"A ilha um dia voltará para nós!” Na costa leste chinesa, em frente a Taiwan, turistas examinam, nesta sexta-feira (24), as águas do estreito, onde acontecem exercícios militares, sonhando com a “reunificação pacífica”. O clima na região ficou mais tenso após posse do novo presidente, em Taipei.
RFI
No seu discurso de posse na segunda-feira (20), o novo presidente de Taiwan, Lai Ching-te, prometeu preservar o sistema democrático da ilha e pareceu querer aprofundar a separação com a China continental.
Posse de novo presidente de Taiwan aumenta tensão com chineses, que sonham com a reunificação© AFP - HECTOR RETAMAL |
Em resposta, Pequim lançou grandes manobras militares para cercar o território e acusou Lai de empurrar Taiwan, sobre a qual a China reivindica soberania, para a “guerra”. Nesta sexta-feira, 62 aviões militares chineses faziam manobras em torno do território.
Na ilha turística de Pingtan, o ponto mais próximo de Taiwan na China continental, os visitantes consideram temporária a separação entre os dois lados, que data do fim da guerra civil chinesa, em 1949.
“Partilhamos raízes comuns” com os habitantes de Taiwan, a grande maioria dos quais são de cultura chinesa, sublinha Chen Yan, uma mulher de 60 anos da cidade de Wuhan. “Haverá inevitavelmente uma reunificação” um dia, segundo ela.
“Seja o governo da China continental ou o de Taiwan, a nossa esperança comum é alcançar a reunificação pacífica”, enfatiza. “Não podemos, no entanto, excluir que, diante de determinadas situações”, as autoridades chinesas “possam ser obrigadas a conseguir isso por outros meios”, inclusive militares, acredita ela.
'Provocação'
Perto dali, turistas posam em frente a um monumento de pedra que indica que o local tem “a distância mais curta entre a pátria mãe e a ilha de Taiwan”, ou 68 milhas náuticas (cerca de 126 quilômetros).
Um turista de 29 anos diz achar que Lai Ching-te não é legítimo para governar a ilha. “Na melhor das hipóteses, o 'presidente de Taiwan' é o líder temporário da região”, afirma. Taiwan é, "é claro", uma "parte da China", acrescenta, insistindo que, sendo assim, Lai "não pode ser chamado de presidente".
Sons de corneta emanam de uma encosta próxima, onde fica um complexo militar chinês. Os slogans escritos nas paredes apelam a “seguir as ordens do Partido Comunista” e “ser capaz de vencer batalhas”.
Outro lema retoma uma famosa citação do presidente chinês, Xi Jinping, em referência a Taiwan: “A pátria deve ser reunificada e será inevitavelmente reunificada”.
A máquina midiática chinesa tem funcionado a todo o vapor desde o início dos exercícios militares na quinta-feira e um porta-voz do Ministério da Defesa prometeu, nesta sexta, “contramedidas” a qualquer “provocação” dos apoiadores da independência de Taiwan.
Reunificação estaria 'próxima'
Mas a 200 quilômetros a sudoeste de Pingtan, na cidade chinesa de Xiamen, a apenas alguns quilômetros da ilha taiwanesa de Kinmen, não há sinais aparentes de atividade militar. Na chuva, os turistas lotam a praia com suas sombrinhas. Eles posam para fotos em frente à paisagem marítima ou negociam produtos com vendedores locais.
“Vi as notícias sobre os exercícios militares esta manhã quando acordei”, disse Xu, 43 anos, da província de Sichuan, no sudoeste da China. “Mas não estou muito interessada neste tipo de notícias nacionais”, explica ela, ocupada tirando uma foto de um farol voltado para Kinmen.
Perto da praia, uma enorme mensagem composta por oito caracteres chineses vermelhos com vários metros de altura proclama: “Um país, dois sistemas, vamos reunificar a China”. A frase se refere à promessa feita por Pequim a Taipei de preservar o sistema político democrático da ilha em caso de reunificação.
Em Pingtan, um turista de 24 anos está convencido: o dia da reunificação está se aproximando. "A independência de Taiwan não é desejável. A ilha retornará para nós um dia e esse dia está próximo”, disse à AFP.
“Precisamos mostrar (às autoridades taiwanesas) que somos fortes. Não temos medo deles, mas queremos usar meios pacíficos para devolver Taiwan à China”, indicou.
(Com AFP)