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10 junho 2024

Membros do BRICS têm posições comuns sobre Gaza e Ucrânia, diz chanceler Vieira

Os ministros das Relações Exteriores do BRICS se reúnem na Rússia para consolidar a ampliação do bloco e coordenar posições sobre Gaza e Ucrânia. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o chanceler Mauro Vieira explica sua posição sobre a expansão do BRICS e revela quais as prioridades para a presidência brasileira do grupo em 2025.


Ana Lívia Esteves | Sputnik

Nesta segunda-feira (10), os ministros das Relações Exteriores do BRICS celebram um encontro histórico em Nizhny Novgorod: o primeiro a reunir os países do grupo em formato ampliado. O encontro definirá os termos da Declaração de Kazan de 2024 e o rumo das futuras expansões do bloco.

© Sputnik / Grigory Sysoev

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, chegou à cidade russa de Nizhny Novgorod, na beira do rio Volga, durante a madrugada. Já no início da manhã, definiu a agenda para o primeiro dia de reuniões na Rússia, ao lado do embaixador do Brasil em Moscou, Rodrigo Baena Soares. A agenda promete ser frenética, como parece ser a regra do ministro, que já se reuniu com mais de 100 chanceleres estrangeiros em menos de um ano e meio de mandato.

"É uma tarefa desafiadora. Neste ano estamos com a presidência do G20, que realiza uma quantidade gigantesca de reuniões. No ano que vem, teremos a COP 30 [30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas] e a presidência do BRICS. Portanto, dois importantíssimos eventos de repercussão mundial", disse o ministro Mauro Vieira à Sputnik Brasil. "Mas, para nós, o BRICS é um grupo importante de coordenação, de troca de informações e conhecimentos. É um grupo de países em desenvolvimento que querem marcar seu lugar no mundo."

Após o encontro multilateral dos ministros das Relações Exteriores do BRICS, a delegação brasileira se reúne em formato bilateral com os ministros de Índia, China, África do Sul, Egito, Cuba, Venezuela e, claro, a anfitriã Rússia.

"As relações entre Brasil e Rússia em breve completarão 200 anos, o que já demonstra sua densidade. O nosso comércio é recorde e cada ano tem crescido mais. Bilateralmente, temos muitos interesses e uma agenda muito rica", notou Vieira. "Pessoalmente, conheço o ministro Lavrov há muitos anos. Mantemos um ótimo diálogo, sempre muito estimulante. É um bom amigo pessoal e um grande diplomata."

Os dois chanceleres têm como objetivo definir os termos da declaração anual do BRICS, que será apresentada aos chefes de Estado em outubro na cidade russa de Kazan. A presença no evento do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, já foi confirmada pela Presidência da República. Segundo o chanceler Vieira, a declaração anual do BRICS deve "refletir a fisionomia do grupo", composto por países "que querem promover mudanças" no cenário internacional.

"São países engajados na reforma da governança global e na construção de formas novas e criativas de relacionamento entre os países", considerou o ministro Vieira. "Os países do BRICS […] são favoráveis à reforma das Nações Unidas, das instituições financeiras internacionais […] e da Organização Mundial do Comércio [OMC] — uma organização fundamental, que está paralisada há muitos anos."

No entanto, o ponto central para o Brasil é a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), "sobre a qual os cinco membros iniciais têm uma posição muito clara, muito direta e declarada publicamente", asseverou o ministro. Durante seu discurso de abertura dos trabalhos em Nizhny Novgorod, Vieira lembrou que o apoio à reforma do CSNU foi detalhado na Declaração de Joanesburgo II de 2023 e deve se manter como "a pedra angular do BRICS".

A declaração de Kazan tampouco se furtará a tocar em temas sensíveis das relações internacionais contemporâneas, como o conflito israelo-palestino e o conflito ucraniano, antecipou o ministro das Relações Exteriores do Brasil.

"Na minha opinião, é normal que no ambiente do BRICS se trate dos conflitos que, no presente, são objeto de preocupação para todos os países-membros. Esses são dois temas sobre os quais todos os membros temos posições muito parecidas", disse Vieira.

Segundo ele, o grupo é unânime quanto ao conflito israelo-palestino, já que "todos pedem pela cessação das hostilidades, pela negociação da paz e, sobretudo, para que o auxílio humanitário e a libertação dos reféns sejam realizados o mais rápido possível". Para o chanceler brasileiro, esses passos são fundamentais para que "se criem as condições para dois estados autônomos, independentes e vivendo lado a lado, de acordo com as fronteiras de 1967".

