O médico Mohammed Abou Selmeyah, diretor do Hospital Al-Shifa, o maior estabelecimento de saúde do território palestino em guerra, localizado na Cidade de Gaza, acusou Israel de "torturas" ao ser libertado nesta segunda-feira (1°), após ter passado sete meses detido numa prisão israelense. Autoridades de Israel disseram que investigam essas acusações.
RFI
Vários prisioneiros palestinos foram libertados simultaneamente com o diretor do Hospital Al-Shifa. Cinco deles foram transferidos para o Hospital Al-Aqsa Martyrs em Deir el-Balah, no centro da Faixa de Gaza, segundo uma fonte desse estabelecimento, enquanto os demais foram internados em hospitais de Khan Yunis, no sul do território.
O médico palestino Mohammad Abu Selmeyah, diretor do Hospital Al Shifa, fala à imprensa depois de ser libertado de uma prisão israelense. REUTERS - Mohammed Salem |
A agência de segurança interna de Israel, Shin Beth, disse em um comunicado à imprensa que havia sido encarregada, juntamente com o exército, de "libertar dezenas de prisioneiros a fim de recuperar lugares nos centros de detenção".
O Shin Beth justificou essa libertação explicando que "se opõe à libertação de terroristas da unidade Nukhba do Hamas, que estão envolvidos em combates e ataques a civis israelenses". Mas "foi decidido libertar vários detentos de Gaza que representam um perigo menor", de acordo com a agência de segurança israelense.
Denúncia de detenção e tortura
O diretor do hospital Al-Shifa, Dr. Selmeyah, contabilizou que um total de cerca de 50 detidos foram libertados. Ele contou que foi submetido a "grave tortura" durante sua detenção em Israel e que havia sofrido uma fratura no polegar."Os prisioneiros palestinos são submetidos a todos os tipos de tortura", acusou ele em uma coletiva de imprensa no Hospital Nasser, em Khan Yunis. Muitos prisioneiros morreram em centros de interrogatório e foram privados de alimentos e medicamentos. Ele contou que "durante dois meses, os prisioneiros comeram apenas um pedaço de pão por dia", acrescentando que foram "submetidos a humilhações físicas e psicológicas".
O médico, que foi preso no final de novembro de 2023, disse que havia sido detido "sem acusação". Quando contatado pela AFP, o exército israelense disse que estava verificando a denúncia.
Hospitais são alvos frequentes de Israel
Os hospitais de Gaza têm sido alvo de ataques pesados desde o início da ofensiva militar liderada pelo exército israelense, em resposta ao ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro, no sul de Israel. O governo israelense acusa o movimento islâmico palestino, que está no poder em Gaza desde 2007, de usar hospitais para fins militares. Mas tanto o Hamas, como os médicos palestinos negam essas acusações.O Hospital de Al-Shifa tem sido palco de ataques particularmente intensos do exército. Em abril e maio, pelo menos três valas comuns foram descobertas no local, de acordo com fontes palestinas.
Liberações criticadas pela extrema direita israelense
"A libertação do diretor do centro médico de Al-Shifa, juntamente com dezenas de outros terroristas, é uma renúncia à segurança", declarou o controverso ministro israelense da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, na rede social X.Em um comunicado, o Hamas disse que "os sinais visíveis de tortura e os terríveis testemunhos sobre suas trágicas condições de detenção reafirmam o comportamento criminoso do governo fascista de ocupação".
Em maio, associações palestinas de defesa dos direitos dos detentos afirmaram que dois palestinos, incluindo um médico do Al-Shifa, haviam morrido em uma prisão israelense em decorrência de "tortura" e falta de assistência médica. O exército israelense alegou na época que "não tinha conhecimento" de nenhum incidente desse tipo. Em dezembro, foi aberta uma investigação após a morte sob custódia de vários palestinos presos em Gaza desde 7 de outubro.
(Com AFP)