A economia de guerra da Rússia está tirando mão de obra da indústria petrolífera, crucial para a economia do país. O Exército e os fabricantes de armas competem com o setor dos hidrocarbonetos para atrair trabalhadores. Muitos homens em idade ativa deixaram o território russo para lutar na Ucrânia ou se refugiaram em outros países.
RFI
Desde o início do conflito na Ucrânia, 150 mil soldados russos morreram, segundo o ministro francês das Relações Exteriores, Stéphane Séjourné, entrevistado na edição europeia do jornal independente russo Novaya Gazeta de 3 de maio. O Ministério da Defesa britânico fala em mais de 450.000 soldados russos mortos ou feridos desde o início da ofensiva em fevereiro de 2022.
Guerra da Ucrânia deixa indústria do petróleo russa sem mão de obra © NATALIA KOLESNIKOVA / AFP |
Mas a tragédia que não afeta apenas as famílias. O alistamento de jovens priva a Rússia de uma mão de obra valiosa.
O setor do petróleo e do gás precisa de cerca de 40 mil profissionais qualificados e não qualificados este ano, de acordo com estimativas da Kasatkin Consulting, uma empresa sediada em Moscou. Ao todo, o número de trabalhadores necessários para fazer funcionar o setor mais do que triplicou em sete anos, segundo análises da Bloomberg.
Os hidrocarbonetos representam 27% do PIB russo e 57% das exportações do país. Além disso, é a indústria do petróleo e do gás que contribui com a liquidez da Rússia para continuar sua ofensiva na Ucrânia.
Apesar das sanções internacionais, as receitas do setor devem aumentar ainda mais este ano (no ano passado foram de € 88 bilhões). A indústria dos hidrocarbonetos também continua sendo um dos setores que pagam os melhores salários na Rússia, pelo menos dois terços acima da média nacional desde 2017, segundo cálculos da Bloomberg baseados em dados do Serviço Federal de Estatísticas.
Mas os altos salários não parecem compensar os oferecidos pelo Exército russo.
Bônus de alistamento para soldados russos
Além de um aumento geral do salário de mais de 10% desde outubro passado, um soldado russo sob contrato recebe um bônus de até 1 milhão de rublos (mais de € 10.000), além de uma gratificação fixa de 195.000 rublos (quase € 2.000), uma soma considerável, quando se sabe que parte da população que vive abaixo do limiar da pobreza.
Existem também muitas oportunidades e cargos bem remunerados na indústria militar. A procura de tanques, veículos blindados e armas disparou desde o início da invasão russa e as fábricas de armas recrutam indiscriminadamente.
No ano passado, a empresa russa de defesa nacional Rostec aumentou os salários em 17,2%, em média, e a Rússia reduziu a idade legal para trabalhar para 14 anos.
As empresas russas de petróleo e gás se esforçam para atrair funcionários, oferecendo salários elevados, além de benefícios. Um trabalhador que realiza missões mensais na Sibéria ou no Ártico contará com “refeições quentes três vezes ao dia” e exames médicos regulares cobertos pelo empregador, de acordo com anúncios de emprego.
Mas o fluxo de mão de obra proveniente do exterior também estancou. Em 2023, a afluência oficial de migrantes estrangeiros para o país foi de quase 110.000 pessoas, apenas um quarto do nível de 2021. Outro fenômeno, que começou com o início do conflito na Ucrânia, foi a imigração de centenas de milhares de russos. O presidente russo Vladimir Putin declarou que o país enfrentará “um déficit de executivos e profissionais qualificados” nos próximos anos.
Manter uma produção lucrativa
No entanto, o setor do petróleo e do gás tem resistido muito bem até agora, apesar das sanções internacionais, graças a uma transferência quase total das exportações para outros países como a China e a Índia, dando a Moscou a liquidez necessária para continuar a liderar a sua ofensiva.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o embargo imposto pela União Europeia não teve impacto no volume das exportações russas de hidrocarbonetos.
Mas a escassez de mão de obra levanta a questão de saber se a indústria russa de petróleo e gás conseguirá manter seu desempenho a longo prazo. “O acesso restrito aos serviços petrolíferos de alta tecnologia ocidentais cria um risco para a manutenção e o aumento da produção e refino lucrativas de petróleo e gás”, segundo Sofia Mangileva, analista da Yakov & Partners em Moscou, citada pela Bloomberg. Já não se trata apenas de operar os equipamentos, mas também de desenvolver a tecnologia de produção necessária para se manter competitivo.