Gadi Eisenkot, ex-chefe do Estado-maior do exército de Israel e ministro do Gabinete de Guerra, afirmou nesta segunda-feira (27) que o grupo palestino Hamas “renovou suas forças”, de modo que a guerra em Gaza deve “continuar por anos”, reportou o website israelense Ynet News.
Monitor do Oriente Médio
Para Eisenkot, o contexto demanda um acordo imediato para troca de prisioneiros.
Seus comentários foram proferidos durante uma “discussão fechada” do Comitê de Segurança e Assuntos Estrangeiros do Knesset (parlamento), segundo a imprensa local.
Eisenkot divergiu do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ao recomendar, como curso de ação em Gaza, “o fim dos combates em Rafah e avanço, simultaneamente, rumo a um acordo de reféns, incluindo cessar-fogo por 42 dias ou mais”.
Conforme o general reformado, “não há correlação entre libertar os prisioneiros e acabar com a guerra”, de modo que negociações envolvendo os reféns são fundamentais a Israel, no presente momento, de um posto de vista rigorosamente estratégico.
“Como paramos em novembro para uma pausa breve, podemos parar por 42 dias”, aconselhou Eisenkot. “Mesmo que precisemos de mais tempo, não significa acabar com a guerra”.
O Estado israelense passa por uma crise interna, com 70% da população assinalando o fracasso de Netanyahu em reaver os prisioneiros de guerra em Gaza, após a destruição do território por quase sete meses. Protestos de massa, em escala semanal, pedem sua renúncia.
No domingo (26), o ex-chefe do Mossad, Danny Yatom, alertou que o “tempo está acabando” no que diz respeito aos prisioneiros em Gaza, implicando em uma derrota tática de Israel. Segundo Yatom, mesmo que a guerra persista, o Hamas não será exterminado.
Sobre a extensão do conflito, segundo o jornal Times of Israel, Eisenkot apontou “pessimismo”: “Teremos de conduzir esta guerra por muitos, muitos anos”.
Para Eisenkot, suspender os combates significa permitir a soltura dos reféns. “Há um consenso no gabinete de guerra sobre a demanda pela soltura”, declarou o ministro, ao lamentar, porém, que o “gabinete expandido não consegue realizar sua função”.
Negociações estão previstas para serem retomadas no Catar na próxima semana.
Em nota, no entanto, o gabinete de Netanyahu confirmou que o premiê se “opõe firmemente” a um cessar-fogo, ao alegar que as demandas “somente fortalecem a posição do Hamas, lesam as famílias e tornam a soltura mais improvável”.
Analistas apontam que Netanyahu mantém a guerra em Gaza e nega negociações sob interesse próprio, conforme receios do colapso de seu governo de extrema-direita e eventual prisão por seus três processos de corrupção.
Os ministros supremacistas Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças) recusam negociações, sob ameaças de deixar o governo. Pedem também a reocupação de Gaza e expulsão dos dois milhões de palestinos ao deserto do Sinai.
O Hamas se compromete com o fim da guerra, conforme retirada das tropas ocupantes, acesso humanitário contínuo e retorno dos refugiados ao norte de Gaza. A negociação inclui a troca de prisioneiros: 128 israelenses em Gaza contra 9.500 palestinos nas cadeias da ocupação.
A maioria dos presos palestinos permanece em custódia sem julgamento ou acusação — reféns, por definição.
Em 7 de outubro, combatentes da resistência palestina cruzaram a fronteira nominal de Gaza e capturaram colonos e soldados. Segundo o exército ocupante, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. O número, no entanto, sofre escrutínio, após o jornal israelense Haaretz reportar “fogo amigo”, sob ordens gravadas de comandantes de Israel para impedir a tomada de reféns.
Em Gaza, os ataques indiscriminados de Israel deixaram mais de 36 mil mortos e 80 mil feridos até então, além de dois milhões de desabrigados sob crise de fome.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), conforme denúncia da África do Sul, deferida em janeiro. Na semana passada, a corte aceitou novas medidas cautelares para cessar a campanha em Rafah; contudo, sem aval, incluindo um massacre no domingo.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.