Presidente da Rússia – cuja delegação inclui altos funcionários da defesa e segurança – foi recebido por Xi no Grande Salão do Povo de Pequim com todo o esplendor militar
Simone McCarthy | CNN
Hong Kong - O líder chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin comprometeram-se a aprofundar a sua parceria estratégica em Pequim nesta quinta-feira (16), numa clara demonstração do seu crescente alinhamento à medida que as tropas de Moscou avançam na Ucrânia.
Presidente russo Vladimir Putin é recebido por uma guarda cerimonial e com tapete vermelho em Pequim, China. | Kremlin Press Office / Handout/Anadolu via Getty Images |
Putin – cuja delegação inclui altos funcionários da defesa e segurança – foi recebido por Xi no Grande Salão do Povo de Pequim com todo o esplendor militar, anunciando o início da visita de Estado de dois dias do presidente russo.
Xi saudou o aprofundamento dos laços entre os dois países, que foram formalizados numa declaração conjunta assinada pelos líderes numa cerimônia durante a tarde, dizendo que iria “injetar um forte impulso” no desenvolvimento das suas relações.
A visita – a primeira incursão de Putin no exterior desde que iniciou um novo mandato como presidente da Rússia na semana passada – é o mais recente sinal de estreitamento das relações, à medida que os dois países unem os seus países mais estreitamente face ao forte atrito com o Ocidente.
Nas reuniões com Putin, Xi disse que as relações China-Rússia “resistiram ao teste de um cenário internacional em mudança” e fizeram “contribuições positivas para a manutenção da estabilidade estratégica global”, de acordo com um comunicado do Ministério de Relações Exteriores da China.
Putin, cujo país a economia se tornou cada vez mais dependente da China desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, saudou a “cooperação prática” dos países em reuniões com Xi, destacando o seu comércio bilateral recorde no ano passado, ao mesmo tempo que enfatizou a importância de reforçar a energia, a indústria, e cooperação agrícola.
O encontro é a quarta vez que Putin e Xi falam cara a cara desde que a Rússia lançou a invasão da Ucrânia – semanas depois dos dois terem declarado uma parceria “sem limites” à margem dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim.
A visita de Estado desta semana ocorre em meio à crescente preocupação internacional sobre a direção da guerra na Ucrânia, em meio a atrasos na ajuda a Kiev e enquanto a economia e o complexo de defesa da Rússia parecem não se deixar abater pelas sanções ocidentais – uma situação que as autoridades dos Estados Unidos alegaram estar ligada ao apoio chinês, o que Pequim nega.
Putin diz que ele e Xi discutirão a guerra na Ucrânia em conversas informais na noite de quinta-feira, que deverão incluir o recém-nomeado ministro da Defesa da Rússia, Andrey Belousov, e seu antecessor, Sergei Shoigu, agora secretário do Conselho de Segurança da Rússia.
Crescente pressão internacional sobre a Ucrânia
As boas-vindas de Putin a Pequim acontecem um dia depois do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter anunciado através do seu gabinete que suspenderia todas as próximas viagens internacionais, enquanto as suas tropas se defendem contra uma ofensiva russa surpresa na região nordeste do seu país, Kharkiv.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, esteve em Kiev no início desta semana para reafirmar o apoio do governo Biden à Ucrânia, após meses de atraso do Congresso na aprovação da ajuda militar americana ao país em apuros.
Blinken prometeu US$ 2 bilhões em financiamento militar estrangeiro e disse que munições e armas tão necessárias estão sendo enviadas às pressas para a linha de frente.
Também tem aumentado a pressão sobre Xi, tanto dos EUA como da Europa, para garantir que as crescentes exportações da China para a Rússia desde o início da guerra não apoiem o esforço de guerra do Kremlin.
Nas últimas semanas, responsáveis da Casa Branca confrontaram Pequim sobre o que consideram ser um apoio substancial à base industrial de defesa da Rússia – sob a forma de bens como máquinas, motores de drones e turbojatos e microeletrônica exportados da China.
Pequim criticou os EUA por fazerem “acusações infundadas” sobre “trocas comerciais e econômicas normais” entre a China e a Rússia.
Pequim nunca condenou a invasão da Rússia, mas sim reivindicou neutralidade no conflito e divulgou uma posição vagamente articulada de 12 pontos sobre a sua resolução.
Antes da esperada conferência de paz na Suíça no próximo mês, Xi apelou a negociações de paz que tenham em conta as posições de ambos os lados.
Numa entrevista à mídia estatal chinesa Xinhua antes de sua chegada, Putin elogiou as “abordagens da China para resolver a crise na Ucrânia”.
Falando ao lado de Putin nesta quinta-feira, o líder chinês disse que ambos os países “concordam que a resolução política para a questão da Ucrânia é a direção certa” e apelou à construção de um “quadro de segurança equilibrado, eficaz e sustentável” – uma alusão à visão partilhada de Pequim e Moscou é que a Otan é a culpada pela guerra na Europa.
“A China espera paz e estabilidade na Europa em breve e continua a desempenhar um papel construtivo”, disse Xi.
Alinhamento em atritos compartilhados
A visita desta semana marca a 43ª reunião dos líderes em mais de uma década em que Xi está no poder.
Xi e Putin, conhecidos pela sua estreita química pessoal, expandiram constantemente a coordenação diplomática e a cooperação econômica e de segurança dos seus países durante esse período – à medida que ambos enfrentavam atritos crescentes com os Estados Unidos e os seus aliados.
Mesmo enquanto Xi procura reparar relações desgastadas com a Europa e estabilizar os laços do seu país com os Estados Unidos, ele é amplamente visto como pouco disposto a sacrificar a sua parceria com Putin, que o líder chinês vê como um parceiro indispensável na remodelação de uma ordem mundial que ambos acreditam ser dominados injustamente pelos EUA e que procuram contê-los.
Esta visão de mundo compartilhada também foi exposta nesta quinta-feira, quando Xi, falando ao lado de Putin, denunciou a persistente “mentalidade de Guerra Fria” e disse que “a hegemonia unilateral, os confrontos campais e a política de poder ameaçam a paz mundial e a segurança de todos os países” – usando uma linguagem típica de Pequim.
Putin acenou com a cabeça às preocupações de Xi sobre o crescente envolvimento entre a Otan e países com ideias semelhantes na Ásia, apelando a uma “arquitetura de segurança confiável e adequada na região Ásia-Pacífico, na qual não haverá lugar para alianças político-militares fechadas”.
“Acreditamos que a criação de tais alianças é contraproducente e prejudicial”, disse Putin após as reuniões de quinta-feira.
Além dos compromissos em Pequim, que deverão incluir uma “gala” que assinalará os 75 anos de relações diplomáticas entre os dois países, Putin também deverá participar em fóruns de comércio e cooperação em Harbin, capital da província de Heilongjiang, no nordeste da China, que faz fronteira com o Extremo Oriente da Rússia.
A região é historicamente um local de tensões fronteiriças de longa data entre os dois vizinhos, que eclodiram no conflito entre a China e a União Soviética em 1969, e tem visto uma conectividade crescente com partes do Extremo Oriente da Rússia nos últimos anos.
Putin também deverá se reunir com estudantes e professores do Instituto de Tecnologia de Harbin, uma universidade sancionada pelo governo dos EUA em 2020 por seu suposto papel na aquisição de itens para as forças armadas da China.