Marinha do Brasil colabora com centro de excelência naval do Reino Unido

Força contribui para que padrões de treinamento sejam cumpridos e objetivos operacionais alcançados


Por Agência Marinha de Notícia

Os Fundamentos Doutrinários da Marinha do Brasil (MB) são claros quanto à relação desta com outros países: “Marinhas não existem somente para se contraporem às ameaças existentes no ambiente marítimo e fluvial” e “embora esse seja seu papel principal, elas têm um papel tradicional no apoio à política externa, por intermédio da contribuição para o estabelecimento de parcerias estratégicas, fortalecimento da autoridade do Estado e para a projeção do País no cenário internacional”.

Treinamento da Fragata portuguesa “Dom Francisco de Almeida” pela equipe do FOST(S) – Imagem: Marinha do Brasil

É justamente por meio dessa diretriz, que a MB se posiciona como elemento estratégico da política externa brasileira, característica conhecida como “Diplomacia Naval”. Nesse cenário, a Força atua em parceria com a Marinha do Reino Unido (Royal Navy), contribuindo com um dos centros de formação de excelência, o Fleet Operational Standards and Training (Ships), ou FOST(S), situado na cidade de Plymouth, na Inglaterra.

O FOST(S) é referência em capacitação naval, sendo responsável por preparar navios de diversas Marinhas do mundo para operações complexas e de alta intensidade, no ambiente marítimo global.

Os programas de treinamento do FOST(S) incluem: exercícios de guerra de superfície, guerra antissubmarina e guerra antiaérea, operações anfíbias, manobras táticas e respostas a emergências ou desastres, entre outros. O treinamento é essencial para garantir que cada navio e sua respectiva tripulação estejam prontos para qualquer situação que possam encontrar no mar, desde a necessidade de ajuda humanitária até operações de paz ou cenários de conflito.

Um navio que está sendo capacitado no FOST(S) é a Fragata “Dom Francisco de Almeida”, da Marinha portuguesa. Trabalhando para o sucesso desta capacitação, o Capitão de Corveta Kaio César Câmara De Lima, da Marinha do Brasil, atua como Oficial de Ligação entre a Royal Navy e a Marinha portuguesa. Essa função envolve a coordenação direta entre as duas instituições, garantindo que os padrões de treinamento sejam cumpridos e que os objetivos operacionais sejam alcançados.

O Capitão de Corveta Câmara explica que o FOST(S) é uma instituição renomada internacionalmente, por conta de seu rigor em garantir qualidade nos treinamentos. “Ser o Oficial de Ligação entre o FOST(S) e a Marinha portuguesa é uma honra e uma responsabilidade que encaro com grande empenho. O treinamento aqui é bastante intenso e abrangente, preparando as tripulações para enfrentar os desafios mais diversos e complexos em operações navais”.

A Agência Marinha de Notícias (AgMN) entrevistou o Capitão de Corveta Câmara. Confira!

AgMN – Como o senhor ingressou no FOST(S) e o que fez este centro de excelência em treinamento naval admitir um Oficial brasileiro para integrar seu time?

CC Câmara –
Ingressei no FOST(S) por meio de um processo seletivo rigoroso, que envolveu uma avaliação detalhada do meu histórico profissional e das minhas qualificações. O FOST(S) reconheceu a importância da colaboração internacional e o valor de ter Oficiais de diferentes Marinhas para enriquecer o intercâmbio de conhecimentos e práticas. Minha experiência na Marinha do Brasil, aliada aos cursos e treinamentos específicos que realizei, foram fatores decisivos para minha admissão no centro de excelência.

AgMN – Quais são as atribuições do cargo que o senhor desempenha junto ao FOST(S)?

CC Câmara –
Minhas atribuições no FOST(S) incluem a supervisão e a condução de treinamentos avançados para navios de guerra, a avaliação de desempenho das tripulações e a aplicação de exercícios que simulam situações de combate real. Também sou responsável por garantir que os padrões operacionais sejam mantidos e integrados com as práticas internacionais, promovendo uma sinergia entre as forças navais participantes.

AgMN – O que representa, para o Brasil, um militar da MB servir nesse centro de excelência?

