazem parte do círculo de autoridades tomando decisões estratégicas, também foram às redes sociais comemorar a operação.
Mas, oficialmente, o governo Netanyahu manteve silêncio sobre a operação, em um sinal cada vez mais raro de unidade da sua fragmentada coalizão. "Não comentaremos esse incidente", disse um porta-voz, em um briefing com jornalistas.
CONVERSAS EMPACADAS
O assassinato aconteceu em meio a negociações vacilantes por uma proposta de cessar-fogo em Gaza que inclua a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas desde o ataque de 7 de outubro no sul de Israel, que desencadeou a guerra.Egito e Catar, mediando as negociações, disseram que o assassinato pode complicar as tentativas de conseguir um cessar-fogo para acabar com a guerra que deixou Israel cada vez mais isolado internacionalmente.
(Reportagem de Rami Amichay, Ari Rabinovitch, James Mackenzie e Dedi Hayoun)