Testemunhas dizem que prédio atingido abrigava civis; Forças de Defesa israelenses não comentaram caso
Mohammad Al Sawalhi, Abeer Salman e Tim Lister | CNN
Hospitais no centro da Faixa de Gaza relataram que 40 pessoas foram mortas em dois ataques aéreos israelenses durante a madrugada.
Ataque israelense em Nuseirat, região central da Faixa de Gaza 14/5/2024 REUTERS/Ramadan Abed |
O hospital Al Aqsa disse ter recebido 29 corpos, nove dos quais eram crianças, enquanto o hospital Al Awda afirmou ter recebido 11 corpos após um segundo ataque.
Isso ocorreu entre 1h e 2h45 da manhã desta terça-feira (14), no horário local, segundo testemunhas.
As equipes de resgate realizavam operações para encontrar corpos sob os escombros de um prédio de quatro andares em Nuseirat que foi destruído no primeiro ataque. Testemunhas destacaram que dezenas de pessoas estavam abrigadas no pátio desse prédio.
Um vídeo obtido pela CNN mostra feridos e mortos sendo levados para o Hospital dos Mártires de Al Aqsa, enquanto outro aquivo mostra os corpos de várias crianças sendo retirados dos destroços.
Membros desesperados da família cercam as pilhas de escombros, esperando para ver se alguém é resgatado com vida. Entretanto, as pessoas no local também lutavam contra a falta de equipamento adequado para remover o material.
A CNN entrou em contato com as Forças de Defesa de Israel (FDI), mas não teve retorno até o momento.
Algumas das pessoas mortas haviam chegado recentemente da cidade de Rafah, segundo pessoas presentes no local.
Uma testemunha, Ashraf Al Jalees, afirmou à CNN no local: “Juro que estes são civis inocentes. Estão todos enterrados no subsolo, incluindo crianças. Há sete meninas aqui. Que culpa eles tiveram?”.
Ele pontuou que montou uma tenda para um amigo, Hassan Obeid, que ele ressaltou não ter “nenhuma afiliação com o Hamas ou qualquer outra pessoa”.
Enquanto chamava por Obeid, Al Jalees acrescentou: “Ele ficou para dormir aqui esta noite, e a casa desabou sobre todos eles… Mais de 50 pessoas estão sob isso, juro por Deus que são todos civis inocentes. Deus vai me questionar um dia se estou mentindo”.
Outro homem, Hamdan Karaja, destacou à CNN: “Os meus filhos, tanto meninas como meninos, estão sob os escombros. Minha esposa também”.
Karaja disse que tinha sete filhos. Ele também comentou que o corpo de seu pai foi recuperado.
“Temos mais de 100 pessoas deslocadas, algumas delas integrando famílias de 20 pessoas. Estão todos presos sob os escombros. Fomos alvejados enquanto dormíamos, sem qualquer aviso prévio”, alegou.
“Também deslocamos tendas de pessoas no pátio. Temos 10 mártires aqui e 20 ali”, colocou.
Rami Al Aida, porta-voz da Defesa Civil no centro de Gaza, ponderou que autoridades estavam “operando em condições extremamente desafiadoras devido à falta de combustível e equipamento”.
“Esperamos encontrar pessoas vivas. Apelamos a todas as organizações internacionais para que forneçam à Defesa Civil as ferramentas, escavadoras e combustível necessários”, adicionou.
Al Aida concordou com as informações de outras pessoas no local de que dezenas de pessoas ainda estavam sob os escombros. “Há mais de quatro famílias presas sob os escombros, além das famílias deslocadas que procuram abrigo dentro e ao redor do prédio. São mais de 100 pessoas”, advertiu.
Uma menina, que se identificou como Sama Alousha ,disse ter ouvido uma explosão por volta da 1h.
“Todos nós entramos em pânico e viemos ver o que aconteceu. Eu vi a casa do meu amigo completamente destruída. Não conseguimos resgatar ninguém. Tenho cinco amigos presos neste lugar”, disse.
Um homem não identificado ressaltou que ele e sua família foram deslocados diversas vezes no território palestino.
“Fomos deslocados de Shajaiya. Nos mudamos para Khan Younis e depois para Rafah, e de Rafah viemos para cá. Meu irmão alugou uma casa aqui e ficou lá com a família”, informou.
“De repente, recebi uma ligação informando que o local onde meu irmão estava hospedado foi atingido. Não há ferramentas para recuperá-los. Eles são uma família de seis pessoas, todos civis inocentes. Meu irmão, sua esposa e quatro filhos”, observou.
Ele então chamou os nomes da família de seu irmão, mas não houve resposta.
Uma mulher que estava no local, Um Mahmoud, disse à CNN: “O meu irmão chegou de Rafah há três dias depois de ter sido deslocado à força e agora não sabemos o seu paradeiro. Ele, junto com sua esposa e cinco filhos, não tem ligações com ninguém”.
“Ele é simplesmente uma pessoa deslocada que veio de Rafah e ainda procurava um lugar para ficar em Deir el Balah”, pontuou.
“Seu nome estava na lista daqueles que deveriam deixar Gaza pela fronteira de Rafah, mas o destino interveio”, acrescentou ela.
Um homem chamado Salah Abu Jarada relatou que seu irmão também veio da região de Rafah. “Eles foram atingidos, com três andares desabando em cima deles. Eles ainda não foram resgatados”, afirmou.
Um segundo ataque ocorreu na escola da UNRWA em Nuseirat cerca de duas horas depois do primeiro, segundo testemunhas.
Ismail Abu Ghosheh disse: “Tudo foi queimado e sete pessoas foram mortas”.
Outro homem da escola, Najah Abu Daher, ressaltou: “Não há lugar seguro para ir. Eles nos seguem onde quer que vamos. Meu filho foi morto, junto com três parentes meus. Eles nos atacaram na calada da noite, fazendo com que crianças corressem por toda parte e vidros quebrassem”.