A-29 Super Tucano: um super caçador de drones?

O combate a drones russos, ucranianos, turcos, israelenses e iranianos é uma dor de cabeça constante, tanto na Ucrânia, como na Rússia e em Israel, assim como já o foi na Armênia e ainda é na Síria. E não se está tratando de minúsculos drones do tipo FPV usado por combatentes na frente de batalha, mas sim de artefatos não tripulados que são capazes de percorrer distâncias razoáveis e ir designar alvos, atacar, reconhecer e/ou vigiar instalações militares, comboios de suprimento, tanques, radares, sistemas de mísseis e outros alvos compensadores em território inimigo, como o turco Bayraktar TB2, o iraniano Shahed-136 e os russos Lancet, Eleron, Kub-BLA e Orlan-10, apenas para citar alguns mais conhecidos.


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Para combatê-los, é usado um arsenal variado de armas terrestres, navais e aéreas, incluindo metralhadoras de vários calibres e sistemas, canhões do tipo Buschmaster, mísseis de diversos tipos, armas de interferência no espectro de frequências e, mais modernamente, canhões laser e canhões de pulso, cada uma com maior ou menor êxito conforme a situação.

A-29 Super Tucano

No ataque iraniano a Israel, as centenas de drones lançados na sortida foram destruídas pelo eficiente sistema de defesa integrado dos aviões, navios e baterias antiaéreas terrestres de Israel e dos seus aliados na região, principalmente dos EUA, mas a um custo financeiro altíssimo e desproporcional ao custo da ameaça.

Vídeos mais recentes mostram o esforço de velozes e potentes caças F-16 israelenses tentando abater alguns lentos drones Shahed lançados sobre Israel. Os pré-programados Shahed não são manobráveis, mas podem voar baixo. Já um drone Lancet-3, por exemplo, é pilotado remotamente, o que torna sua caça bem mais difícil.

Uma criativa solução ucraniana

Para suprir a falta de uma defesa antiaérea mais eficiente e compatível com as ameaças dos drones russos, a Ucrânia improvisou uma aeronave de treinamento Yak-52 da era soviética para operações antidrones. Este uso criativo do Yak-52 apresenta uma estratégia de defesa aérea flexível e responsiva, adaptada aos desafios modernos do conflito, principalmente no sul da Ucrânia, longe da frente ativa.

Os drones Lancet e Orlan, utilizados pela Rússia para vigilância e seleção de alvos, estão equipados com sensores eletro-ópticos e designadores de laser. A sua utilização extensiva na Ucrânia levou os ucranianos a procurar soluções eficazes e de baixo custo, como o Yak-52, para combater esta ameaça.

Esses Yak-52 modificados são operados pela Patrulha Aérea Civil da Ucrânia, um grupo composto principalmente por amadores e proprietários de aeronaves privadas. Enfrentando a crescente ameaça dos drones, esta unidade formou um Grupo de Aviação Tática destinado a neutralizar os UAV inimigos, demonstrando o uso inovador dos recursos disponíveis.

O Yak-52, embora não convencional, desempenha agora um papel crucial na rede de defesa aérea do país, destacando a adaptabilidade e resiliência das forças armadas ucranianas neste conflito prolongado.

Estes esforços são complementados por uma série de sistemas de defesa aérea, desde equipes móveis armadas com metralhadoras até sistemas de mísseis, ilustrando a resposta multifacetada da Ucrânia à ameaça contínua dos drones.

O Yak-52 é uma aeronave de treinamento militar projetada pelo Yakovlev Design Bureau e introduzida pela primeira vez em 1979. É um monoplano de asa baixa com assentos tandem, movido por um motor radial Vedeneyev M14P de 360 ​​cavalos (268 kW). Com peso vazio de 1.015 kg e peso máximo de decolagem de 1.305 kg, combina robustez e agilidade para treinamentos e competições acrobáticas.

