Dois importantes assessores do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentaram a ele um plano para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia -- caso ele vença a eleição presidencial -- que envolve dizer à Ucrânia que ela só receberá mais armas dos EUA se entrar em negociações de paz com Moscou.
Por Gram Slattery e Simon Lewis | Reuters
WASHINGTON - Ao mesmo tempo, os Estados Unidos alertariam Moscou de que qualquer recusa em negociar resultaria no aumento do apoio dos EUA à Ucrânia, disse em uma entrevista o tenente-general aposentado Keith Kellogg, um dos assessores de segurança nacional de Trump.
Ex-presidente e candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump, discursa durante evento de campanha na Filadélfia 22/06/2024 REUTERS/Tom Brenner |
De acordo com o plano elaborado por Kellogg e Fred Fleitz, que atuaram como chefes de gabinete no Conselho de Segurança Nacional de Trump durante seu mandato na Presidência entre 2017 e 2021, haveria um cessar-fogo com base nas linhas de batalha prevalecentes durante as negociações de paz.
Eles apresentaram sua estratégia a Trump, e o ex-presidente respondeu favoravelmente, disse Fleitz. "Não estou afirmando que ele concordou ou que concordou com cada palavra, mas ficamos satisfeitos com a resposta que recebemos", disse ele.
No entanto, o porta-voz de Trump, Steven Cheung, disse que somente as declarações feitas por Trump ou por membros autorizados de sua campanha devem ser consideradas oficiais.
A estratégia delineada por Kellogg e Fleitz é o plano mais detalhado até agora por associados de Trump, que disse que poderia resolver rapidamente a guerra na Ucrânia se derrotar o presidente Joe Biden na eleição de 5 de novembro, embora não tenha discutido detalhes específicos.
A proposta marcaria uma grande mudança na posição dos EUA sobre a guerra e enfrentaria a oposição de aliados europeus e do próprio Partido Republicano de Trump.
O Kremlin disse que qualquer plano de paz proposto por um possível futuro governo Trump teria que refletir a realidade local, mas que o presidente russo, Vladimir Putin, continua aberto a conversações.
"O valor de qualquer plano está nas nuances e em levar em conta a situação real das coisas no terreno", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à Reuters.
"O presidente Putin tem dito repetidamente que a Rússia tem estado e permanece aberta a negociações, levando em conta a situação real das coisas no terreno", disse ele. "Continuamos abertos a negociações."
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia não respondeu aos pedidos de comentários sobre o plano.
ADESÃO À OTAN EM ESPERA
Os elementos centrais do plano foram delineados em um documento disponível publicamente, publicado pelo "America First Policy Institute", um think tank favorável a Trump, onde Kellogg e Fleitz ocupam cargos de liderança.Kellogg disse que seria crucial levar a Rússia e a Ucrânia à mesa de negociações rapidamente se Trump vencer a eleição.
"Dizemos aos ucranianos: 'Vocês precisam se sentar à mesa de negociações e, se não o fizerem, o apoio dos Estados Unidos acabará'", disse ele. "E você diz a Putin: 'Ele tem que se sentar à mesa e, se você não se sentar à mesa, daremos aos ucranianos tudo o que eles precisam para matá-lo em campo'."
De acordo com o documento, Moscou também seria persuadida a sentar-se à mesa de negociações devido a uma promessa de que a adesão da Ucrânia à aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seria adiada por um longo período.
A Rússia invadiu a vizinha Ucrânia em fevereiro de 2022. Até alguns ganhos da Rússia nos últimos meses, as linhas de frente mal se moveram desde o final daquele ano, apesar de dezenas de milhares de mortos em ambos os lados em uma guerra de trincheiras implacável, a luta mais sangrenta na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Fleitz disse que a Ucrânia não precisa ceder formalmente o território à Rússia de acordo com seu plano. Ainda assim, segundo ele, é improvável que a Ucrânia recupere o controle efetivo de todo o seu território no curto prazo.
"Nossa preocupação é que isso tenha se tornado uma guerra de desgaste que matará uma geração inteira de jovens", disse ele.
Uma paz duradoura na Ucrânia exigiria garantias adicionais de segurança para a Ucrânia, disseram Kellogg e Fleitz. Fleitz acrescentou que "armar a Ucrânia até os dentes" provavelmente seria um elemento-chave para isso.
"O presidente Trump declarou repetidamente que uma das principais prioridades em seu segundo mandato será negociar rapidamente o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia", disse o porta-voz de Trump, Cheung. "A guerra entre a Rússia e a Ucrânia nunca teria acontecido se Donald J. Trump fosse presidente. É muito triste."
A campanha de Biden disse que Trump não está interessado em enfrentar Putin.
"Donald Trump elogia Vladimir Putin sempre que pode, e deixou claro que não vai se opor a Putin nem defender a democracia", disse o porta-voz da campanha do presidente democrata, James Singer.
(Reportagem de Gram Slattery e Simon Lewis, e de Guy Faulconbridge, em Moscou)