China e Brasil pediram conjuntamente que a solução política da crise na Ucrânia e as negociações de paz sejam realizadas com a participação da Rússia e da Ucrânia, o que mostra a visão dos países em desenvolvimento e fornece uma abordagem viável para resolver a crise em meio a nova ajuda armamentista dos EUA e à "conferência de paz" convocada pelo Ocidente na Suíça, disseram analistas nesta sexta-feira.
Por Zhang Han | Global Times
Wang Yi, membro do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e diretor do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do PCCh, teve uma troca de pontos de vista aprofundada sobre a pressão pela solução política da crise com Celso Amorim, Assessor-Chefe do Presidente do Brasil, em Pequim, na quinta-feira.
China e Brasil emitiram um consenso de seis pontos sobre seu entendimento comum sobre a solução política da crise na Ucrânia na quinta-feira, pedindo a todas as partes relevantes que observem três princípios para desescalar a situação - nenhuma expansão do campo de batalha, nenhuma escalada de combates e nenhuma provocação de qualquer parte - e afirmando que "o diálogo e a negociação são a única saída viável para a crise".
A China e o Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento oportuno que seja reconhecido tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz, informou a agência de notícias Xinhua nesta quinta-feira.
As duas partes acordaram igualmente que são necessários esforços para aumentar a assistência humanitária às regiões relevantes e evitar uma crise humanitária de maior escala; a utilização de armas de destruição maciça, nomeadamente armas nucleares e armas químicas e biológicas, deve ser combatida; os ataques a centrais nucleares e outras instalações nucleares pacíficas devem ser combatidos; e a divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados deve ser combatida.
Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse na coletiva de imprensa de rotina de sexta-feira que a crise na Ucrânia entrou em seu terceiro ano, com efeitos colaterais e alto risco de escalada. A comunidade internacional acredita que a tarefa mais urgente é desescalar a situação e criar condições para o cessar-fogo.
O consenso é proposto pela China e pelo Brasil, mas damos as boas-vindas aos membros da comunidade internacional para apoiar e endossar os entendimentos comuns acima mencionados e desempenhar conjuntamente um papel construtivo na desescalada da situação e na promoção de negociações de paz, disse Wang Wenbin.
Li Haidong, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, disse ao Global Times na sexta-feira que o consenso pode ser visto como um representante do Sul Global, ou do roteiro dos países em desenvolvimento para uma saída para o conflito prolongado.
Apesar dos apelos à paz e à desescalada, os EUA "devem anunciar mais 275 milhões de dólares em ajuda militar para a Ucrânia na sexta-feira", informou a Associated Press. Na segunda-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, se comprometeu a manter as armas dos EUA em movimento para a Ucrânia.
Analistas chineses observaram que as amplas sanções ocidentais contra a Rússia e o envio contínuo de armas para a Ucrânia não conseguiram derrotar a Rússia ou encerrar o conflito, o que demonstrou que a abordagem dos EUA não funciona.
Quanto aos "entendimentos comuns" emitidos pela China e pelo Brasil, não é uma condenação unilateral de nenhum país, mas um apelo construtivo para desescalar a situação e buscar uma solução viável para ela, disse Li, acrescentando que o consenso também abordou como estabelecer um quadro de segurança mais equilibrado e sustentável para a Europa - participação igualitária e discussões justas.
Uma conferência de paz será realizada na Suíça em meados de junho. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vai faltar à conferência porque ela conflita com uma arrecadação de fundos de campanha na Califórnia da qual ele deve participar, informou a Bloomberg na quinta-feira.
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou nesta terça-feira (17) a próxima conferência de paz na Ucrânia como forma de pressionar a Rússia. Putin criticou o fato de a Rússia estar constantemente sendo repreendida por não comparecer, quando o país sequer foi convidado para a reunião.
Alguns meios de comunicação ocidentais também não estão otimistas com a conferência.
A China não confirmou se participará, mas Li disse temer que a próxima conferência de paz seja um palco para tomar partido e, se assim for, não produzirá nenhum resultado significativo, mas pode até arriscar uma escalada ainda maior das tensões.
Enquanto isso, China e Brasil, dois grandes países do Sul Global, estão se coordenando para promover uma visão do Sul Global sobre a questão e defender uma ordem global mais equilibrada e justa, disse Li.
É encorajador ver que os países do "Sul Global" representados pela China e pelo Brasil alcançaram uma ascensão coletiva e promoveram uma estrutura de poder mundial mais equilibrada e razoável, disse Wang Wenbin.