Com uma envergadura de 9,3 metros, comprimento de 7,7 metros e altura de 2,7 metros, o Yak-52 pode atingir uma velocidade máxima de 285 km/h ao nível do mar e uma velocidade de cruzeiro de 190 km/h a 1.000 metros. Sua capacidade de realizar manobras em baixa velocidade, com velocidade de estol de 85 a 90 km/h, o torna particularmente adequado para operações como perseguição de drones em baixa altitude. Com teto de serviço de 4.000 metros e taxa de subida de 7 m/s, oferece sólido desempenho para aeronave de treinamento e patrulha leve.

Atualmente, não se sabe explicitamente como os aviões Yak-52 conseguem destruir drones. No entanto, diversas modificações teóricas poderiam ser consideradas para adaptar estas aeronaves para missões antidrones. Primeiro, o Yak-52 poderia ser equipado com sistemas eletrônicos simples para bloquear ou interceptar comunicações entre os drones e seus operadores. Outra modificação potencial inclui a adição de pequenos armamentos, como metralhadoras leves ou lançadores de projéteis não guiados, que poderiam ser usados ​​para abater fisicamente os drones de perto. Além disso, o Yak-52 poderia ser usado como isca para distrair drones de alvos mais significativos, permitindo assim que sistemas de defesa terrestre mais capazes engajassem os drones de forma mais eficaz.

Super Tucano: um super caçador de drones?

Nos meios militares de vários países já se comenta que um moderno e versátil avião a hélice de ataque leve, o Embraer A-29 Super Tucano, seria uma solução ideal para operações antidrones, pois é extremamente manobrável, rápido, versátil e muito bem equipado com aviônicos avançados, sensores eletro-ópticos e infravermelhos, sendo capaz de transportar uma grande variedade de armas, incluindo metralhadoras, foguetes e munições guiadas com precisão. Seu design é extremamente resistente, permitindo operar de qualquer lugar. Além disso, é reconhecidamente experimentado em combate, e com muito sucesso.

Dificilmente a aeronave da Embraer poderia ser exportada para países que estejam atualmente em conflito. No entanto, a nova potencialidade do Super Tucano poderia torná-lo um alvo preferencial para forças aéreas de países da OTAN (na versão A-29N) que acompanham com preocupação a evolução do conflito Rússia x Ucrânia e querem se preparar para um possível embate com os russos em qualquer situação.

Na África, onde a aeronave já é utilizada por várias forças aéreas, tal potencialidade também deve chamar a atenção, especialmente em sua versão padrão, haja vista que, além das missões de ataque leve, reconhecimento e contrainsurgência, poderia ser a resposta adequada às recentes aquisições de drones efetuadas por muitos países. Aliás, esse continente já está sendo conhecido como "o novo playground para exportadores de drones", com destaque para os artefatos chineses, turcos e israelenses. Angola, Nigéria, Togo, Níger, Burkina Faso, Mali, Senegal, Etiópia, Líbia, República Democrática do Congo, Chade, Marrocos e Sudão são alguns exemplos.

Super Tucano versão A-29N

A versão A-29N do Super Tucano está especialmente configurada para atender às exigências dos países da NATO (OTAN), tornando-o particularmente adequado às necessidades da Força Aérea Portuguesa (FAP), por exemplo. A versão NATO inclui equipamentos e funcionalidades, tais como um novo datalink, single-pilot operation, entre outras modificações. Tais funcionalidades aumentam ainda mais as possibilidades de emprego da aeronave, permitindo, por exemplo, sua utilização em missões de treinamento JTAC (Joint Terminal Attack Controller). Os dispositivos de treinamento foram igualmente atualizados para os padrões mundiais mais exigentes, incluindo realidade virtual, aumentada e mista, oferecendo uma plataforma versátil para treinamento de pilotos de caça.

O Super Tucano é uma aeronave projetada para realizar diversas missões, incluindo ataque leve, reconhecimento armado e treinamento tático. Destaca-se pelo seu design robusto, capaz de resistir aos ambientes mais hostis e, ao mesmo tempo, minimizar as necessidades de manutenção. Graças a uma plataforma extremamente durável, ele pode operar em pistas despreparadas e oferece alta capacidade de sobrevivência com recursos de proteção ativa e passiva.