"Com relação à questão da Ucrânia, acredito que todos os países [do BRICS] querem o início de conversas completas, que envolvam os dois lados. O Brasil está mais do que disposto a defender, promover ou participar de todas as iniciativas que sejam realmente efetivas. Iniciativas que contem com os dois lados, nas quais se possa conversar séria e abertamente sobre essa questão", declarou Vieira.

Expansão ritmada


Conforme o BRICS abarca novos membros, encontrar consenso na agenda de paz e segurança internacionais pode se tornar uma tarefa mais complexa. A busca pelo ritmo ideal de expansão do BRICS e a possível criação de uma categoria de Estado-sócio do grupo são tópicos que estão no topo da agenda dos diplomatas reunidos em Nizhny Novgorod.

"Neste momento estamos justamente nessa discussão, e hoje será um dia importante para isso. Na minha opinião, a expansão acrescentou valor e deu destaque ao grupo", disse o ministro. "Acho que a importância é discutir como e de que forma se dará a próxima expansão: se serão países parceiros, como uma categoria intermediária até chegar a membros plenos. Mas isso deve ser feito, sem dúvida, com vagar e com tempo para analisar e considerar quais posições tomar."

A posição de Vieira encontra respaldo entre autoridades russas. Em declaração durante o Fórum Internacional Econômico de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reconheceu que o número de países candidatos a entrar no BRICS supera a capacidade do grupo para integrá-los.

"A cúpula de Kazan será muito importante. Os chefes de Estado terão que dar uma orientação sobre como proceder no próximo ano e nos anos seguintes, considerando o número de países que manifestaram interesse, […] quase 30", disse Vieira. "E, neste momento, teremos que discutir os critérios."

Rumo a 2025


Temas afeitos aos rumos do BRICS no curto prazo são de especial interesse do Brasil, que assumirá a presidência do grupo em 2025. O Itamaraty ainda delibera acerca da mensagem central e do logotipo de sua presidência, mas já sabe quais temas dominarão a agenda.

"Além da concertação política, que já está sendo feita, daremos importância para mais dois outros temas: aprofundar os estudos com vistas ao pagamento de comércio entre o bloco em moedas locais […] e dar um impulso cada vez maior ao Banco do BRICS", revelou o chanceler.

Durante a reunião de ministros, Mauro Vieira lembrou da decisão do BRICS de reunir os ministros das Finanças e diretores dos bancos centrais, a fim de desenvolver sistemas de pagamentos em moedas locais, pedindo total engajamento dos novos membros na iniciativa.

Em seu discurso, Vieira pediu compasso entre a expansão do BRICS e das demais instituições do bloco, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Apesar da autonomia formal, o banco segue a tendência de expansão do BRICS e integrou países como Bangladesh, Egito, Uruguai e Emirados Árabes Unidos à sua estrutura institucional.

"O resultado mais palpável do trabalho do BRICS é o Novo Banco de Desenvolvimento, que é uma instituição importantíssima, com uma trajetória de sucessos e projetos aprovados. Esperamos a participação ativa dos novos membros do banco", disse Vieira. "Contamos agora com a ex-presidenta Dilma Rousseff na presidência do banco, que tem dado uma feição nova e muito ativa à instituição."

O Brasil vai embarcar na liderança do BRICS praticamente sem escala após concluir sua presidência do G20, órgão que concentra a maior parte da população e do produto interno bruto (PIB) global. Além das afinidades de agenda e membresia coincidentes, o G20 também se encontra em processo de expansão, com a recente adesão da União Africana ao grupo.

"Estamos preparando a nossa presidência do BRICS em um ano que será denso e desafiador, com muitas iniciativas no campo diplomático multilateral. […] Mas eu estou muito otimista. Acredito que da reunião de hoje sairão resultados, iniciativas e sugestões fundamentais para enfrentarmos as dificuldades do mundo moderno, que não são poucas", concluiu o chanceler brasileiro.

Entre os dias 10 e 11 de junho, Mauro Vieira cumpre agenda na cidade de Nizhny Novgorod, no âmbito da reunião anual de ministros das Relações Exteriores dos países do BRICS. As reuniões desta segunda-feira (10) contaram com representantes de alto nível de Brasil, Rússia, Índia, África do Sul, China, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã. Aos encontros de terça-feira (11) se somarão representantes de Arábia Saudita, Bahrein, Bangladesh, Belarus, Cuba, Cazaquistão, Laos, Mauritânia, Sri Lanka, Tailândia, Turquia, Venezuela e Iêmen.

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