CC Câmara –
Servir no FOST(S) representa um grande prestígio para o Brasil, demonstrando a capacidade e a competência da Marinha brasileira no cenário internacional, fortalecendo, assim, a Diplomacia Naval, abrindo portas para cooperações futuras e conferindo ao nosso País um status diferenciado. É uma prova de confiança e reconhecimento por parte de outras nações, destacando a importância do Brasil no contexto global de defesa e segurança marítima.

AgMN – De que forma os cursos que o senhor fez em sua carreira na MB contribuíram para o desempenho dessa função?

CC Câmara –
Os cursos que realizei na Marinha do Brasil foram fundamentais para meu desempenho no FOST(S). Forneceram-me uma base sólida de conhecimento técnico e operacional, além de habilidades de liderança e tomada de decisão em situações de alta pressão. A diversidade de treinamentos, desde operações de combate até gestão de crises, permitiu-me adaptar e aplicar essas experiências no ambiente desafiador do FOST(S).

AgMN – Como são os treinamentos conduzidos pelo FOST(S)?

CC Câmara –
Os treinamentos conduzidos pelo FOST(S) são divididos em duas partes principais: teórica e prática. Inicialmente, são conduzidos briefings detalhados e sessões de TTT (tabletop tactics), que são discussões e simulações sobre as responsabilidades individuais nos exercícios a serem realizados durante o treinamento.

Essas sessões teóricas proporcionam uma compreensão detalhada dos objetivos, procedimentos e táticas que serão aplicados. Após essa preparação teórica, os exercícios práticos são realizados no mar, onde as tripulações aplicam o que foi discutido em cenários realistas e desafiadores. Esta abordagem integrada garante uma compreensão completa e a capacidade de aplicar os conhecimentos de forma eficaz em situações reais.

AgMN – O que difere o treinamento proporcionado pelo FOST(S) de demais treinamentos navais em outras localidades?

CC Câmara –
O diferencial do treinamento no FOST(S) é o seu foco intensivo em realismo e exaustividade. As avaliações são rigorosas e os exercícios são projetados para desafiar as tripulações ao máximo, preparando-as para qualquer eventualidade no mar. A abordagem de “treinamento até a falha” permite identificar e corrigir pontos fracos, garantindo que as tripulações estejam prontas para operar sob as condições mais adversas.

AgMN – A Marinha brasileira já participou de algum treinamento no FOST(S)?

CC Câmara –
Sim, a Marinha do Brasil já participou de treinamentos no FOST(S). As Fragatas Classe Niterói construídas no Reino Unido (“Niterói”, “Defensora”, “Constituição” e “Liberal”) foram os primeiros navios da MB a participarem de treinamentos com o FOST(S), ainda na década de 1970. Mais recentemente, entre 2012 e 2013, os três Navios-Patrulha Oceânicos da Classe Amazonas (“Amazonas”, “Apa” e “Araguari”) completaram com sucesso o treinamento do FOST(S) com a Royal Navy. Este treinamento foi realizado na costa do Reino Unido e tinha como objetivo preparar as tripulações para enfrentar uma variedade de cenários operacionais. A participação nesse treinamento visava garantir que as tripulações estivessem totalmente capacitadas para operar os novos navios com proficiência e segurança, além de fortalecer a cooperação e a interoperabilidade entre a Marinha do Brasil e a Royal Navy.

AgMN – Além da Marinha portuguesa, quais outras Marinhas amigas já passaram por esse treinamento este ano?

CC Câmara –
Este ano, várias Marinhas aliadas passaram pelo treinamento no FOST(S), incluindo as Marinhas da Alemanha, da Noruega, da Holanda e da Dinamarca. O conflito armado entre Ucrânia e Rússia e os que ocorreram no Oriente Médio aumentaram a demanda por treinamentos especializados, pois as Marinhas buscam estar melhor preparadas para enfrentar ameaças e operar em ambientes de alta tensão.

AgMN – Como é o processo para que essas Marinhas participem desse treinamento da Royal Navy?

CC Câmara –
O processo para participação no treinamento do FOST(S) envolve um planejamento conjunto entre a Royal Navy e as Marinhas interessadas. Inicialmente, há uma troca de informações para definir os objetivos específicos de treinamento. Em seguida, são realizados acordos bilaterais e logísticos para garantir a disponibilidade de recursos e infraestrutura. Finalmente, é desenvolvido um cronograma detalhado de exercícios e avaliações que atendam às necessidades das forças navais participantes.

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