A cabine do A-29N foi projetada para reduzir a carga de trabalho do piloto e maximizar a consciência situacional, com uma interface homem-máquina avançada, ergonomia superior e acessibilidade ideal. Os controles intuitivos permitem que o piloto se concentre nos resultados da missão enquanto se beneficia de proteção aprimorada com blindagem na cabine e no compartimento do motor (opcional). Os sistemas a bordo incluem sensores eletro-ópticos/infravermelhos de última geração, um designador de laser integrado para ataques precisos e sistemas seguros de comunicação tática e navegação.

Em termos de desempenho, o Super Tucano A-29N tem uma autonomia de 3,4 horas com combustível interno, estendendo-se para 5,2 horas com tanques externos e sensores EO/IR. Ele pode subir a uma velocidade de 3.240 pés por minuto, com teto de serviço de 35.000 pés. Sua capacidade de decolar e pousar em distâncias curtas (900 metros para decolagem e 860 metros para pouso) o torna um grande trunfo para operações a partir de bases avançadas.

A aeronave possui velocidade máxima de 520 km/h, rápida o suficiente para oferecer uma pronta resposta a alvos aéreos detectados pelos radares terrestres, como helicópteros, pequenos aviões e drones. Sua velocidade de estol é de 148 km/h, permitindo-lhe manobrar e combater drones que naveguem próximo desta velocidade, mesmo em baixas altitudes, como a maioria dos citados nesta matéria.

O sistema de gerenciamento de segurança (SMS) do A-29N é totalmente integrado, gerenciando cinco estações padrão da OTAN e duas metralhadoras internas calibre .50. Esta configuração permite grande flexibilidade no armamento, oferecendo mais de 160 possibilidades de configuração para atender às necessidades específicas da missão. O Super Tucano também é equipado com um sofisticado sistema de proteção eletrônica, incluindo contramedidas automatizadas e sistemas de alerta de radar e mísseis, além de assentos ejetáveis ​​zero-zero para segurança da tripulação em emergências.

O A-29N também é reconhecido por sua solução logística integrada, proporcionando amplo suporte da Embraer. Isto inclui serviços de manutenção, gestão de peças sobressalentes e um centro de contacto com o cliente 24 horas por dia, 7 dias por semana, para garantir a máxima disponibilidade operacional da frota. A Embraer também oferece uma linha completa de dispositivos e estações de treinamento em solo, reduzindo as horas de voo necessárias para treinamento de pilotos, acelerando o processo de aprendizagem e otimizando custos operacionais.

Portugal será o cliente lançador da versão A-29N do Super Tucano

Portugal será o cliente lançador da versão A-29N do Super Tucano, que a Embraer lançou em 2023 como uma versão do turboélice de ataque leve em conformidade com a OTAN. Este fato foi revelado pelo Ministro da Defesa Nacional português, João Nuno Lacerda Teixeira de Melo.

A Força Aérea Portuguesa está de olho em uma aeronave com capacidade para realizar missões de apoio aéreo aproximado (CAS) e de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR) em teatros de operações com infraestrutura limitada, bem como treinamento avançado de pilotos. Portugal procura entre oito e 12 aeronaves, disse o Diretor da Direção de Engenharia e Programas da Força Aérea Portuguesa, Brigadeiro-General João Rui Ramos Nogueira, a Janes em novembro de 2023.

A aquisição destas aeronaves não só fortalecerá as capacidades de defesa de Portugal, mas também apoiará as suas missões de manutenção da paz, particularmente na África, onde o país está ativamente envolvido. Além disso, a FAP já planejava implantar os Super Tucanos no 103º Esquadrão “Caracóis”, retomando assim as operações de treinamento de pilotos que haviam sido suspensas após a retirada do Alpha Jet em 2018.

A nova potencialidade de emprego antidrones, tanto para operações no teatro europeu, como para as missões de manutenção da paz na África, dá ao A-29N Super Tucano um trunfo extra para ser adquirido, não só por Portugal, como também por outros países da OTAN.

*Por "drones" entenda-se qualquer UAV ou VANT (veículo aéreo não tripulado), incluindo munições vagantes (loitering munition).

*Com informações adicionais de Army Recognition e Janes

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