Milhares de israelenses saíram às ruas na noite de segunda-feira (17) para exigir a renúncia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o fim da guerra na Faixa de Gaza e a volta dos reféns. Em Jerusalém, duas grandes manifestações foram realizadas: uma perto da residência do premiê e outra nos arredores do Knesset, o Parlamento do país.
Sami Boukhelifa | RFI em Jerusalém, com agências
As ruas estão novamente em ebulição em Israel. Manifestações contra o governo estão previstas durante toda essa semana nas principais cidades do país. O fracasso na gestão da guerra na Faixa de Gaza e no resgate de dezenas de reféns que permanecem no enclave desde o fatídico 7 de outubro de 2023 alimentam a revolta da população.
Protesto contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu perto do Knesset, o Parlamento israelense, em Jerusalém, em 17 de junho de 2024. REUTERS - Eloisa Lopez |
A manifestante Tova afirma que o governo israelense é formado por "ditadores e fascistas" e acredita que Netanyahu e seus ministros de extrema direita estão arruinando o país. "Temos uma coalizão de nacionalistas fanáticos e de religiosos que não se preocupam com os interesses do país. Eles trabalham apenas em prol de suas comunidades", diz.
Em plena guerra, o governo e sua maioria debatem uma lei para isentar judeus ultraortodoxos do serviço militar, obrigatório a todos os cidadãos e cidadãs israelenses a partir de 18 anos. Para a estudante Noga, a medida é inaceitável.
"Os judeus ultraortodoxos representam hoje 20% da população. Eles não se alistam ao Exército e só fazem aquilo que querem. Eles cruzam os braços e são financiados pelo governo graças aos nossos impostos. Essas pessoas se recusam a lutar e nos enfraquecem", diz a jovem.
No meio da multidão, Oren afirma que participa há anos de todas as manifestações contra Netanyahu. "A situação só piora para os reféns, nossos soldados e a população na Faixa de Gaza. Todos sofrem por causa de uma guerra que deveria ter terminado há muito tempo", afirma.
Segundo Oren, o premiê se preocupa somente com seus próprios interesses. "Fazer perdurar a guerra permite que Netanyahu se mantenha no poder", avalia.
Fim do gabinete de guerra
As manifestações da noite de segunda-feira ocorrem uma semana após a renúncia dos dirigentes centristas Benny Gantz e Gadi Eisenkot do gabinete de guerra, dissolvido no domingo (16). Apesar da demissão dessas duas importantes figuras da oposição, Netanyahu e seus aliados conservam a maioria no Parlamento.No entanto, novas informações trazidas à tona pela imprensa israelense e internacional deixam claras as falhas dos serviços de inteligência de Israel antes do ataque do grupo Hamas, há quase nove meses, e balançam ainda mais o governo. Segundo a emissora pública de rádio e TV Kan, militares estavam a par do projeto do movimento islâmico desde setembro.
Uma unidade do Exército de Israel, encarregada de escutas, chegou a redigir um relatório sobre treinamentos de milícias de elite do Hamas para atacar posições militares e invadir kibutz no sul do país, menos de três semanas antes do 7 de outubro de 2023. Segundo a Kan, o documento mencionava o objetivo de sequestrar "entre 200 e 250 reféns".
Outra informação que pressiona Netanyahu é a confirmação que dezenas de reféns seguem vivos no enclave palestino. "Não podemos deixá-los por mais tempo lá. Eles vão morrer", afirmou sob anonimato à AFP um alto responsável israelense que participa das negociações para um cessar-fogo.
No entanto, Netanyahu persiste em sua promessa de "aniquilar" o Hamas e dá sequência à ofensiva no enclave, com o risco do conflito se estender ao Líbano, com o envolvimento do Hezbollah. O plano de trégua apresentado pelo presidente americano, Joe Biden, no final de maio, foi recentemente modificado e aprovado pelo Hamas, mas não recebeu, até o momento, um sinal verde de Israel.