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12 julho 2024

Apex conclui que pai de Mauro Cid usou escritório de Miami para negociar joias de Bolsonaro

Uma auditoria feita pela ApexBrasil no escritório de Miami, nos Estados Unidos, apontou que o ex-diretor geral da unidade, o general Mauro Lourena Cid, utilizou o local para negociar as joias e presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enquanto ocupava a presidência da República.


Por Guilherme Grandi | Gazeta do Povo

A conclusão faz parte de um relatório divulgado nesta sexta (12) que será enviado à Polícia Federal, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) como parte do inquérito que levou ao indiciamento de Bolsonaro e outras 11 pessoas na semana passada por peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Comissão concluiu que general Lourena Cid recebeu negociador e resistiu a devolver celular usado para fotografar joias.| Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A ApexBrasil informou que 16 pessoas foram interrogadas pela Comissão Extraordinária designada em abril deste ano para apurar as irregularidades. Além do uso do escritório para negociar as joias e presentes, a comissão apontou também a resistência em devolver equipamentos funcionais, acesso à unidade mesmo após a exoneração e “comportamento desviante” das atividades que lhes foram atribuídas.

“Os resultados apontam a prática de delitos e graves desvios de conduta durante a gestão do general Mauro Lourena Cid à frente do escritório”, diz a nota da ApexBrasil com a síntese da apuração a que a Gazeta do Povo teve acesso. A reportagem procurou a defesa do general e aguarda retorno.

Servidores confirmaram informações da PF

De acordo com a apuração da comissão, “boa parte” das informações levantadas pela Polícia Federal durante a investigação “foram confirmadas e detalhadas por documentos examinados e depoimentos tomados pela comissão”. Lourena Cid é apontado como operador da negociação das joias do ex-presidente nos Estados Unidos.

A ApexBrasil aponta que Lourena Cid utilizou a estrutura do escritório para “atividades não relacionadas” à função de diretor geral antes e depois da demissão do cargo, no dia 3 de janeiro de 2023.

“Foi possível concluir que, às 10:39 da manhã de 4 de janeiro de 2023, já demitido mas ainda nas dependências do escritório da Apex, ele usou o celular funcional para compartilhar fotos das joias e objetos de arte do acervo atribuído ao ex-presidente”, aponta a nota ressaltando que as imagens foram produzidas pelo celular corporativo da ApexBrasil.

A agência afirma que Lourena Cid resistiu a devolver tanto o celular – que ele continuou utilizando para falar com o filho, Mauro Cid, até 7 de fevereiro de 2023 – como o notebook funcional, devolvido em 17 e janeiro. Os dados foram apagados dos dispositivos de forma irregular, pois “deveriam ter sua integridade atestada e seus dados apagados por uma empresa prestadora de serviços de tecnologia contratada pela agência”.

Ainda de acordo com a ApexBrasil, o general jamais devolveu o passaporte oficial com visto de trabalho vinculado ao órgão, e manteve o crachá de acesso ao prédio até uma semana após a demissão. Ele ainda recebeu uma senha para acesso ao wi-fi em seu e-mail pessoal, já que teve o bloqueio automático no dia da exoneração, e que pode ter contato com “algum tipo de apoio ou omissão de funcionários” – mas, sem explicar quem pode tê-lo auxiliado.

“Ficou comprovada a presença de Mauro [Lourena] Cid no EA [escritório] semanas após a sua demissão, tempo suficiente para agir conforme seus interesses e afastar qualquer evidência”, concluiu a ApexBrasil.

Lourena Cid recebeu filho e transportador das joias no escritório
A Comissão Extraordinária da ApexBrasil apontou, ainda, que Lourena Cid recebeu o corretor de imóveis Cristiano Piquet em agosto de 2022, apontado pela PF como responsável por levar e guardar uma mala com joias e esculturas que seriam posteriormente negociadas em casas de leilão dos Estados Unidos.

“Piquet confessou à Polícia Federal que, em janeiro de 2023, transportou uma mala de joias do ex-presidente Jair Bolsonaro de Orlando para Miami, a fim de entregá-la ao general Cid”, diz a ApexBrasil na nota sobre a mala que chegou nos Estados Unidos no avião presidencial que Bolsonaro viajou a Orlando no dia 30 de dezembro de 2022, dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A auditoria aponta ainda que o tenente-coronel Mauro Cid também esteve no escritório em janeiro de 2023 mesmo após a exoneração do pai, tendo ficado trancado com ele por algumas horas em sua antiga sala.

“Comportamento desviante” da função

A ApexBrasil também aponta que Lourena Cid tinha um “comportamento desviante” em relação às suas atribuições como diretor do escritório, com “baixo perfil” e “afastamento das atividades de negócios”.

“Jamais fez proposições voltadas à exportação ou captação de investimentos. Não solicitou relatórios, tampouco avaliou resultados. Segundo relatos unânimes, o general aprovava todas as propostas levadas a ele, sem aprofundar conteúdos, sugestões ou reparos”, pontua a nota.

Os relatos coletados pela comissão apontaram indícios de que empresários e representantes de empresas que jamais passaram a ser clientes da ApexBrasil foram recebidos por ele, fora da agenda oficial e repetidas vezes.

“As apurações apontam ainda que a negligência do general Lourena Cid em suas funções à frente do EA Miami [escritório], com a ausência de instrumentos de controle do trabalho da equipe, de reuniões de avaliação e de relatórios qualitativos, acabou por instaurar no local um padrão de desídia e disfuncionalidade”, ressalta a ApexBrasil.

A agência também questiona a mudança de “status” do escritório de Miami de suas funções regulares como a de outras unidades no exterior, tendo sido transformado em “anexo consular” após negociação do governo com o Departamento de Estado dos EUA. Isso permite ao local conceder benefícios e imunidades a diplomatas, como maior facilidade para obtenção de vistos.

"Funcionário fantasma"

Ainda sob a gestão de Lourena Cid, o escritório foi utilizado para contratar de modo fraudulento e por imposição à equipe do médico Ricardo Camarinha, que atendia Bolsonaro, em abril de 2022. Ele foi contratado pela sede da ApexBrasil em Brasília e expatriado “por meio de instrumentos de excepcionalidade (memorando, portaria e carta oferta).

“O médico não desenvolvia qualquer atividade profissional que mantivesse ligação com o cargo de assessor, e nem frequentava as dependências do escritório. O fato configura uma contratação fraudulenta”, pontua a agência classificando-o como "funcionário fantasma".

À reportagem, a ApexBrasil afirmou ainda que fez uma intervenção no escritório de Miami e que “prossegue na apuração e no exame de desdobramentos, desvios e eventuais irregularidades relacionados ao escritório”. “Novas providências poderão ser tomadas após a continuidade do processo de apuração e responsabilização, inclusive o desligamento de colaboradores”, completou.

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